Presidente da CBF projeta discussões sobre gramado sintético no Brasil; Flamengo pede padronização
Calendário, arbitragem, gramados. O ano de 2026 promete diversas mudanças no futebol brasileiro e é o que busca o presidente da CBF, Samir Xaud. Durante o Prêmio Brasileirão 2025, realizado na Zona Sul do Rio de Janeiro na noite desta segunda-feira, ele passou a limpo tudo que a entidade pensa para a próxima temporada e garantiu estar de olho em todos os assuntos estruturais.
— Os ajustes das datas do calendário, o ano todo esticado. Estamos trabalhando focados nisso desde o anúncio de a mudança de todo o calendário brasileiro. A gente quer, cada vez mais, melhorar o nosso produto, deixar um campeonato mais rico, digno, justo com o clube e com os jogadores — disse Samir.
— Nós mexemos em assuntos estruturais de todo o futebol brasileiro: fair play e arbitragem, que foi o último assunto importante que nós começamos a tratar. Mas, desde o primeiro mês de gestão, nós já estamos investindo em arbitragem, educação continuada, coisas que não estavam sendo feitas. Colocamos também a questão do nosso impedimento semiautomático para o ano que vem. Essas mudanças não ocorrem de uma hora para outra, não é só ligar e desligar um disjuntor, mas estamos mexendo em todos os assuntos — completou o presidente da CBF.
Samir também foi perguntado sobre a utilização de gramados sintéticos no Brasil. Neste momento, preferiu delegar a escolha para cada clube, mas disse que a discussão futura sobre o assunto será inevitável.
— É uma questão de cada clube. Cada clube tem o seu estádio e o seu campo. Gramado é uma coisa que ainda vamos parar para sentar e discutir. Há clubes que têm gramados semi-sintéticos e clubes com naturais. Cada um vai defender o seu lado. Vai chegar uma hora que vamos ter de sentar e discutir isso — afirmou.
Flamengo vai à CBF
Na noite de hoje, o Flamengo protocolou à CBF uma proposta de padronização dos gramados no país. O presidente da CBF disse que não recebeu este documento.
Nele, o rubro-negro apresentou a proposta chamada "Programa de Avaliação e Monitoramento da Qualidade de Gramados do Futebol Brasileiro", que reúne sugestões voltadas a elevar a qualidade dos campos, aprimorar a prática esportiva e aproximar o futebol nacional da primeira prateleira do esporte mundial.
"Agora, o Flamengo aguarda a formalização do grupo de trabalho que irá aprofundar o tema, permitindo que as discussões e deliberações ocorram em tempo hábil para o início das competições da próxima temporada", diz trecho da nota.
Pontos apresentados pelo Flamengo:
O Flamengo entende que os gramados artificiais não oferecem condições adequadas para um futebol de alto rendimento. Nas principais ligas europeias, esse tipo de superfície é proibido, e também não é utilizado nas principais ligas sul-americanas (Argentina, Uruguai e Colômbia). Não há nenhum país que já tenha conquistado uma Copa do Mundo que aceite gramados de plástico, só o Brasil. Em levantamento realizado pelo Clube, não foi identificado nenhum jogo de primeira divisão nessas ligas, na temporada 2025, disputado em gramado artificial.
A preocupação com os gramados artificiais não é exclusiva do Flamengo. Os jogadores, principais protagonistas do esporte, vêm se manifestando publicamente contra o uso desse tipo de superfície em competições de alto nível e, em alguns casos, chegam a se recusar a atuar nesses campos. Esse cenário acende um alerta para o risco de que atletas de ponta, brasileiros ou estrangeiros, deixem de considerar atuar no futebol brasileiro justamente pelas condições do piso de jogo.
Adicionalmente, existem vários estudos listados no material entregue pelo Flamengo que demonstram claro indicativo que esse tipo de superfície é prejudicial à saúde, aumentando o número de lesões e causando demais problemas pelo contato com o plástico.
Considerando que as principais justificativas para o uso de gramados sintéticos são a redução de custos e a realização de shows e eventos, e buscando evitar prejuízos imediatos aos clubes que hoje utilizam esse tipo de superfície, o Flamengo propõe a adoção de um período de transição. A sugestão é que os gramados artificiais sejam substituídos na Série A até o final de 2027 e, na Série B, até o final de 2028, garantindo tempo adequado de adaptação sem comprometer a qualidade esportiva.
Mesmo durante o período de transição, a qualidade dos gramados de plástico precisa ser aprimorada. O Flamengo sugere a adoção de um padrão mínimo de qualidade para superfícies sintéticas, contemplando critérios como tipo e material da fibra, altura da grama, densidade de pontos, camada de amortecimento, tipo de preenchimento e coloração.
Da mesma forma o Flamengo entende que não adianta apenas proibir gramados de plástico, mas também determinar um padrão de qualidade mínimo para gramados naturais, seguindo normas rígidas utilizadas pela Fifa e pela Uefa, adaptadas às especificidades do futebol brasileiro.
O Flamengo apresentou ao grupo de trabalho um documento robusto que propõe padrões técnicos mínimos para a verificação da qualidade dos gramados, quaisquer que sejam o seu tipo, incluindo testes de rolagem da bola, absorção de impacto, rigidez da superfície, entre outros. Atualmente, não há um protocolo de avaliação para que estádios com gramados naturais ou de plástico recebam partidas organizadas pela CBF com a garantia de que, independentemente do estádio, o futebol brasileiro seja jogado de forma igualitária, dentro dos padrões internacionais mais rigorosos, o que reforça a necessidade de regulamentação.
Em complemento, o Flamengo propõe a adoção de padrões mínimos de infraestrutura válidos tanto para gramados naturais quanto para gramados sintéticos — incluindo sistemas de irrigação e drenagem, equipamentos adequados de manutenção, especificação da base estrutural, tipo de grama ou fibra, controle de pragas e doenças e nivelamento. O objetivo é garantir que, a partir de 2026, qualquer campo de jogo ofereça comportamento uniforme na interação bola-superfície e jogador-superfície.
