Presidente hondurenha denuncia 'manipulação' de resultados eleitorais e a interferência de Trump

 

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A presidente de Honduras, Xiomara Castro, denunciou nesta terça-feira a "manipulação" dos resultados eleitorais em seu país e condenou a "interferência" do presidente americano, Donald Trump, no pleito por declarar apoio público a um candidato de direita. Em meio à expectativa pelo resultado, um porta-voz do Departamento de Estado dos EUA declarou nesta segunda-feira que as eleições presidenciais hondurenhas foram justas e "não há evidências críveis" que sugiram que devam ser anuladas.

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Com a apuração dos votos presidenciais próxima do fim, o conservador Nasry Asfura, favorito de Trump, lidera por uma pequena margem sobre o também direitista Salvador Nasralla, que alega ser vítima de "fraude".

— O povo foi às urnas e participou com bravura e decisão, mas vivenciamos um processo marcado por ameaças, coerção, manipulação do TREP (sistema de apuração preliminar) e distorção da vontade popular — afirmou Castro durante um evento público na cidade de Catacamas, sua primeira declaração após as eleições. — Essas ações constituem um golpe eleitoral em curso que denunciaremos em fóruns internacionais.

Castro acrescentou que os resultados das eleições "estão manchados" desde o início da campanha. Na última contagem, com 88,6% dos votos apurados, Asfura, do Partido Nacional (PN, conservador), tinha 40,19% dos votos, contra 39,49% de Nasralla, segundo o Conselho Nacional Eleitoral (CNE). A disputa permanece indefinida, mas, na noite de segunda-feira, Asfura havia assumido a dianteira, com 97% das urnas apuradas.

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A candidata do partido governista de esquerda, Rixi Moncada, que também denunciou "fraude", aparece em um distante terceiro lugar, atrás dos favoritos. As eleições presidenciais hondurenhas, realizadas no dia 30 de novembro, foram marcadas por atrasos na contagem dos votos devido a sucessivas falhas nos computadores.

— Condeno a interferência do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, quando ameaçou o povo hondurenho dizendo que, se votassem em uma candidata corajosa e patriótica do partido Libre, Rixi Moncada, haveria consequências — declarou a presidente.

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Perdão e prisão para o ex-presidente

Nesta segunda-feira, o procurador-geral de Honduras, Johel Antonio Zelaya Alvarez, afirmou em publicação nas redes sociais que emitiu um mandado de prisão para o ex-presidente Juan Orlando Hernández, que foi libertado semana passada da prisão federal onde estava detido nos EUA após receber indulto de Trump. Hernández havia sido condenado nos Estados Unidos a 45 anos de prisão por narcotráfico.

O procurador escreveu no X que havia pedido às agências governamentais e à agência policial global Interpol que prendesse Hernández, que é acusado de lavagem de dinheiro e fraude.

“Fomos dilacerados pelos tentáculos da corrupção e por redes criminosas que marcaram profundamente a vida do nosso país”, declarou Zelaya.

A promessa de Trump, anunciada no dia 28 de novembro, foi concedida horas depois de ele ter recebido uma carta bajuladora na qual o ex-presidente de Honduras se colocava como vítima de “perseguição política” por parte do governo de Joe Biden. A carta de quatro páginas tinha data de 28 de outubro, mas foi entregue a Trump naquela semana por Roger J. Stone Jr., conselheiro político de longa data do republicano.

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O indulto causou alvoroço antes mesmo de ser oficializado por sugerir uma prática controversa do governo Trump: enquanto os EUA intensificam ataques contra embarcações que Washington classifica como suspeitas de narcotráfico, o presidente americano concede perdão a Juan Orlando Hernández — que, segundo promotores, foi peça-chave em um esquema que durou mais de 20 anos e levou mais de 500 toneladas de cocaína para os Estados Unidos.

Hernández governou Honduras entre 2014 e 2022, período marcado por escândalos de corrupção. Ele esteve no centro da turbulenta eleição de 2017, quando conquistou um segundo mandato apesar da proibição constitucional da reeleição. A vitória contestada desencadeou protestos, a mobilização do Exército e um período de violência que deixou quase duas dezenas de mortos.

(Com AFP)