Pré-testes da prova do Enem abriram brecha para vazamento de questões da prova

 

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O método utilizado pelo MEC abriu uma disputa entre IA e métodos tradicionais de segurança. Especialistas ouvidos pela CBN sugerem o uso de inteligência artificial na preparação do exame. Já a Fuvest descarta o método e diz evita a vulnerabilidade com a checagem de itens num comitê interno. O novo vazamento de questões do Enem colocou em xeque o método utilizado pelo Ministério da Educação para testar os itens que compõem o Exame Nacional do Ensino Médio. Os chamados pré-testes, aplicados em grupos de estudantes, foram a porta de entrada para o vazamento que atingiu a edição deste ano.

Até o momento, apenas três questões do Enem 2025 foram canceladas pelo MEC. No entanto, levantamento do jornal O Globo indica que há indícios de vazamento também nas provas de Linguagens e Humanas, somando ao menos 11 itens potencialmente comprometidos.

O estudante de medicina Edcley Teixeira, apontado como responsável pelo vazamento ocorrido dias antes da prova, admitiu em entrevista à TV Globo que decorou questões aplicadas em eventos de pré-teste e antecipou conteúdos em cursos preparatórios na internet.

Para a especialista em políticas educacionais Claudia Costin, o modelo precisa ser revisto. Ela defende o uso de ferramentas de inteligência artificial para substituir os pré-testes presenciais, que já provocaram problemas semelhantes em edições anteriores do exame. Segundo ela, nos Estados Unidos a ferramenta já é utilizada para provas equivalentes ao ENEM para ingresso no ensino superior .

"O ENEM é baseado no que nós chamamos de teoria de resposta ao item. Demanda testes, porque eu preciso saber no processo de correção se a questão é simples ou complexa. Nós deveríamos caminhar mais rápido para o meio digital e evitar a aplicação de pré-teste. A inteligência artificial pode, com vantagem, substituir o pré-teste".

Na direção oposta, a Fuvest - responsável pelo vestibular da USP - afirma que nunca utilizou testes prévios com estudantes ao longo de seus quase 50 anos de história.

Segundo o vice-diretor da fundação, Thiago Paixão, a checagem das questões é feita apenas dentro do comitê de professores, com um grupo restrito de pessoas, o que evita o risco de vazamentos. O professor também vê riscos no uso de inteligência artificial como parâmetro para calibrar o nível de dificuldade das questões ou elaborar conteúdos.

"Um certo conjunto de pessoas elabora as questões, ela é testada por um outro subconjunto de pessoas, um revisor ou outros elaboradores e retorna nesse ciclo, mas sempre por processos internos e por uma quantidade reduzida de pessoas tendo contato às questões. Nesse momento a gente descarta o uso de IA para testes de questões e a gente também descarta até o próprio uso de IA para a elaboração de questão. Uma vez que a gente utiliza IAs abertas, porque ao se treinar com isso ela pode devolver esse mesmo input, essa mesma informação que entrou, pode devolver para um candidato".

O presidente do Inep, Manuel Palacios, negou qualquer vulnerabilidade no sistema de pré-teste utilizado pelo Enem. Em nota, o instituto afirmou que nenhuma outra questão será anulada e avaliou que a eventual memorização parcial e aleatória entre as milhares de perguntas pré-testadas ao longo dos anos não compromete a integridade do exame.

O ministro da Educação, Camilo Santana, reiterou que o Enem deste ano não será anulado e classificou o exame como “um patrimônio do Brasil”.