Pelo menos três companhias aéreas cancelam voos para a Venezuela em meio a planos de nova fase de operação dos EUA, diz agência

 

Fonte:


Diversas companhias aéreas internacionais cancelaram seus voos partindo da Venezuela neste sábado, um dia após a Administração Federal de Aviação dos Estados Unidos (FAA) alertar grandes empresas do setor sobre uma “situação potencialmente perigosa” ao sobrevoar o país, publicou a Reuters. Segundo quatro autoridades americanas ouvidas pela agência, a medida ocorre enquanto os EUA se preparam para lançar, nos próximos dias, uma nova fase de operações relacionadas a Caracas, intensificando a pressão sobre o governo de Nicolás Maduro.

Contexto: EUA alertam aviação civil sobre aumento da atividade militar ao redor da Venezuela

Movimentação militar: Destróier americano intercepta navio-tanque russo que ia para a Venezuela

Neste sábado, a brasileira Gol, a colombiana Avianca e a TAP Air Portugal cancelaram voos com partida em Caracas, segundo o Flightradar24 e o site oficial do Aeroporto Internacional Simón Bolívar de Maiquetía. A espanhola Iberia anunciou que suspenderá suas operações para Caracas a partir de segunda-feira, até novo aviso. Já a Copa Airlines e a Wingo mantiveram seus voos neste sábado.

A Aeronáutica Civil da Colômbia afirmou, em comunicado, que há “riscos potenciais” para aeronaves na área de Maiquetía devido à deterioração das condições de segurança e ao aumento da atividade militar. A TAP disse que tomou a decisão de cancelar voos previstos para sábado e para a próxima terça-feira a partir de informações emitidas pelas autoridades de aviação dos EUA, que apontam falta de garantias de segurança no espaço aéreo venezuelano. A Iberia informou que avaliará a situação para determinar quando retomará as operações.

O momento exato ou o alcance das novas operações ainda não estão claros. Tampouco se sabe se o presidente americano, Donald Trump, tomou uma decisão final sobre agir. Informações sobre uma possível ação dos EUA têm se multiplicado nas últimas semanas, à medida que militares americanos enviam forças ao Caribe e em meio ao agravamento das relações com a Venezuela. Ainda à agência Reuters, duas autoridades disseram que operações clandestinas provavelmente seriam a primeira etapa da nova ação contra Maduro.

— O presidente Trump está preparado para usar todos os elementos do poder americano para impedir que drogas inundem nosso país e para levar os responsáveis à Justiça — afirmou o funcionário, que também falou sob condição de anonimato dada a sensibilidade do tema.

NYT: Trump aumenta pressão sobre a Venezuela, mas o desfecho ainda é incerto

Washington vem avaliando opções de pressão sobre o presidente Nicolás Maduro, a quem acusa de envolvimento no tráfico de drogas — alegação que o venezuelano nega. Segundo duas das autoridades ouvidas pela Reuters, as alternativas analisadas incluem a possibilidade de tentar derrubá-lo. Em Caracas, Maduro afirma que o objetivo de Trump é removê-lo do poder e que a população e os militares resistiriam a qualquer tentativa nesse sentido.

Aumento das tensões

O aumento das tensões ocorre após meses de reforço militar dos EUA no Caribe. O porta-aviões Gerald R. Ford, o maior da Marinha americana, chegou à região em 16 de novembro, acompanhado de seu grupo de ataque, somando-se a pelo menos outros sete navios de guerra, um submarino nuclear e aeronaves F-35. As forças norte-americanas têm conduzido operações de combate ao narcotráfico, com ao menos 21 ataques contra embarcações suspeitas no Caribe e no Pacífico desde setembro, que resultaram na morte de ao menos 83 pessoas — ações criticadas por organizações de direitos humanos como execuções extrajudiciais ilegais.

A administração Trump planeja ainda, segundo autoridades, designar o Cartel de los Soles como organização terrorista estrangeira por seu suposto papel no envio de drogas ilegais aos Estados Unidos. Washington acusa Maduro de liderar o grupo, o que ele nega. A futura designação, disse o secretário de Defesa Pete Hegseth, “abre uma série de novas opções” para o governo americano.

Armas russas e células civis armadas: Como o poderio militar da Venezuela responde aos ataques dos EUA?

Enquanto isso, conversas entre Caracas e Washington seguem ocorrendo, embora não esteja claro se podem alterar o ritmo ou o alcance das ações previstas. Em agosto, os EUA dobraram para US$ 50 milhões a recompensa por informações que levem à captura de Maduro.

Em meio ao impasse, o governo venezuelano, cujo aparato militar enfrenta falta de treinamento, baixos salários e equipamentos deteriorados, tem considerado estratégias alternativas caso haja uma invasão dos EUA. Documentos e fontes citados pela Reuters apontam a preparação de uma resposta ao estilo guerrilheiro, chamada pelo governo de “resistência prolongada”, que envolveria pequenas unidades militares distribuídas por mais de 280 localidades realizando atos de sabotagem e outras táticas irregulares.