Petróleo dispara após Trump intensificar pressão sobre a Rússia com sanções
O petróleo disparou depois que os Estados Unidos anunciaram sanções contra os maiores produtores da Rússia, ameaçando o fornecimento e potencialmente provocando uma reconfiguração dos fluxos globais de comércio.
A cotação do Brent subiu para ser negociado acima de US$ 65 por barril, e o salto de 7% nos últimos dois dias é agora o mais acentuado em mais de dois anos. Às 6h45, o barril dos contratos de dezembro do Brent, referência mundial, era negociado a US$ 65,92, com alta de 5,32%. Já o barril do petróleo tipo Texas, referência nos Estados Unidos, estava cotado a US$ 61,80, com alta de 5,66%.
A inclusão das gigantes russas Rosneft PJSC e Lukoil PJSC na lista de restrições ocorre em um momento de crescente preocupação com o excesso de oferta, já que a aliança Opep+, que a Rússia co-lidera com a Arábia Saudita, aumenta a produção.
A Rosneft, liderada por Igor Sechin — aliado próximo de Vladimir Putin —, e a Lukoil, de capital privado, são as duas maiores produtoras de petróleo da Rússia, respondendo juntas por quase metade das exportações totais do país, segundo estimativas da Bloomberg. Os impostos provenientes das indústrias de petróleo e gás representam cerca de um quarto do orçamento federal russo.
Restrições afetam Índia e China
Altos executivos de refinarias na Índia — um dos principais compradores de petróleo russo — disseram que as restrições tornariam impossível a continuidade desses fluxos.
— É algo grande — disse Ole Hansen, chefe de estratégia de commodities do Saxo Bank A/S. — Isso pode forçar uma mudança na narrativa recente de excesso de oferta, obrigando os traders a ajustarem suas posições de volta à neutralidade ou até para uma visão otimista.”
Enquanto isso, a União Europeia aumentou a pressão sobre o Kremlin, adotando um novo pacote de sanções voltado à infraestrutura energética da Rússia.
A quantidade de petróleo bruto em petroleiros no mar já atingiu um recorde, e a Agência Internacional de Energia (AIE) prevê que a oferta mundial de petróleo superará a demanda em quase 4 milhões de barris por dia no próximo ano.
Mas, embora a ampla oferta possa amortecer o impacto dessas sanções, elas não devem ser subestimadas. Reorganizar as importações da Índia — das quais mais de um terço vêm da Rússia — seria uma tarefa gigantesca.
As medidas também estão provocando ondas de choque na indústria petrolífera da China, que importa até 20% de seu petróleo bruto da Rússia. Após o anúncio das medidas, o presidente Donald Trump disse que planejava conversar com o líder chinês, Xi Jinping, sobre a compra de petróleo russo pelo país em uma reunião marcada para a próxima semana na Coreia do Sul.
É certo que a Rússia tem ampla experiência em contornar sanções, e o impacto final delas ainda não está claro. As exportações marítimas de petróleo bruto do país atingiram recentemente o maior nível em 29 meses, apesar de uma série de restrições ocidentais. A refinaria indiana Nayara Energy, apoiada pela Rosneft, por exemplo, pode continuar servindo como um canal para os barris russos.
Mas as penalidades “representam uma mudança na abordagem do presidente Trump em relação à Rússia e abrem caminho para sanções mais duras no futuro, que poderiam, em última instância, afetar os fluxos de petróleo russo”, disse Warren Patterson, chefe de estratégia de commodities do ING Groep NV em Cingapura.
— A incerteza está em quão eficazes essas sanções serão e qual impacto elas realmente terão” sobre as exportações — acrescentou.
A mensagem dos refinadores indianos de que não poderão mais comprar petróleo bruto russo representa uma mudança significativa em relação ao sinal recente de que continuariam importando, ainda que em volumes reduzidos. Na terça-feira, Trump afirmou que o primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi, o assegurou de que o país reduziria gradualmente suas compras.
As medidas dos Estados Unidos representam uma mudança radical de política: esforços anteriores incluíam o teto de preços imposto pelo Grupo dos Sete (G7) ao petróleo russo, que buscava limitar a receita do Kremlin sem interromper o fornecimento e provocar um salto nos preços globais.
O Brent se recuperou da mínima de cinco meses registrada na segunda-feira. Os contratos futuros voltaram a subir na quarta-feira, com sinais de que a última onda de vendas havia sido exagerada e em meio à redução dos estoques nos Estados Unidos.
