Os bastidores da decisão da Alerj para soltar Rodrigo Bacellar; entenda a movimentação

 

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O que Bacellar dizia sobre TH Joias antes da prisão

Pivô da mais recente crise política do Rio desde que foi preso, o deputado TH Joias (MDB) era “um peixe fora d’água” quando se tornou parlamentar, em 2024, e coube a Rodrigo Bacellar puxá-lo pela mão e mudar sua relação com os pares, lembraram em conversas reservadas deputados que votaram a favor da soltura do presidente da Alerj.

Era Bacellar quem lembrava aos colegas que eles “não eram o Tribunal Regional Eleitoral”, e se a Justiça liberou TH Joias para estar ali, que fosse respeitado. Foi o jeitão “conciliador” de Bacellar que abriu muitas portas de gabinetes de secretários e deputados para fotos e postagens de TH Jóias - que hoje muita gente quer esquecer. Nas galerias, nem 20 pessoas acompanharam a sessão, todos funcionários da Alerj. Três delas, aliás, levaram cartazes e gritaram “Volta, Bacellar”, nos momentos mais tensos da votação.

Ex-secretário de Polícia Civil acompanha votação

O ex-secretário de Polícia Civil, Marcus Amim, supervisionou do plenário a votação dessa segunda-feira (8). Poucas conversas, mas olhares atentos. Quando houve um princípio de confusão entre os parlamentares, ameaçou se aproximar, mas retornou. Ficou por ali: ele é diretor-geral de segurança da Assembleia desde setembro de 2024, cargo que ocupa após ter sido chefe da Polícia Civil do Rio. Ele só chegou lá graças a Bacellar, que, em 2023, pressionou o governador Cláudio Castro e patrocinou uma mudança na lei orgânica da corporação para permitir que Amim se tornasse secretário.

Conexão Sergipe-Rio

Figura central na articulação entre o governador Cláudio Castro e os deputados estaduais do Rio, o secretário de governo André Moura é pré-candidato ao Senado em Sergipe em 2026 - e foi de lá que vieram mensagens e ligações no final de semana para lembrar deputados estaduais da importância de soltar Bacellar. Ele nega: diz que, quando voltou de viagem, passou o dia no Palácio Guanabara e não ligou para parlamentares. Deputados fiéis a Castro e secretários do governo passaram um tempo, nos bastidores, dizendo que o governador nada teve a ver com a votação desta segunda.

Por que o PSD de Paes só deu metade dos votos prometidos a favor da prisão?

O PSD, partido do prefeito Eduardo Paes, prometeu muito e entregou pouco. Só três votaram de acordo com a decisão da cúpula da legenda, pela manutenção da prisão de Bacellar. Claudio Caiado, irmão do presidente da Câmara de Vereadores do Rio, faltou. Ele não quis votar contra a orientação da legenda e, por convicção pessoal, acredita que é um tema que deve ser decidido pelo Judiciário.

Munir Neto votou a favor de Bacellar e contrariou a legenda porque é irmão do prefeito de Volta Redonda, Neto, que é aliado de Bacellar. Os três estiveram juntos há poucos meses no município do Sul Fluminense.

Denunciada pelo MPRJ como ‘madrinha’ da milícia do Zinho, a deputada Lucinha, do PSD do prefeito Eduardo Paes, foi favorável a soltura de Bacellar. Como se diz na política, ‘gratidão não prescreve’: a Alerj arquivou processo no Conselho de ética contra ela no ano passado.

Por que o PL deu três votos pela prisão e o PT deu um voto pela soltura?

O deputado Márcio Gualberto (PL) afirmou à coluna que votou para Bacellar continuar preso pelo que viu “nas páginas 10 e 11” da decisão da prisão, do ministro do STF Alexandre de Moraes. É lá, como mostrou a CBN, em que está o trecho no qual a Polícia Federal diz que a ajuda que Bacellar deu a TH Joias visa a manutenção de vínculos da política do Rio com o Comando Vermelho.

Douglas Gomes (PL) disse que recebeu telefonemas do Palácio Guanabara, mas sustentou o voto contra Bacellar.

Já Célia Jordão (PL) disse que votou pelo “dever de zelar pela moralidade”... Mas há quem lembre do fato de Bacellar tê-la retirado da Comissão de Constituição e Justiça da Assembleia em julho - logo após ela ter participado de um encontro mirando 2026 com o prefeito de Campos de Goytacazes e inimigo de Bacellar, Wladimir Garotinho (PP).

É a política local, também, que justificou o voto da petista Carla Machado pró Bacellar. Eles são aliados no Norte Fluminense e estiveram juntos na eleição 2024 em Campos. O PT tinha candidato, mas Carla preferiu apoiar o nome do União Brasil defendido por Bacellar.

MDB dá voto contra Bacellar; Picciani conta que foi ouvido pela PF

Líder do MDB, o deputado Rosenverg Reis se exasperou quando Alexandre Knoploch (PL) lembrou que foi o partido quem abriu as portas para a entrada de TH Jóias na política. O irmão dele, Washington Reis, foi citado. O colega Rafael Picciani se absteve e contou que foi ouvido pela PF na investigação sobre Bacellar: o ministro Moraes desconfia do retorno relâmpago dele para Casa após a prisão de TH Jóias.

Silêncio sobre STF e Alexandre de Moraes

Inimigo número um dos bolsonaristas, o ministro Alexandre de Moraes só foi lembrado (e xingado) nos bastidores da votação pela soltura de Bacellar. De público, nenhuma teoria da conspiração, nada. De menção ao ex-presidente, preso desde o final de novembro, só a deputada Índia Armelau (PL), que comparou os casos de Bolsonaro e do presidente da Alerj.

Constrangimento da esquerda

Deputados do PSOL tiveram que aturar quietos provocações de opositores sobre a relação de alguns deles com Bacellar, com direito a lembrança de jantares e festas em que todos confraternizaram juntos. O resultado? Votos constrangidos a favor da manutenção da prisão. É o presidente quem garante espaços políticos para os parlamentares.