Planalto tenta contornar repercussão de fala de Lula sobre 'traficantes vítimas': 'Presidente não pensa isso', diz Sidônio
Após o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmar que traficantes são "vítimas" de usuários de drogas, o Palácio do Planalto tenta contornar a repercussão negativa da fala proferida em viagem à Indonésia. Em mea-culpa publicado nas redes sociais, Lula tratou o caso como uma frase "mal colocada". A reação veio após integrantes do governo entenderem que era preciso uma manifestação rápida e pública sobre o assunto.
O tema foi debatido e encaminhado por auxiliares do petista ainda de madrugada no horário de Jacarta.
Ao GLOBO, o ministro da Secretaria de Comunicação Social, Sidônio Palmeira, disse que o presidente "não pensa isso".
— Ele se atrapalhou na forma de falar. Não existe isso de vítima. O presidente não pensa isso. Ele queria dizer que não tem como excetuar ninguém disso, todo mundo tem responsabilidade, foi uma palavra mal colocada — disse Sidônio.
Lula afirmou nas redes que seu "posicionamento é muito claro contra os traficantes e o crime organizado". O presidente disse ainda que "mais importante do que as palavras são as ações que o meu governo vem realizando". O presidente citou em seguida citou a PEC da Segurança que está tramitando no Congresso:
"Fiz uma frase mal colocada nesta quinta e quero dizer que meu posicionamento é muito claro contra os traficantes e o crime organizado. Mais importante do que as palavras são as ações que o meu governo vem realizando, como é o caso da maior operação da história contra o crime organizado, o encaminhamento ao Congresso da PEC da Segurança Pública e os recordes na apreensão de drogas no país. Continuaremos firmes no enfrentamento ao tráfico de drogas e ao crime organizado."
Lula afirmou nesta sexta-feira, que os traficantes de drogas "são vítimas de usuários também", ao comentar a ofensiva dos Estados Unidos contra o narcotráfico no exterior.
A afirmação foi feita em conversa com jornalistas durante visita à Indonésia. Desde o início do ano, o governo de Donald Trump designou vários cartéis como organizações terroristas e, mais recentemente, promoveu ataques letais a embarcações no Caribe e no Pacífico, sem apresentar evidências de que os alvos eram, de fato, "narcoterroristas". Em entrevista a jornalistas, Lula criticou a iniciativa de Washington na área de domínio de outros países e disse que discutiria "com prazer" o tema num futuro encontro com o presidente americano.
— Toda vez que a gente fala sobre combater as drogas, possivelmente fosse mais fácil a gente combater os nossos viciados internamente. Os usuários são responsáveis pelos traficantes, que são vítimas dos usuários também. Ou seja, você tem uma troca de gente que vende porque tem gente que compra, de gente que compra porque tem gente que vende. Então, é preciso que a gente tenha mais cuidado no combate à droga — disse o presidente.
