Professora é afastada após mostrar gráfico que associa slogan de Trump à supremacia branca, nos EUA
Uma professora da Universidade de Indiana foi afastada de uma disciplina depois de exibir em sala um gráfico que classificava o slogan “Make America Great Again”, associado ao ex-presidente Donald Trump, como uma forma de supremacia branca velada. O caso ocorreu sob a vigência de uma nova lei estadual que promete incentivar a chamada “diversidade intelectual” nas instituições públicas de ensino.
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A situação veio à tona após um estudante procurar o senador republicano Jim Banks, aliado de Trump. O parlamentar, então, acionou a direção do campus.
O material exibido pela professora é um gráfico amplamente difundido nos EUA: uma pirâmide que reúne exemplos de comportamentos e discursos considerados manifestações explícitas ou implícitas de supremacia branca.
A partir da intervenção do senador, a Escola de Serviço Social suspendeu a professora Jessica Adams das aulas da disciplina “Diversidade, Direitos Humanos e Justiça Social”. Segundo ela, o conteúdo foi interpretado de forma equivocada. Adams, que é professora em tempo integral, segue lecionando outras três turmas enquanto aguarda a conclusão de uma investigação interna que pode resultar em punição adicional ou na sua recondução ao curso.
Em entrevista, ela afirmou temer por seu emprego, mas disse que decidiu falar publicamente sobre o caso por enxergar “censura, sufocamento da liberdade acadêmica e um claro exagero provocado por essa legislação”.
A diretora da Escola de Serviço Social, Kalea Benner, que determinou o afastamento, não respondeu aos pedidos de comentário.
Em nota oficial, a universidade afirmou ser “comprometida com a liberdade acadêmica e com políticas que asseguram o devido processo aos docentes”, mas declarou que não poderia comentar casos individuais.
O senador Banks comemorou o afastamento, dizendo que “ao menos um aluno ficou desconfortável, e é provável que haja mais”. Segundo ele, “esse tipo de retórica de ódio não tem espaço em sala de aula”.
Professores da universidade contestam e afirmam que a denúncia, feita com base na nova lei estadual aprovada no ano passado, se alinha aos interesses do governo Trump. A legislação exige que instituições públicas promovam “diversidade intelectual”, apresentem aos alunos variadas perspectivas políticas e que professores evitem inserir opiniões pessoais alheias ao conteúdo curricular.
Na semana passada, a Associação Americana de Professores Universitários (AAUP) criticou o uso da lei para punir docentes, o fechamento de departamentos de diversidade, as demissões de funcionários da área e ações recentes da administração contra o Indiana Daily Student, jornal estudantil do campus.
Para Maria Bucur, professora de História da Europa Oriental e dirigente da AAUP local, a universidade “perdeu a noção da sua própria missão e do que realmente importa”.
Segundo Adams, seu curso — de pós-graduação e com 24 alunos — discute temas ligados ao racismo porque eles aparecem com frequência no trabalho de assistentes sociais, área que tradicionalmente incorpora debates sobre justiça social.
“Reconhecemos que a supremacia branca é a ideologia que dá sustentação a comportamentos racistas”, afirmou. O gráfico em pirâmide, que inclui dezenas de ações e frases, serve, segundo ela, para mostrar como algumas expressões do racismo são escancaradas, enquanto outras estão presentes no cotidiano de forma quase despercebida.
A lista inclui itens como “não confrontar piadas racistas”, declarações como “não tenho culpa, nunca tive escravos” e ações como “violência policial”. O material, disse Adams, é usado em outras disciplinas do curso de Serviço Social dentro da própria universidade.
Não é a primeira vez que esse gráfico, criado há cerca de 20 anos por uma organização do Colorado voltada à promoção da não violência, causa polêmica no meio acadêmico.
Adams afirma que nenhum estudante reclamou diretamente com ela sobre a aula. Tampouco o aluno que procurou o senador registrou denúncia formal na instituição. Na documentação interna, a diretora da escola aparece como autora da queixa, baseada no relato enviado pelo gabinete de Banks.
Ela também disse que, segundo a diretora, o estudante reclamou especificamente do fato de o slogan “Make America Great Again” aparecer na pirâmide acima do item “violência policial”, o que sugeriria que seria algo “pior”. A professora nega, afirmando que a ordem dos elementos no gráfico não indica hierarquia.
