Quase 90% das vítimas de letalidade policial em 9 estados são pessoas negras, aponta relatório

 

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Foram mais de 3 mil pretos e pardos mortos por policiais nos locais avaliados em 2024. A cada 24 horas, 11 pessoas foram mortas pelas polícias no ano passado. A Bahia tem a polícia mais letal do país, com mais de 1.500 vítimas, enquanto São Paulo registra um crescimento de 93% na letalidade policial nos últimos três anos. Mais de 86% das vítimas mortas pelas polícias em 9 estados brasileiros no ano passado eram negras, segundo estudo divulgado nesta quinta-feira pela Rede de Observatórios da Segurança. Os números revelam que a cada 24 horas, 11 pessoas foram mortas pelas polícias em 2024, nos estados do Rio de Janeiro, São Paulo, Pernambuco, Bahia, Ceará, Maranhão, Pará, Amazonas e Piauí. O levantamento levou em conta dados obtidos via Lei de Acesso à Informação. Os números mostram que a cor da pele continua sendo um fator determinante para mortes violentas praticadas pelas polícias. No total, foram 4.068 pessoas mortas por policiais nesses estados, 3.556 tiveram a cor da pele identificada, sendo 3.066 vítimas negras. Jovens de 18 a 29 anos representaram 57,1% do total de casos; crianças e adolescentes, de 12 a 17 anos, foram 297 vítimas, além de um caso de uma criança morta que tinha menos de 11 anos.

Esta é a sexta edição do relatório Pele Alvo. Os dados gerais até mostram uma pequena redução, de 4,4%, nas mortes decorrentes de intervenção policial nos últimos seis anos. No entanto, alguns estados destoam. Na Bahia, por exemplo, houve alta de 139% nas mortes por policiais no período e São Paulo vem escalonando de forma preocupante, com crescimento de 93% na letalidade policial em três anos.

Para Ana Paula Rosário, pesquisadora da Rede Observatórios, na Bahia, os números revelam a necessidade de um plano para enfrentar o racismo estrutural nas polícias.

"É preciso que se tenha uma doutrina de garantia de direitos, de profissionalização da atividade, de refundação institucional e, quando nós falamos nisso, nós estamos falando em recriar e reestruturar os aparatos policiais sobre a perspectiva de defesa do Estado, de direito democrático, garantir também o acesso aos direitos humanos, enfim, uma profissionalização qualificada desse profissional".

No Rio de Janeiro, negros têm 4,5 vezes mais chances de serem mortos pela polícia, foram 546 em 2024. Já São Paulo teve o maior aumento de um ano para o outro entre os nove estados — acréscimo de 59,2% nas mortes pelas polícias, com 812 mortes no total. A Bahia mantém a polícia mais letal, com 1.556 mortes. No estado, pessoas negras têm seis vezes mais chances de serem mortas. O Ceará teve, em 2024, o maior número de mortes pela polícia desde 2019, com 189 vítimas — 79,3% eram negras. Em Pernambuco, mais de 92% das vítimas eram negras, enquanto no Piauí, todas as vítimas eram homens e 80,0% das mortes foram causadas pela Polícia Militar.