Promotor alvo de plano do PCC para matar autoridades vive com escolta há 20 anos e já disse temer por sua segurança após aposentadoria
O promotor Lincoln Gakiya, que investiga o crime organizado em São Paulo há mais de duas décadas, era um dos alvos do plano do Primeiro Comando da Capital (PCC) de assassinar autoridades. O Ministério Público de São Paulo (MP-SP) deflagrou nesta sexta-feira (24) uma operação contra o grupo que planejava matar autoridades públicas, e cumpre 25 mandados de busca nas cidades de Presidente Prudente, Álvares Machado, Martinópolis, Pirapozinho, Presidente Venceslau, Presidente Bernardes e Santo Anastácio.
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Gakiya convive com ameaças de morte há 20 anos e, por isso, vive com escolta policial, tem curso de tiro e carro blindado. Era 2005 quando chefes do PCC decretaram sua morte pela primeira vez. Em 2018, ele foi alvo de uma nova ordem de assassinato. Naquele ano, a polícia apreendeu duas cartas cifradas na saída da Penitenciária 2 de Presidente Venceslau, no interior de São Paulo, onde estavam detidos os chefes da facção. Em entrevista ao GLOBO, no ano passado, Gakyia afirmou que temia por sua segurança quando se aposentar, porque não teria direito a segurança depois de deixar o cargo.
Dessa vez, o MP-SP e a Polícia Civil identificaram conversas de WhatsApp, áudios e vídeos que comprovam que eles estavam monitorando a rotina de autoridades que vivem em Presidente Venceslau e em cidades vizinhas. Um dos alvos era Gakiya e, o outro, Roberto Medina, coordenador de presídios na Região Oeste do estado.
As investigações começaram em julho, após a prisão de Vitor Hugo da Silva, o VH, por tráfico de drogas. No celular apreendido com ele, havia um plano para matar Medina e Gakiya. Mensagens mostram que o grupo criminoso tinha um extenso monitoramento da rotina de Medina, com fotos e vídeos de sua casa, de seu carro, e também da rotina de sua esposa.
A investigação também identificou que Sergio Garcia da Silva, vulgo Messi, era um dos responsáveis por mapear autoridades na região de Presidente Venceslau e manter uma levantamento detalhado da rotina dessas autoridades.
Gakiya integra o Grupo de Atuação Especial contra o Crime Organizado (Gaeco) do Ministério Público em Presidente Prudente, uma região que concentra o maior número de presídios do Brasil — são 22, com cerca de 23.300 detentos.
Foi Gakiya quem pediu a transferência da cúpula do PCC para o sistema penitenciário federal, em 2018. Seria a primeira vez que Marco Willians Herbas Camacho, o Marcola, apontado como autoridade máxima da facção, ficaria não só distante de seu estado de origem e berço da organização criminosa, mas também de sua família.
Na avaliação de Gakiya, seria a única forma de efetivamente isolar os presos mais perigosos. Nas cadeias de São Paulo, mesmo nos presídios rigorosos, eles faziam contato rápido via advogados e parentes. Essa era uma demanda do promotor há anos, mas só avançou quando o MP-SP descobriu um plano de resgate de Marcola da prisão, que foi frustrado pelas autoridades. Gakiya assinou o pedido de transferência dos líderes do PCC sozinho, e a partir disso as ameaças contra ele se intensificaram.
Em entrevista ao programa Encontro da TV Globo, nesta sexta, o promotor afirmou que a Polícia Civil e o MP-SP identificaram uma série de prints de conversas sobre o caminho dele de casa até o trabalho.
— A gente está aí nessas apurações para verificar a extensão desse planejamento, para quem essas imagens foram passadas — comentou.
Gakiya entrou para o MP em 20 de dezembro de 1991, um dia antes de completar 25 anos, um “presente de aniversário”. Ele passou 16 anos atuando nas comarcas de Presidente Bernardes e Presidente Venceslau, e viu o PCC crescer e assumir rapidamente o controle das cadeias paulistas. Foi convidado para assumir o Gaeco em 2008, onde se tornou peça chave no combate ao PCC.
