Policial de carreira e aliado de Bolsonaro: Quem é Silvinei Vasques, ex-diretor da PRF preso ao tentar fugir do país
Preso nesta sexta-feira no Aeroporto de Assunção, no Paraguai, ao tentar deixar o país rumo a El Salvador, o ex-diretor-geral da Polícia Rodoviária Federal Silvinei Vasques volta ao centro do noticiário policial e político. Detido após romper a tornozeleira eletrônica e tentar embarcar com um passaporte cujos dados não correspondiam à sua identificação, Vasques havia sido condenado há dez dias pelo Supremo Tribunal Federal (STF) a 24 anos e seis meses de prisão, por participação na trama golpista investigada após as eleições de 2022.
Policial rodoviário federal de carreira, Vasques construiu sua trajetória profissional dentro da Polícia Rodoviária Federal antes de se tornar um dos quadros mais identificados com o bolsonarismo na área de segurança pública. Catarinense, ingressou ainda jovem na PRF e passou décadas no órgão, onde ocupou funções administrativas e de comando regionais até alcançar projeção nacional no governo Jair Bolsonaro.
Descrito por colegas como um agente ambicioso e de perfil centralizador, ganhou espaço interno ao adotar um discurso alinhado às bandeiras defendidas pelo então presidente, como o endurecimento da atuação policial e críticas a instituições de controle. A afinidade política abriu caminho para sua nomeação, em 2021, ao cargo máximo da PRF, transformando um policial de carreira em figura pública com trânsito direto no Palácio do Planalto.
No comando da corporação, Vasques passou a atuar também como personagem político. Frequentava eventos do governo, defendia publicamente pautas do bolsonarismo e adotava uma retórica pouco usual para um dirigente técnico de órgão federal. Internamente, sua gestão foi marcada por decisões concentradas na cúpula e por uma relação próxima com aliados do então presidente, o que reforçou sua imagem de homem de confiança do Planalto.
A visibilidade, porém, trouxe custos. Em 2022, no segundo turno das eleições presidenciais, Vasques entrou no radar da Polícia Federal sob a suspeita de ter permitido — ou incentivado — o uso da estrutura da PRF de forma politicamente orientada. As investigações apontam que fiscalizações e blitzes foram intensificadas em rodovias do Nordeste, região onde Luiz Inácio Lula da Silva tinha vantagem eleitoral, levantando suspeitas de tentativa de interferência no deslocamento de eleitores.
Com a derrota de Bolsonaro, Vasques perdeu o cargo e viu sua situação jurídica se agravar. Em 2023, acabou preso preventivamente e permaneceu cerca de um ano detido, tornando-se um dos casos mais emblemáticos da apuração sobre a atuação de forças de segurança durante o processo eleitoral. A prisão interrompeu, ao menos temporariamente, seus planos de seguir carreira política.
Em liberdade, tentou se reposicionar em Santa Catarina, onde manteve redes de apoio construídas ao longo da vida profissional. Chegou a ensaiar uma candidatura à prefeitura de São José, mas foi considerado um nome “tóxico” pelo próprio campo bolsonarista, diante do desgaste judicial. Optou então por apoiar o prefeito Orvino Coelho (PSD), aliado pessoal, e foi nomeado secretário municipal de Desenvolvimento Econômico e Inovação em 2025.
Vasques passou a somar o salário de secretário, de cerca de R$ 18,4 mil brutos, à aposentadoria da PRF, de valor semelhante, ultrapassando R$ 37 mil mensais.
