‘O México quer investir no fundo de florestas’, confirma secretária do meio ambiente do governo Sheinbaum
O México poderia ser o terceiro país em desenvolvimento em anunciar um investimento no Tropical Forest Forever Facility (o TFFF, iniciativa do Brasil e 11 parceiros para mobilizar incentivos financeiros destinados a países com florestas tropicais). O país, confirmou ao GLOBO a secretária de Meio Ambiente e Recursos Naturais do país, Alicia Bárcena, ficou entusiasmado com a iniciativa e vai discutir internacionalmente e com parceiros do setor privado qual pode ser o montante de sua participação. “Temos de ser honestos. Falar numa ajuda econômica de US$ 1,3 trilhão é falar sobre algo que não vai acontecer. O TFFF já está acontecendo”, assegurou a secretária mexicana ao GLOBO.
A seguir, os principais trechos da entrevista:
Como a senhora avalia a cúpula de Belém?
Gostaria de parabenizar a enorme liderança que o presidente Lula de Silva tem conseguido nesta cúpula. E, sobretudo, também por ter feito este encontro em Belém do Pará, é muito simbólico estar na Amazônia. Isso realmente traz um mensagem muito forte. A melhor iniciativa que vai emergir desta cúpula é, sem dúvida, o Fundo das Florestas para sempre, o TFFF. E o México, é claro, quer participar. Acabamos de declarar uma reserva, um corredor que se chama a Grande Selva Maya, que tem 5,7 milhões de hectares de selva tropical entre três países: México, Guatemala e Belize. É uma iniciativa histórica, que conseguimos com a liderança da presidente Claudia Sheinbaum. Não temos as dimensões da Amazônia, mas acho que é a maior selva tropical que existe, juntando os três países.
O México vai investir no TFFF?
Definitivamente queremos ser parte do fundo. Vais fazer um acordo nacional de florestas, selvas e manguezais no México, junto ao setor privado e à sociedade civil. Teremos um grande apoio do setor provado, e vamos convocar esses grupos, fazer um grande acordo nacional. Para nós, os manguezais são parte da selva tropical.
Quando poderia ser o montante do investimento do México no TFFF?
Ainda não temos um número, mas vamos participar. Não poderemos entrar com US$ 1 bilhão, como o Brasil, ou US$ 3 bilhões, como a Noruega, mas queremos ser parte do fundo. A proposta de Lula é muito importante, sobretudo porque a maioria das florestas tropicais estão no Sul Global. Estamos conversando, eu gostei muito da iniciativa. Gostei especialmente de dois pontos. Que esteja estabelecido um pagamento or serviços ambientais, e que 20% dos recursos sejam usados para proteger os povos indígenas. Eles são os maiores protetores de nossas florestas, os grandes guardiões da selva. O que temos hoje em dia foi graças aos povos indígenas, comunidades afrodescendentes. Principalmente as mulheres.
Também há outras questões importantes que foram tratadas nesta cúpula, como o anúncio das NDCs (Contribuições Nacionalmente Determinadas (os esforços que cada país se compromete a fazer para reduzir suas emissões de gases do efeito estufa e se adaptar às mudanças climáticas). Nós anunciamos nossa NDC aqui, no Brasil. A Europa também já anunciou o seu. Esta é a cúpula da verdade, e a COP30 será a COP da verdade, como diz Lula. Temos de ser honestos. Falar numa ajuda econômica de US$ 1,3 trilhão falar sobre algo que não vai acontecer. O TFFF já está acontecendo. Há dez anos do Acordo de Paris, também é importante que se reconheça que o artigo 9.1 do entendimento [que estabelece que os países desenvolvidos devem fornecer recursos financeiros para ajudar os países em desenvolvimento tanto na mitigação quanto na adaptação às mudanças climáticas], deve ser cumprido.
Responsabilidades compartilhadas, porém diferenciadas…
Exato, algo sobre o que se fala desde a Rio92, da qual participei. Cumprir o Acordo de Paris é muito importante.
Lula falou em apocalipse climática. A senhora concorda com o diagnóstico?
O que me pareceu muito interessante é que os países desenvolvidos estão falando de adaptação. Já se deram conta de que os desastres já estão acontecendo. Não basta mitigar, é preciso se adaptar. Já temos fenômenos de seca, entre outros, as mudanças climáticas chegaram para todos, para os eleitores, digamos. Os que vão eleger seus governantes são os que estão agora vivendo isso. Não há justiça social sem justiça ambiental.
Lula disse várias vezes que esta cúpula e a COP30 são atos de defesa do multilateralismo. A Sen hora concorda?
Eu estou certa que sim, por várias razões. Porque o câmbio climático exige a ação coletiva. Nenhum país individualmente pode fazer nada. Vamos supor que o Brasil decida reduzir suas emissões, ou o México, sozinhos não podemos alcançar nada. E, além disso, a redução de emissões para a mitigação tem que ser uma ação coletiva e simultânea. Por isso se requer o multilateralismo. Lula propôs algo que eu acho muito valioso, um Conselho Político de alto nível nas Nações Unidas para monitorar a ação climática e a ação ambiental. Temos que mostrar que o mundo pode se organizar multilateralmente. Porque o câmbio climático não é temporal. Já é um fato.
