Professor brasileiro detido após disparar arma de chumbinho perto de sinagoga se declara culpado e vai deixar os EUA
Professor de Direito da USP e professor visitante de Harvard, o advogado Carlos Portugal Gouvêa se declarou culpado de disparar uma arma de pressão perto de uma sinagoga em Massachusetts, em 1º de outubro, véspera do Yom Kippur, e foi detido por autoridades de imigração dos Estados Unidos. Ele concordou em deixar os Estados Unidos, de acordo com informações confirmadas pelo Departamento de Segurança Interna dos EUA nesta quinta-feira.
O incidente aconteceu na cidade de Brookline, no estado de Massachusetts. Segundo a Reuters, o brasileiro foi preso nesta quarta-feira pelo Serviço de Imigração e Alfândega dos Estados Unidos (ICE) após seu visto temporário de não imigrante ter sido revogado pelo Departamento de Estado americano. O governo de Donald Trump rotulou o episódio como um "incidente de tiro antissemita", apesar de as autoridades locais terem adotado versão divergente.
Após o episódio, o brasileiro foi colocado por Harvard em licença administrativa. Procurada pela Reuters, a instituição não se manifestou sobre o andamento do caso. A agência reportou que o governo Trump pressionou Harvard a chegar a um acordo em meio a acusações de que a entidade da Ivy League não teria feito o suficiente para combater o antissemitismo.
O GLOBO tenta contato com Carlos Portugal Gouvêa.
Nas redes sociais, a própria sinagoga Beth Zion afirmou que o caso do brasileiro "não parece ter sido alimentado pelo antissemitismo".
"Pelo que a polícia nos disse inicialmente, o indivíduo não sabia que morava próximo de uma sinagoga e que estava atirando com sua espingarda de ar comprimido ao lado de uma, ou que era um feriado religioso", relataram na mensagem Larry Kraus e Benjamin Maron, referindo-se ao Yom Kippur, data sagrada do judaísmo.
O brasileiro foi detido após ser visto disparando uma arma de ar comprimido. Aos policiais, ele relatou que estava caçando ratos. Um dos tiros efetuados por Gouvêa teria quebrado a janela de um carro. Ninguém ficou ferido.
Brasileiro que dava aulas em Harvard é detido após disparar arma de chumbinho perto de sinagoga
Reprodução
Segundo a sinagoga, após ouvirem o primeiro disparo, funcionários colocaram o templo em confinamento.
“Foi extremamente importante que as centenas de membros da nossa comunidade presentes naquela noite ouvissem, mantivessem a calma e permanecessem no santuário durante todo o incidente. Isto evitou que uma segunda situação se desenvolvesse – pessoas correndo para sair de uma forma desorganizada e potencialmente perigosa”.
A USP também publicou nota sobre o ocorrido, na época da primeira detenção. A instituição de ensino superior destacou que a sinagoga fez uma publicação "afastando, por completo, ter se tratado de ocorrência antissemita". O comunicado acrescentou que "o professor tem afinidades, inclusive laços familiares, com a comunidade judaica" e "histórico posicionamento em defesa dos Direitos Humanos".
"O Professor Carlos Portugal Gouvêa, do Departamento de Direito Comercial, tem atividade acadêmica pautada pela competência técnica, dedicação à docência e à pesquisa e elevado profissionalismo. Por tudo isso, a Faculdade de Direito da USP repudia as insinuações maldosas e distorcidas lançadas contra o seu docente, Professor Carlos Pagano Botana Portugal Gouvêa", finaliza a nota assinada pelo diretor da Faculdade de Direito da USP, Celso Fernandes Campilongo.
O brasileiro foi acusado de "disparo ilegal de arma de chumbo, conduta desordeira, perturbação da paz e vandalização de propriedade". Ele se declarou culpado de disparar o armamento, e as outras acusações que ele enfrentava foram retiradas como parte do acordo judicial.
