Presença de María Corina Machado na cerimônia do Prêmio Nobel é dúvida após cancelamento de coletiva de imprensa

 

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As dúvidas sobre a presença da líder da oposição venezuelana, María Corina Machado, na cerimônia do Prêmio Nobel da Paz aumentaram nesta terça-feira, após o cancelamento de uma coletiva de imprensa agendada em Oslo. Dezenas de venezuelanos exilados viajaram para a capital norueguesa para apoiar a líder da oposição de 58 anos, que vive escondida desde agosto de 2024 e não é vista em público desde janeiro. Outros líderes sul-americanos críticos do regime de Nicolás Maduro também viajaram à Noruega para prestigiar Machado na cerimônia.

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O Instituto Nobel havia anunciado no fim de semana que Machado compareceria para receber o prêmio, que inclui uma medalha de ouro, um diploma e US$ 1,2 milhão (R$ 6,5 milhões). Mas, na terça-feira, o Instituto primeiro adiou a coletiva de imprensa marcada para as 13h no horário local (9h no horário de Brasília) e depois a cancelou definitivamente. O Prêmio Nobel da Paz à líder da oposição venezuelana foi anunciado em 10 de outubro "por seu trabalho incansável em defesa dos direitos democráticos do povo venezuelano e por sua luta por uma transição justa e pacífica da ditadura para a democracia".

— A própria María Corina Machado disse o quão difícil tem sido vir à Noruega — afirmou o porta-voz do Instituto Nobel, Erik Aasheim. — Esperamos que ela compareça à cerimônia do Prêmio Nobel da Paz na quarta-feira, na Prefeitura de Oslo.

A ex-chefe de campanha de Machado sugeriu nesta terça-feira que a líder da oposição já havia deixado a Venezuela, mas que retornaria.

"Como podemos pensar que María Corina não voltará e permanecerá exilada?" disse Magalli Meda em um comunicado publicado no X.

Em novembro, o Procurador-Geral da Venezuela alertou à AFP que a ganhadora do Prêmio Nobel da Paz seria considerada "fugitiva" caso deixasse o país.

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Familiares e aliados em Oslo

Com o paradeiro da protagonista envolto em mistério, familiares, aliados políticos e alguns presidentes latino-americanos aguardam a chegada de Machado a Oslo. Durante a tarde, chegaram à capital norueguesa o líder da oposição Edmundo González Urrutia, candidato à presidência em 2024 e exilado na Espanha, e o presidente argentino Javier Milei. Também foram convidados para a cerimônia outros líderes conservadores que fazem oposição ao governo de Maduro, os presidentes do Panamá, José Raúl Mulino, do Equador, Daniel Noboa, e do Paraguai, Santiago Peña.

O ultraliberal presidente argentino, aliado de Machado desde as eleições do ano passado viajou a Oslo acompanhado de sua irmã e secretária da Presidência, Karina Milei, e o chanceler, Pablo Quirno. Em 2024, Milei voltou a chamar Maduro de ditador e exigiu que ele "reconhecesse a derrota após anos de socialismo, miséria, decadência e morte". As críticas abertas ao regime chavista têm sido parte fundamental da política externa do argentino ao longo de seu mandato.

No Grand Hotel, onde os laureados com o Nobel costumam se hospedar, a mãe da premiada, Corina Parisca, suas irmãs e pelo menos dois de seus três filhos disseram não saber onde ela estava, mas estavam confiantes de sua chegada.

— Se Deus quiser, acontecerá — repetiam familiares e admiradores anônimos que aguardavam do lado de fora do hotel para ver "se ela aparece".

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Envolto em uma bandeira venezuelana, Helvin Urbina, um ex-funcionário venezuelano de 53 anos que vive na Espanha, passou a terça-feira esperando pela "heroína, a mulher de ferro". Mas, para alguns, o prêmio é ofuscado pelo apoio de Machado às operações militares dos EUA no Caribe e no Pacífico, que mataram pelo menos 87 pessoas em ataques a barcos apontados pelos americanos como suspeitos de narcotráfico.

— A Venezuela precisa da sua liderança e da coalizão internacional que foi formada (...) que está cortando as fontes de financiamento criminoso que sustentam este regime — declarou Machado em entrevista à AFP após o anúncio do prêmio.

Assim como ela, Noboa atua como aliado do presidente dos EUA, Donald Trump, e apoia as ações militares dos Estados Unidos na região e chegou a convocar um referendo a fim de consultar os equatorianos sobre a possibilidade de instalar bases militares estrangeiras no país. A proposta, no entanto, foi rejeitada pelo eleitorado. Nesta terça-feira, o presidente americano afirmou em entrevista ao Político que os dias de Maduro no poder "estão contados".

Em Oslo, grupos pacifistas e figuras da esquerda norueguesa protestaram na tarde de hoje em frente ao Instituto Nobel, com os slogans: "Não ao Prêmio Nobel da Paz para belicistas" e "EUA, tirem as mãos da América Latina!".

No Centro Nobel da Paz, o museu dedicado à premiação, encontra-se a exposição "Democracia à beira", em homenagem à trajetória da líder venezuelana. O chefe de exposições do local, Henrik Treimo, admitiu à Bloomberg que a escolha de Machado como laureada de 2025 gerou "atenção incomum e reações fortes" e reconheceu que a premiação "provocou debate e críticas na Noruega e internacionalmente".

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Onze meses de mistério

Engenheira de formação, Machado entrou na clandestinidade após as eleições presidenciais de julho de 2014, que levaram à reeleição do presidente venezuelano. A líder da oposição, impedida de concorrer nas eleições, alegou que Maduro fraudou a eleição contra seu candidato, Edmundo González, e publicou cópias dos votos depositados nas urnas eletrônicas como prova de fraude. O chavismo rejeitou essas acusações, mas os Estados Unidos, a União Europeia e diversos países latino-americanos não reconhecem sua reeleição.

Machado não aparece em público há 11 meses, desde que participou de um protesto em Caracas contra a posse de Maduro para seu terceiro mandato.

No mesmo dia da cerimônia de premiação de Machado, o chavismo realizará manifestações em Caracas, anunciou na segunda-feira o ministro do Interior da Venezuela, Diosdado Cabello. Questionado sobre a viagem da laureada à Noruega, Cabello afirmou:

— Com relação a Oslo, não sei, não sabemos nada sobre isso, não participamos dessa licitação, é uma licitação, quem der o melhor lance leva — ironizou um dos principais expoentes do chavismo ao ser questionado sobre informações que indicam a presença de Machado na cerimônia de entrega do Prêmio Nobel da Paz. — Temos o melhor dos prêmios, este povo, o melhor dos prêmios é deste povo, é a tranquilidade em que vivemos e construímos nosso próprio destino, com nossas próprias mãos, não sabemos.