Professor da Unesp demitido após acusações de assédio estava em surto e tem transtornos, diz defesa
A Universidade Estadual de São Paulo (Unesp) demitiu na semana passada um professor que foi acusado por mais de 40 alunos de praticar assédio, racismo e misoginia durante aulas no campus de Marília da instituição. Nesta segunda-feira (17) a defesa do docente divulgou uma nota sobre o caso, afirmando que Rafael Salatini de Almeida estaria em surto e que foi diagnosticado com transtornos.
O escritório Dantas & Santana afirma que Almeida é portador de Transtorno Afetivo Bipolar e da Síndrome de Asperger, sendo essa última uma das formas do transtorno do espectro autista.
Segundo os advogados, o diagnóstico foi "provado nos autos administrativos" do processo que culminou com a demissão do professor e "atestado pela perícia técnica da Unesp [...] A psiquiatria da Unesp atestou que, no período dos fatos ocorridos, o docente estava em surto, com prejuízo efetivo de sua capacidade laboral e de seu discernimento. Diante desta perspectiva, esperava-se que a Unesp acolhesse o parecer técnico e propusesse um Termo de Ajuste de Conduta", afirma o escritório.
A defesa afirma ainda que "buscará a reversão dos fatos nas instâncias ordinárias". O GLOBO procurou a Unesp para comentar as alegações da defesa do professor. A universidade informou que "manifestações sobre prontuário são protegidas por sigilo médico".
Rafael Salatini de Almeida teve a demissão publicada no Diário Oficial do estado na última quarta-feira, 12. Ele tinha o cargo de professor assistente doutor e atuava no Departamento de Ciências Políticas e Econômicas da Faculdade de Filosofia e Ciências de Marília, e foi alvo de um processo administrativo, que terminou com o desligamento por justa causa.
As denúncias foram encaminhadas pelos alunos em maio de 2024. Na ocasião, representantes do centro acadêmico enviaram um documento com 44 relatos anônimos de estudantes que narraram comportamentos do professor em sala de aula.
Os supostos episódios incluem comentários e perguntas do professor aos alunos sobre relações sexuais, além de comentários misóginos. Em uma das ocasiões ele teria questionado um estudante quanto ele cobraria para a realização de sexo anal.
O docente também teria se insinuado para alunas e questionado a um aluno negro se ele "tomava banho". Em outro episódio o professor teria dito que caso dois alunos tivessem um relacionamento, um deles seria capaz de cometer violência doméstica.
"Apesar de já se saber que tais práticas são de longa data, contudo, as condutas do docente estão cada vez piores", diz o texto do documento encaminhado pelo centro acadêmico.
A Unesp informou na semana passada, por meio de nota, que Almeida foi desligado por justa causa por "procedimento irregular de natureza grave" e "ato de improbidade e conduta moralmente questionável" após a conclusão da comissão que apurou o caso em um processo administrativo disciplinar.
A demissão foi celebrada no Instagram do centro acadêmico. "Hoje comunicamos que atingimos nossa pauta máxima neste processo que se desdobra desde o ano passado", diz o texto.
