Prêmio Jovem Cientista anuncia vencedores com destaque para projetos de enfrentamento às mudanças climáticas

 

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Com o tema “Resposta às Mudanças Climáticas: Ciência, Tecnologia e Inovação como Aliadas”, o 31º Prêmio Jovem Cientista teve seus vencedores anunciados nesta quarta-feira, em Brasília. Entre as iniciativas contempladas estão propostas para fortalecer a resiliência de municípios, um kit portátil de energia solar e um sistema que combina a sabedoria dos profetas das chuvas com inteligência artificial (IA).

A edição de 2025 celebrou pesquisas voltadas à redução de impactos ambientais, ao enfrentamento de eventos extremos e ao desenvolvimento de estratégias de adaptação. Criado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) em parceria com a Fundação Roberto Marinho, o prêmio conta com patrocínio master da Shell e apoio de mídia da Editora Globo e do Canal Futura.

Os primeiros colocados de cada categoria foram Elizângela Aparecida dos Santos (Mestre e Doutor), Manuelle da Costa Pereira (Ensino Superior) e Raul Victor Magalhães Souza (Ensino Médio). As categorias Mérito Institucional e Mérito Científico também foram premiadas.

Os prêmios incluem laptops, bolsas do CNPq e valores entre R$ 12 mil e R$ 40 mil. Ao todo, 919 trabalhos foram inscritos — 352 na categoria Mestre e Doutor, 211 no Ensino Superior e 356 no Ensino Médio.

Profetas das chuvas

O trabalho vencedor do Ensino Médio uniu tradição e tecnologia ao criar um sistema que combina a sabedoria popular dos profetas das chuvas do semiárido cearense com ferramentas de inteligência artificial. Desenvolvido pelo estudante Raul Victor Magalhães Souza, de 16 anos, o projeto alcançou precisão de 94,5%, índice cinco vezes superior ao de sistemas convencionais de monitoramento climático.

Orientado pelo professor Helyson Lucas Bezerra Braz, Raul criou o sistema “Inteligência Artificial dos Profetas das Chuvas”, baseado em aprendizado de máquina e construído com interface em Streamlit, biblioteca de código aberto em Python. A ferramenta foi abastecida com dados fornecidos por seis profetas — pessoas que observam sinais da natureza para prever chuvas e outros eventos climáticos — de cinco municípios do Vale do Jaguaribe, organizados em dez parâmetros distribuídos entre fenômenos atmosféricos, fatores botânicos e comportamento animal.

— Conhecendo mais a cultura nordestina, aqueles que observam os sinais da natureza para prever o regime biométrico, criei inspiração para desenvolver este trabalho que é importante para mim não só pelo significado científico, mas também pelo valor simbólico e emocional. Foi excelente conhecer os profetas da chuva da minha região e trabalhar com eles no desenvolvimento do projeto — disse Raul.

O sistema também foi treinado com registros meteorológicos da Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme) e do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), referentes à série histórica de 1981 a 2024. Aluno da Escola de Ensino Médio Deputado Joaquim de Figueiredo Correia, Raul pretende ampliar o banco de dados e a abrangência geográfica do projeto.

Kit solar

Na categoria Ensino Superior, venceu o projeto “Kit Solar Castanheiro: Aperfeiçoamento de uma alternativa inovadora para melhoria da qualidade de vida de extrativistas”. Desenvolvida por Manuelle da Costa Pereira, de 23 anos, graduanda de Engenharia Florestal pelo Instituto Federal do Amapá, a pesquisa criou um sistema de energia solar portátil, feito com materiais recicláveis e adaptado às necessidades de castanheiros da Floresta Amazônica.

Apresentado na COP30, ocorrida este mês em Belém, o kit reduz a dependência de motores a diesel e facilita o deslocamento na floresta, ao diminuir o peso do equipamento de 1.000 litros para 50 litros. A estudante realizou pesquisa de campo a partir de 2022 e integrou o Centro de Estudos em Ecologia e Manejo na Amazônia.

— Sou de Laranjal do Jari, uma cidade profundamente ligada ao extrativismo da castanha, no estado do Amapá, e desde pequena via a importância das florestas para esses trabalhadores e o quanto é dificultoso passar dias ou semanas sem eletricidade ou dependendo de combustível fóssil, como o óleo diesel, que é poluente para o meio ambiente — disse Manuelle.

Resiliência climática

No Mestre e Doutor, a vencedora foi a economista Elizângela Aparecida dos Santos, 32 anos, autora da pesquisa “Vulnerabilidade e resiliência climática no Brasil: Um olhar territorial para a ação adaptativa”. Ela desenvolveu uma metodologia baseada em três componentes — suscetibilidade, capacidade de enfrentamento e capacidade adaptativa — formada por 30 indicadores ambientais, socioeconômicos e demográficos.

A pesquisa identificou fatores que aumentam a resiliência de municípios brasileiros diante de eventos extremos, como acesso à água potável, práticas agroecológicas, diversificação de renda e presença de mulheres na gestão municipal. O trabalho utilizou bases oficiais como o Censo Agropecuário de 2017, o Atlas Brasil, o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) — que mede o progresso de um país em saúde, educação e renda — e o Índice de Gini, que trata da desigualdade na distribuição de renda.

— O que mais nos chamou a atenção foi que esses municípios mais resilientes estão na região Nordeste do Brasil, demonstrando que, mesmo em áreas muito afetadas pelas mudanças climáticas, existem exemplos de adaptação eficaz — disse Elizângela.

O Mérito Científico foi concedido à professora Ana Paula Melo, da Universidade Federal de Santa Catarina. No Mérito Institucional, foram premiadas a Universidade Federal do Rio de Janeiro (Ensino Superior) e a Escola Técnica Estadual Professor Paulo Freire, de Pernambuco (Ensino Médio).

Soluções científicas

O secretário-geral da Fundação Roberto Marinho, João Alegria, destacou a importância do reconhecimento público dos vencedores da 31ª edição do Prêmio Jovem Cientista. Segundo ele, os trabalhos premiados, de diferentes etapas educacionais — mestrado, doutorado, graduação e ensino médio — compartilham uma característica valiosa: a capacidade de encontrar soluções construídas a partir de uma observância rigorosa do método científico, mas que conseguem estabelecer diálogo e articulação com territórios e saberes tradicionais, não apenas com o conhecimento acadêmico.

— Isso só podia acontecer no Brasil. Tem um jeito brasileiro de fazer ciência, refletindo características da nossa identidade e cultura, e está no caráter do trabalho desenvolvido ao longo dos anos pelas universidades e agências de pesquisa, que têm se esforçado para tornar os ambientes mais diversos e, por isso, mais relevantes e inovadores na produção de conhecimento. Estamos diante de projetos, pesquisas e soluções que materializam isso de maneira muito interessante e que representam importância e valor para todos os cidadãos do país.

O presidente substituto do CNPq, Olival Freire, destacou a importância das premiações para revelar talentos e motivar jovens pesquisadores,

— No caso da ciência, nós precisamos de instituições, escolas, salários, bolsas, verbas para o fomento, mas precisamos também de boas premiações. Porque as premiações revelam talentos e movem pessoas. Elas não são uma competição selvagem de uns contra os outros, mas contribuem para reconhecer e estimular o trabalho de quem se dedica à pesquisa — afirmou, ressaltando o prestígio histórico do CNPq e da Fundação Roberto Marinho.

— O prêmio que hoje vocês estão recebendo carrega a marca de instituições de enorme prestígio, como o CNPq, criado há quase 75 anos, e a Fundação Roberto Marinho, indissociável da marca Globo. Esse prestígio é transferido ao prêmio, conferindo qualidade e reconhecimento aos ganhadores.

Em sua participação na cerimônia, Monique Gonçalves, da Shell Brasil, destacou a importância da investigação, da produção de conhecimento e da resposta às mudanças climáticas:

— Isso é um pilar totalmente relacionado ao nosso compromisso em buscar soluções mais sustentáveis para a nossa sociedade.

Ao todo, foram reconhecidos dez jovens pesquisadores e duas instituições:

Mestre e Doutor

1º lugar – Elizângela Aparecida dos Santos (UFVJM – MG)

2º lugar – Luiz Fernando Esser (Universidade Estadual de Maringá – PR)

3º lugar – Tauany Aparecida da Silva Santa Rosa Rodrigues (UFRJ)

Ensino Superior

1º lugar – Manuelle da Costa Pereira (Instituto Federal do Amapá)

2º lugar – Isac Diógenes Bezerra (Instituto Federal do Ceará)

3º lugar – Anna Giullia Toledo Hosken (Faculdade de Medicina de Petrópolis – RJ)

Ensino Médio

1º lugar – Raul Victor Magalhães Souza (Escola Estadual Deputado Joaquim de Figueiredo Correia – CE)

2º lugar – Beatriz Vitória da Silva (Escola Técnica Estadual Professor Paulo Freire – PE)

3º lugar – Gabriel da Silva Santos (Escola Técnica Estadual Ariano Vilar Suassuna – PE)