Procon vê possível venda casada em promoção de ingressos do Santos com casa de apostas
Campanha que condicionava acesso ao jogo a apostas na 7K Bet pode resultar em multa ao clube e à empresa; caso também é investigado pelo Ministério da Fazenda. Na noite de quarta-feira, nem todos que acompanharam a vitória do Santos contra o Corinthians na Vila Belmiro conseguiram seus ingressos na bilheteria — alguns garantiram o acesso apostando na 7K Bet, patrocinadora master do clube.
A ação foi fruto de uma campanha que oferecia um ingresso para quem apostasse ao menos R$ 70 no site da casa de apostas. O passo a passo foi divulgado nas redes sociais do clube: só teria direito ao bilhete quem realizasse o pagamento e a aposta.
Procurado pela reportagem, o Procon afirmou que a campanha pode configurar venda casada, caso — no momento da publicidade — a única forma de acesso ao ingresso tenha sido por meio de apostas na plataforma.
Se for comprovada a infração, clube e empresa podem ser multados com base no Código de Defesa do Consumidor.
O caso também entrou na mira do Ministério da Fazenda. A Subsecretaria de Monitoramento e Fiscalização da Secretaria de Prêmios e Apostas instaurou um processo para apurar possíveis violações à Portaria do Jogo Responsável, que proíbe operadoras de oferecer vantagens que possam induzir ao jogo.
Para o advogado William Maschke, do escritório Maschke & Garcia Advogados, a ação traz elementos claros de ilegalidade.
“Esse caso do Santos com a 7KBet é um exemplo clássico de venda casada indireta. O torcedor foi obrigado a contratar um serviço de jogo para ter acesso ao ingresso. Isso fere a liberdade de escolha e caracteriza prática abusiva. Tanto o clube quanto a casa de apostas podem responder solidariamente.”
Além das implicações legais, especialistas alertam para o impacto de saúde pública. O psiquiatra Rodrigo Machado, pesquisador do Instituto de Psiquiatria da USP, afirma que atrelar experiências emocionais intensas — como assistir a um clássico — a uma prática de risco aumenta a vulnerabilidade de torcedores, especialmente os mais jovens.
“Cada vez mais a gente vê ações de marketing que exploram vulnerabilidades psicológicas da população para aumentar o engajamento com uma prática sabidamente reconhecida como passível de adoecimento. Quando você condiciona o acesso ao ingresso a um comportamento com potencial aditivo, isso é extremamente preocupante.”
Em nota, o Santos declarou que apenas cumpriu obrigações contratuais de marketing, não tem ingerência sobre o conteúdo ou a forma das promoções, e se colocou à disposição das autoridades.
Torcedores que se sentirem lesados podem acionar o Procon-SP ou o Ministério da Fazenda, responsável por fiscalizar o setor de apostas.
Procurado pela CBN, a 7KBet não respondeu até o fechamento desta reportagem.
