Premier polonês diz que dois ucranianos a serviço da Rússia estão por trás de ‘ato de sabotagem sem precedentes’ no país

 

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Dois cidadãos ucranianos que supostamente trabalham há “muito tempo” para a Inteligência russa foram identificados como os suspeitos por trás de dois atos de sabotagem ocorridos no fim de semana na rede ferroviária da Polônia, disse nesta terça-feira o primeiro-ministro polonês, Donald Tusk. Em discurso no Parlamento, Tusk classificou o incidente como “provavelmente o ato de sabotagem mais grave” no país desde o início da invasão em larga escala da Ucrânia pela Rússia, em fevereiro de 2022.

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— Uma certa linha foi cruzada — disse o primeiro-ministro aos parlamentares. — Estamos lidando com um ato de sabotagem, que poderia ter resultado em um desastre grave com vítimas.

Tusk afirmou na segunda-feira que um dispositivo explosivo destruiu uma linha férrea perto da vila de Mika, a cerca de 100 km da capital — ação classificada por ele na ocasião como "sem precedentes". Danos também foram descobertos em outros pontos da mesma linha. Ambos os incidentes ocorreram em uma ligação crucial entre Varsóvia e a fronteira ucraniana em Dorohusk. A rota tem sido usada diariamente para transportar passageiros e ajuda ocidental para Kiev desde o início da ofensiva russa.

— O objetivo era causar uma catástrofe ferroviária — disse Tusk aos deputados, acrescentando que não divulgaria os nomes dos dois suspeitos porque isso poderia complicar a operação, embora tenha dito ao Parlamento que um vivia em Bielorrússia e o outro era residente do leste da Ucrânia.

Ambos os suspeitos cruzaram para a Polônia vindos da Bielorrússia e retornaram para o país por meio da passagem de fronteira em Terespol, no extremo sudoeste do país, perto da fronteira ucraniana. A Polônia solicitará ajuda às autoridades de Bielorrússia e da Rússia para garantir seu retorno.

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Tusk afirmou que um artefato explosivo C4 de grau militar foi detonado na noite de 15 de novembro. A explosão ocorreu enquanto um trem de carga passava e causou pequenos danos ao piso de um vagão. O momento foi capturado por câmeras de segurança — e o motorista sequer notou o incidente. Ainda de acordo com o primier, uma tentativa anterior de descarrilar um trem havia falhado.

O segundo ato de sabotagem, disse, ocorreu em 17 de novembro e envolveu um trem que transportava 475 passageiros, que teve que frear subitamente devido a danos na infraestrutura ferroviária. Após detalhar o ocorrido, o primeiro-ministro anunciou que emitiria uma ordem ainda nesta terça-feira para elevar o nível de alerta em certas linhas ferroviárias.

‘Russofobia’

Autoridades polonesas inicialmente disseram que havia uma chance “muito alta” de que os dois atos de sabotagem na linha ferroviária Varsóvia-Lublin tivessem sido ordenados por um “serviço estrangeiro”, publicou a rede britânica BBC. Já nesta terça-feira, um porta-voz do ministro dos serviços especiais da Polônia disse que “tudo aponta para que sejam serviços especiais russos”.

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A Rússia, por sua vez, classificou as afirmações como “russofobia”. Em declaração à TV estatal, o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, disse que “seria estranho se a Rússia não fosse culpada imediatamente”. Sem negar categoricamente a acusação de envolvimento, ele afirmou ainda que a “russofobia está florescendo” pela região.

— Embora um acidente ferroviário potencialmente muito grave tenha sido evitado por pouco, o mais recente ato de sabotagem serve como um lembrete de que a Polônia, juntamente com outros estados do Mar Báltico, é um alvo prioritário da guerra híbrida — disse Piotr Matys, analista sênior da In Touch Capital Markets.

A Polônia é um estado membro tanto da Otan quanto da União Europeia, e sua rede ferroviária se tornou vital para o transporte de suprimentos de ajuda para a Ucrânia desde que a Rússia lançou sua invasão em grande escala em fevereiro de 2022. Em setembro, um enxame de drones que cruzou o território polonês provocou uma forte reação dos aliados em relação às atividades do Kremlin. (Com Bloomberg e AFP)