Presidente da COP30 promete mapa paralelo contra combustíveis fósseis: 'Sabemos que muitos de vocês tinham mais ambição'
O presidente da COP30, André Corrêa do Lago, afirmou neste sábado — durante a plenária de encerramento da conferência — que irá criar dois "mapas do caminho" enquanto estiver no cargo: um para reverter desmatamento e fazer transição para longe dos fósseis. A promessa é uma iniciativa paralela da presidência da COP, não estando presente no texto final do evento.
— Sei que todos estão cansados. Sabemos que muitos de vocês tinham mais ambição para alguns temas e que a sociedade vai exigir mais. Eu prometo que vou tentar não desapontar vocês. Nós precisamos de mapas para que possamos ultrapassar a dependência dos fósseis de forma ordenada e justa — disse Corrêa do Lago.
Para Carolina Pasquali, a diretora executiva do Greenpeace Brasil, o anúncio é como um "prêmio de consolação":
— A decisão da Presidência de criar os dois mapas do caminho - tanto para zerar o desmatamento quanto para o fim dos combustíveis fósseis - tem gosto de prêmio de consolação. É claro que isso permitirá que o trabalho siga no ano que vem, e que o momentum criado em Belém não se perca. Devemos seguir, mas é importante que esses mapas do caminho mostrem mais do que apenas uma direção. E que a COP31 dê continuidade a esse trabalho nas negociações formais no ano que vem.
Uma versão negociada do "Mutirão Global", o principal texto decisório da COP30 está em votação. O texto não menciona a descontinuação do uso de combustível fóssil, frustrando as expectativas nutridas pelo presidente Lula.
O texto de oito páginas, construído a partir de uma demanda de países que reclamaram de itens importantes que estavam fora da agenda oficial da COP30, nem sequer menciona a expressão "fóssil", algo que alguns analistas leem como retrocesso em relação a decisões de outras conferências.
Uma outra omissão já esperada no texto é o chamado de alguns países que queriam antecipara a revisão das chamadas contribuições nacionalmente determinadas (NDCs), as promessas oficiais de redução de emissões gases do efeito estufa de cada nação. As NDCs atuais são insuficientes para conter o objetivo de conter o aumento de temperatura a no máximo 1,5°C, e alguns países queriam antecipar as novas revisões previstas para 2030.
Uma das decisões esperadas que foram, entregues, com alguma ressalva, é em torno de como implementar o artigo 9.1 do Acordo de Paris, que fala de financiamento do combate à crise do clima entre países pobres. O "Mutirão" estabelece uma agenda de dois anos para abordar o problema.
De maneira sutil, o texto "acolhe" e "toma nota" dos esforços das presidências de COP do Brasil e do Azerbaidjão para "trabalhar juntos" e discutir a elevação da meta de financiamento global anual de US$ 300 bilhões para US$ 1,3 trilhão até 2030.
Outra entrega que pode se considerar parcialmente feita é um chamado para que se triplique o volume de recursos destinados à adaptação climática. O valor passaria de US$ 40 bilhões por ano para US$ 120 bilhões por ano até 2025.
Em um texto distinto sobre o Objetivo Global de Adaptação (GGA), que deve ser votado separadamente, a COP30 também deve entregar um dos seus principais objetivos "mandatados". Esse eram um tópico que estava efetivamente na agenda oficial inicial, o de definir quais são os indicadores usados para medir o progresso na direção dessa meta.
O texto do GGA encolheu de 100 para 59 os indicadores propostos, algo defendido por países em desenvolvimento, que não tem verba e capacidade técnica para fazer o monitoramento de todos os critérios a serem analisados. Está definido quais serão os tópicos de resiliência em saúde, saneamento, agricultura e outros temas, que o planeta precisa começara a medir.
