Países da Amazônia apostam em cooperação e fundo contra o desmatamento

 

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É impossível falar em apenas uma Amazônia. Seus cerca de 7 milhões de quilômetros quadrados são compostos por diferentes realidades nos países por onde se estende. O tamanho do desmatamento, as queimadas e a infiltração do crime organizado transfronteiriço são apenas alguns dos desafios de coordenar as ações de proteção à maior floresta tropical do mundo.

A cooperação na região se organiza principalmente no âmbito da Organização do Tratado de Cooperação Amazônica (OTCA), que reúne oito países amazônicos. Em agosto, líderes dessas nações se reuniram na Colômbia e chegaram a um documento conjunto, a Declaração de Bogotá, que destaca a necessidade de ações conjuntas e urgentes contra o desmatamento e a perda de biodiversidade. Entre os pontos de consenso está o risco de a floresta atingir o ponto de não retorno — a partir do qual não consegue mais se regenerar.

A Declaração de Bogotá também endossa a criação do Fundo Florestas Tropicais para Sempre (TFFF), que será lançado oficialmente na COP30, em Belém. Seu objetivo é levantar cerca de R$ 125 bilhões no mercado e reinvesti-los em projetos mais rentáveis. O lucro deverá ser repassado para os países que preservam suas florestas tropicais, de forma proporcional à área mantida, enquanto os investidores recebem de volta o capital aplicado com retorno.

Avanço do desmatamento

Estatísticas recentes indicam o tamanho do desafio. Em 2024, Brasil, Bolívia e Peru tiveram as maiores áreas desmatadas, de acordo com relatório do Projeto Monitoramento da Amazônia Andina (MAAP), publicado em junho deste ano. Com metodologia diferente da utilizada pelo Instituto Nacional de Pesquisa Espacial (Inpe), o documento aponta que o maior crescimento na perda florestal ocorreu na Colômbia, que teve aumento de 82,5% na área desmatada em comparação ao ano anterior.

A Bolívia, por sua vez, atingiu sua maior marca: 476 mil hectares desmatados. Guiana e Venezuela seguiram pelo mesmo caminho e registraram recordes na perda de áreas da floresta amazônica. De acordo com o Inpe, o Brasil teve queda de 30% em 2024 em relação ao ano anterior. Ainda assim, por ter 60% da Amazônia em seu território, o peso do país é maior.

Pesquisadora do Inpe, Luciana Gatti liderou estudo publicado na Nature que revelou um dado alarmante: a porção sudeste da Amazônia (sul do Pará e o norte do Mato Grosso) já emite mais dióxido de carbono do que consegue absorver. O fenômeno, que transforma a região de sumidouro em fonte de CO2, é considerado um indício concreto de degradação irreversível da floresta.

Nessa área, foram identificados três fatores que explicam esse desequilíbrio: o desmatamento que atinge cerca de 30% da cobertura original, o aumento da temperatura até 3,1°C nos meses mais secos e a redução de aproximadamente 24% no volume de chuvas no mesmo período.

— A Amazônia tem um papel enorme no balanço da água e de energia, porque cada árvore joga uma quantidade imensa de vapor de água na atmosfera por dia — diz Gatti.