Quem é ‘Azul’, membro da alta cúpula do PCC suspeito de envolvimento na morte de ex-delegado geral de São Paulo

 

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A Polícia de São Paulo investiga uma possível participação de Fernando Gonçalves dos Santos, conhecido como “Azul” ou “Colorido”, na emboscada que matou o ex-delegado-geral de São Paulo Ruy Ferraz Fontes, na última segunda-feira, em Praia Grande, no litoral sul de São Paulo. Santos seria uma liderança da alta cúpula da facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC) com influência na Baixada Santista e que recentemente deixou o sistema prisional.

Condenado a 28 anos por roubo, receptação, tráfico de drogas e associação à organização criminosa, Azul foi um dos presos transferidos em 2019 da Penitenciária de Presidente Venceslau, em São Paulo, para presídios federais, a pedido do Ministério Público (MPSP), para isolar lideranças do PCC. Ele cumpriu pena em Mossoró (RN) e deixou o presídio no mês passado.

De acordo com o secretário de Segurança Pública de São Paulo, Guilherme Derrite, a investigação não descarta a participação de Azul no assassinato de Fontes. De acordo com o secretário, não há dúvidas da participação da facção criminosa na ação, resta saber se o crime teria sido motivado pela atuação do ex-delegado contra o crime organizado no passado, ou por ações recentes dentro da secretaria de Administração de Praia Grande, na qual Fontes trabalhava.

Príncipe do PCC

Azul também era tio de Allan de Morais Santos, 36 anos, conhecido como “príncipe do PCC”, morto no ano passado por ação da Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar (Rota). Condenado a 22 anos e 10 meses de prisão por tráfico de drogas e tentativa de homicídio, Santos foi morto após resistir uma abordagem da PM durante a Operação Escudo, realizada na Baixada Santista.

O crime

Fontes ficou conhecido por conduzir inquéritos que resultaram na condenação da cúpula do PCC no início dos anos 2000, e atualmente era secretário municipal de Administração de Praia Grande, no litoral paulista, cidade onde ocorreu o crime.

Os assassinos utilizaram dois carros na emboscada, realizada na última segunda-feira. Roubados semanas antes, os veículos foram vistos circulando pela Baixada Santista nos dias que antecederam o crime, como mostrou o Jornal Nacional, da TV Globo. O primeiro automóvel, que perseguiu a vítima, foi recuperado pela polícia pouco depois da execução. Um segundo carro, que teria dado suporte à ação, foi localizado na terça-feira. Peritos conseguiram detectar impressões digitais.

— Esse veículo foi encontrado abandonado, os criminosos não conseguiram atear fogo. Ele estava ligado, e no interior foi coletado material que pode ser usado na identificação dos ocupantes — disse o secretário de Segurança Pública de São Paulo, Guilherme Derrite, durante o velório de Fontes, realizado na Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp).

Já se sabe que pelo menos seis bandidos participaram do assassinato. Um coronel da cúpula da PM afirmou ao GLOBO que a ação foi “coordenada, planejada e com características táticas”. Os executores trajavam coletes à prova de balas, toucas e luvas, o que reforça os indícios de planejamento meticuloso.

Aposentado da Polícia Civil após mais de 40 anos, ele assumiu o cargo de secretário em Praia Grande em 2023. Desde então, teria colecionado desafetos ligados ao setor imobiliário da cidade, marcada por forte presença da facção.

Uma das suspeitas é de que a execução esteja relacionada a Azul. Historicamente baseado na Baixada Santista, o criminoso atua com modus operandi similar ao empregado na morte de Fontes.

A célula da facção responsável por colocar em prática planos de execução de agentes de segurança é chamada de “restrita tática”. De acordo com as autoridades, ela tem em torno de 25 integrantes, todos treinados para atuar com explosivos e atirar com fuzis.

Além de pelo menos uma ameaça mais antiga, Fontes foi citado por criminosos do PCC na mesma ocasião em que a facção jurou de morte o ex-juiz e hoje senador Sérgio Moro e o promotor de Justiça Lincoln Gakiya, do Ministério Público de São Paulo. O nome do ex-delegado-geral, entretanto, não se tornou público. Ele foi avisado pessoalmente que era um dos alvos, mas a informação ficou apenas no âmbito da inteligência do MP. O plano de execução foi descoberto pela Polícia Federal (PF), que deflagrou uma operação para desmobilizar o crime em março de 2023.