Paella ou fish and chips? Biólogo explica movimento raro de polvos do Mediterrâneo no litoral inglês

 

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O que faz uma espécie típica do Mediterrâneo se multiplicar de repente no frio litoral britânico? Essa é a pergunta que vem intrigando pescadores e cientistas em Devon, no sul da Inglaterra, onde redes de pesca começaram a emergir abarrotadas de polvos. O fenômeno, registrado no verão europeu, que encerrou em setembro, virou assunto da cidade e alimenta debates sobre as transformações no oceano.

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O pescador Arthur Dewhirst não conteve a surpresa: “Cifrões! Cifrões! Cifrões!”, recordou ao New York Times, rindo, ao mencionar o susto ao ver centenas de cefalópodes embarcados em Brixham, uma cena absolutamente atípica para a estação. Cá entre nós, é como se o cardápio local tivesse trocado o tradicional fish and chips por uma inesperada paella de tentáculos. Segundo reportagem do jornal estadunidense, a presença desses animais explodiu ao longo da costa durante o verão.

Para explicar o fenômeno, especialistas apontam para o aquecimento das águas como principal motor da expansão desses polvos mediterrâneos. O professor Steve Simpson, da Universidade de Bristol, afirmou ao veículo novaiorquino que “as mudanças climáticas são um provável impulsionador” desse aumento populacional, ele observa que a região está no limite norte da dispersão natural da espécie, mas que agora as condições se tornaram mais favoráveis.

O impacto é misto: muitos pescadores comemoram o “bônus oceânico”. Em Brixham, o polvo se valoriza a cerca de 7 libras o quilo, e houve semanas em que isso rendeu dezenas de milhares de libras extras. Um dono de restaurante local até decorou sua fachada com um mural de tentáculos e passou a divulgar nas redes receitas com o molusco. Por outro lado, pescadores de caranguejo e lagosta amargam perdas: armadilhas antes cheias agora surgem vazias, já que os polvos invadem esses dispositivos e devoram mariscos.

O curioso é que esse tipo de surtos não é inédito, segundo o New York Times, registros dos anos 1950 apontam episódios similares, mas ninguém antecipou sua duração ou intensidade este ano. Agora, com a virada da temporada e a chegada do outono, as capturas começam a diminuir. Na região, a pesca continua sendo atividade vital: redes, barcos e mercados vivem da comercialização de frutos do mar, e essa invasão passa a ser um capítulo inesperado na rota tradicional da pesca local.