Ordem do PCC para matar promotor e diretor de presídio foi a mesma que determinou execução de ex-delegado-geral, diz Gakiya

 

Fonte:


O promotor Lincoln Gakiya, do Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado de Presidente Prudente, do Ministério Público de São Paulo (MP-SP), disse acreditar que a ordem para matar o ex-delegado-geral Ruy Ferraz Fontes é a mesma que determinou a execução dele e de Roberto Medina, diretor dos presídios da Região Oeste do estado. Uma operação deflagrada nesta sexta-feira (24) cumpriu 25 mandados de busca e apreensão contra suspeitos de integrarem um plano de execução de autoridades. Segundo investigações, Medina e Gakiya tinham a rotina monitorada pelos criminosos.

Plano do PCC contra autoridades: promotor foi monitorado por drones e suspeitos alugaram uma casa a poucos metros de sua residência

Ruy Ferraz Fontes foi morto em 15 de setembro ao sair do trabalho, na Praia Grande, litoral de São Paulo. A Polícia Civil ainda investiga as motivações e os mandantes da execução, mas uma das hipóteses é que o assassinato teria sido determinado pela facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC), por sua atuação como delegado. Outra hipótese é que a morte teria relação com seu trabalho como secretário de Administração da Praia Grande.

— Eu acredito que a ordem para matar o Ruy seja a ordem também para me matar e matar o Medina. No meu caso, como eu tenho uma escolta muito forte, há uma dificuldade de aproximação, mas eu tive sobrevoo de drones há três semanas na minha residência e há indicativos que foi nessa casa que eles alugaram, que ficou como base para fazer esse levantamento próximo do meu condomínio — disse Gakiya durante coletiva de imprensa nesta sexta-feira (24).

Fontes foi responsável por revelar a organização, a estrutura hierárquica e a dimensão do PCC pouco tempo depois que a facção surgiu nos presídios paulistas. É dele também os inquéritos policiais que resultaram nas principais condenações de Marco Willians Herbas Camacho, o Marcola, líder da organização criminosa. Ele foi delegado-geral de São Paulo entre 2019 e 2022. Comandou divisões como Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic), Departamento Estadual de Investigações sobre Entorpecentes (Denarc) e Departamento de Homicídios e de Proteção à Pessoa (DHPP), além de dirigir o Departamento de Polícia Judiciária da Capital (Decap).

Em 2012, o MP e a Polícia tomaram conhecimento pela primeira vez de um “salve”, uma ordem do PCC que colocava Fontes, Medina e Gakiya entre alguns dos principais inimigos da facção criminosa. Em 2019, Ruy foi jurado de morte pela facção por conta da transferência de lideranças da organização criminosa para o sistema penitenciário federal.

A facção tem uma célula chamada “sintonia restrita”, que é responsável por cometer atentados contra policiais, autoridades e resgates. Foi essa mesma célula que planejava o atentado contra o ex-ministro da Justiça Sérgio Moro, que acabou impedido pela Polícia Federal (PF). Os integrantes deste setor têm contato direto com a cúpula do PCC.

— É exatamente o mesmo modus operandi, com filmagens de local de trabalho, de residência, de rotina do senador Moro, que a gente verificou lá na região do Presidente Nunes, em relação ao doutor Medina e também em relação à minha pessoa. O setor, eles dificilmente se comunicam por telefone, são encontros pessoais — explicou o promotor, que disse que no caso de Ruy “nenhuma hipótese pode ser descartada porque as investigações estão em andamento”, mas destacou que a monitoramento tanto dele quanto de Medina ocorreram na mesma época em que o ex-delegado-geral passou a ser monitorado.

As investigações sobre esse monitoramento de autoridades em Presidente Prudente e região tiveram início em junho, após a prisão de dois traficantes naquela área. Com a apreensão dos aparelhos de celular deles, foram encontrados esses monitoramentos de rotina de autoridades, que além de Gakiya e Medina, também incluiam policiais do Batalhão de Ações Especiais da Polícia (Baep). Segundo o promotor do Gaeco, esse monitoramento começou na mesma época em que o ex-delegado-geral Ruy Fontes passou a ser seguido.

— O doutor Medina teve a vida salva graças à nossa investigação, porque ele já poderia ter sido executado — disse o promotor.

Os criminosos começaram a seguir tanto Medina quanto Gakiya, e também a esposa de Medina. Nas conversas do inquérito da Polícia Civil a qual o GLOBO teve acesso, os suspeitos compartilham a localização da casa e do trabalho de Medina e de sua esposa, a placa dos carros deles, detalhes sobre os horários que eles saem e voltam para casa e prints dos perfis das redes sociais deles. Essas informações, segundo o MP-SP, são encaminhadas para a “sintonia restrita”, célula da facção responsável por planejar atentados contra autoridades.

— Ou seja, os criminosos da região do Presidente Prudente colhem essas imagens, a rotina, e mandam aqui para a capital, para a região de Campinas, para integrantes da Sintonia Restrita que vão ali elaborar um plano de assassinato. As informações de inteligência que eu tenho é que havia um plano para matar o Ruy Ferraz Fontes, havia um plano para me matar e para matar o Roberto Medina. Esse plano já tem há anos, ele estava parado e voltou a correr em junho — detalhou Gakiya.

De acordo com as investigações, no celular de Sergio Garcia da Silva, conhecido como "Messi", foram encontradas prints com mapas indicando a localização de Gakiya. Já no celular de Victor Hugo da Silva, o “VH”, foram encontrados detalhes da rotina de Medina.