Pode a ingestão de 800 pedras matar uma ave? Fóssil pré-histórico encontrado na China revela a resposta

 

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Um fóssil de ave pré-histórica encontrado na China trouxe à luz um enigma raro na paleontologia: o animal, batizado de Chromeornis funkyi, morreu com a garganta cheia de pedras. A análise do espécime, conduzida por Jingmai O’Connor, curadora associada de répteis fósseis do Field Museum em Chicago, sugere que a ingestão excessiva dessas pedras teria levado o pássaro à asfixia — embora o motivo que o levou a engoli-las continue desconhecido.

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O estudo, publicado na revista Palaeontologica Electronica na sexta-feira (5), coloca o episódio dentro do contexto da evolução e da extinção dos dinossauros e das aves, oferecendo uma das raras ocasiões em que é possível inferir a causa da morte de um animal extinto.

Um achado inédito

O fóssil de Chromeornis funkyi, comparável em tamanho a um pardal moderno, apresenta características anatômicas semelhantes às do fóssil de Longipteryx, incluindo grandes dentes na ponta do bico. “Existem milhares de fósseis de pássaros no Museu Tianyu em Shandong, mas este realmente me chamou a atenção. Soube imediatamente que se tratava de uma nova espécie”, relatou O’Connor.

Exames microscópicos revelaram mais de 800 pequenas pedras no esôfago da ave, algumas delas compostas por argila, uma situação sem precedentes na literatura paleontológica. Diferentemente das aves modernas, que utilizam pedras na moela para triturar alimentos, essas pedras não estavam no estômago muscular e não teriam cumprido função digestiva.

A hipótese mais plausível, segundo O’Connor, é que a ave estava doente e desenvolveu um comportamento anômalo, ingerindo compulsivamente as pedras. Ao tentar regurgitá-las em uma única massa, o animal acabou se asfixiando. “É muito raro saber o que causou a morte de um indivíduo específico no registro fóssil”, afirmou a pesquisadora.

Além de registrar um caso excepcional de morte, a descoberta amplia o conhecimento sobre a diversidade das aves do período Cretáceo. O nome da espécie homenageia a dupla musical Chromeo, que celebrou a referência em tom bem-humorado.

O Chromeornis funkyi pertencia ao grupo dos enantiornitinos, predominante no Cretáceo, mas extinto após o impacto do asteroide há 66 milhões de anos. Estudos de espécies como essa ajudam a compreender fatores que levaram ao sucesso evolutivo e à vulnerabilidade de certas linhagens, oferecendo pistas para a preservação das aves modernas e a compreensão das atuais crises de extinção.