Presidente da Sérvia nega envolvimento em suposto ‘safári humano’ durante Guerra da Bósnia

 

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O presidente da Sérvia, Aleksandar Vucic, negou nesta semana qualquer envolvimento em um suposto esquema de “safári humano” durante o cerco de Sarajevo, na guerra da Bósnia. A acusação foi apresentada a promotores italianos por um jornalista croata, que afirma que vídeos dos anos 1990 e testemunhos de autoridades bósnias indicariam que Vucic atuou como “voluntário de guerra” em posições sérvio-bósnias que dominavam a cidade sitiada.

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Em discurso durante uma conferência empresarial Reino Unido–Bálcãs Ocidentais, em Belgrado, Vucic afirmou que nunca matou, feriu ou fez nada semelhante, e disse jamais ter segurado um rifle de precisão. Segundo ele, fotos que circulam como suposta prova mostram, na verdade, um “tripé de câmera”. O presidente acusou o jornalista croata de tentar apresentá-lo como “um monstro” e “um assassino a sangue-frio”.

Mais de 11 mil pessoas morreram nos quatro anos do cerco de Sarajevo, quando a cidade ficou cercada por forças sérvias e exposta a bombardeios constantes e disparos de franco-atiradores.

A denúncia que motivou a investigação italiana cita o documentário esloveno Sarajevo Safari, de 2022, que aborda a alegação de que estrangeiros ricos teriam pago para atirar em civis durante a guerra. O escritor italiano Ezio Gavazzeni afirma que italianos e outros estrangeiros teriam desembolsado grandes quantias para participar desses “safáris de franco-atiradores”.

As acusações específicas contra Vucic já haviam sido rejeitadas por sua porta-voz, Suzana Vasiljevic, que classificou o caso, em entrevista ao The Times, como “um exemplo clássico de desinformação maliciosa”. Ela disse que a narrativa busca “erosão da credibilidade institucional da Sérvia e de seu presidente”, e que Vucic trabalhava na época como jornalista e tradutor em Pale, “sem contato com estruturas militares”.

Vasiljevic reiterou que Vucic “não participou de ações de combate, não usou armas e não teve papel algum em operações de guerra”. Acusações semelhantes de “caçadores de humanos” estrangeiros já surgiram ao longo dos anos, mas o procurador-chefe do Mecanismo Residual Internacional para Tribunais Criminais, em Haia, disse à BBC que não há informações que sustentem o caso.

A procuradoria de crimes de guerra da Bósnia recebeu uma queixa em 2022, mas não apresentou denúncia. Tropas das forças especiais britânicas que atuaram em Sarajevo durante o cerco afirmaram à rede britânica que consideram as acusações um “mito urbano”.