NYT: Trump aumenta pressão sobre a Venezuela, mas o desfecho ainda é incerto

 

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A Casa Branca está intensificando rapidamente sua campanha de pressão contra a Venezuela, com o maior porta-aviões dos Estados Unidos, o USS Gerald R. Ford, prestes a assumir uma posição a uma distância de ataque do país, mesmo com os assessores do presidente Donald Trump fornecendo relatos conflitantes sobre o que, exatamente, eles estão buscando alcançar. Trump realizou reuniões consecutivas em Washington nos últimos dois dias, analisando opções militares, incluindo o uso de forças de operações especiais e ação direta dentro da Venezuela. Ainda não está claro se o republicano tomou uma decisão sobre que tipo de ação autorizar, se é que há alguma.

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Na sexta-feira, ele disse aos repórteres no avião presidencial, Air Force One, que “meio que” se decidiu. “Não posso dizer o que é, mas fizemos muitos progressos com a Venezuela em termos de impedir a entrada de drogas”, pontuou.

É possível que Trump esteja contando com a chegada de tanto poder de fogo para intimidar o governo de Nicolás Maduro, que os Estados Unidos e muitos de seus aliados dizem não ser o presidente legítimo da Venezuela. Maduro colocou suas forças em alerta máximo, deixando os dois países com suas armas engatilhadas e prontas para a guerra.

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Havia sinais de que o governo estava adotando uma postura nova e mais agressiva. Logo após uma reunião na quinta-feira, o secretário de Defesa, Pete Hegseth, postou nas redes sociais que a missão no Caribe agora tinha um nome — “Southern Spear” (Lança do Sul, em tradução livre). Ele descreveu seu objetivo em termos amplos, dizendo que a operação “remove os narcoterroristas do nosso hemisfério”.

“O hemisfério ocidental é a vizinhança dos Estados Unidos”, escreveu ele, “e nós o protegeremos”. Com a chegada do Ford e de três contratorpedeiros da Marinha que disparam mísseis, há agora 15 mil soldados na região, mais do que em qualquer outro momento nas últimas décadas.

A única coisa que falta é uma explicação estratégica do governo Trump que esclareça por que os Estados Unidos estão reunindo uma força tão grande. A postagem de Hegseth na plataforma social X foi apenas a mais recente de uma série de declarações de autoridades do governo que, na melhor das hipóteses, estão em tensão entre si. Algumas são totalmente contraditórias.

Trump tem sido o mais consistente, dizendo que tudo se resume às drogas. Mas isso não explicaria por que o Ford foi enviado às pressas do leste do Mar Mediterrâneo para a região do Caribe, aumentando a força militar americana, para atacar pequenas embarcações que até o início de setembro eram interceptadas pela Guarda Costeira. Também não explicaria por que a Colômbia ou o México — sendo o último o principal canal de entrada do fentanil — não estão na mira da Marinha.

Até agora, os Estados Unidos lançaram 20 ataques contra lanchas, matando pelo menos 80 pessoas em uma operação que, segundo especialistas jurídicos, pode violar o direito internacional.

Em particular, Trump conversou com assessores sobre as enormes reservas de petróleo da Venezuela, estimadas em 300 bilhões de barris, as maiores do mundo. Ele recebeu uma oferta de Maduro que essencialmente daria aos Estados Unidos direitos sobre grande parte delas, sem recorrer a ação militar. Trump cancelou essas negociações, embora na sexta-feira um alto funcionário do governo, falando sob condição de anonimato, tenha dito que as negociações não estavam totalmente encerradas — e que o envio do porta-aviões era uma forma de ganhar vantagem sobre Maduro.

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Se for esse o caso, seria um retorno à era da “diplomacia das canhoneiras”, uma expressão que se tornou popular no século XIX, quando as grandes potências usavam seus recursos navais para intimidar potências menores — incluindo a Venezuela, que foi alvo de um bloqueio naval liderado pela Europa de 1902 a 1903. Assim que o bloqueio estava terminando, a Marinha dos EUA interveio para apoiar a secessão do Panamá da Colômbia, abrindo caminho para a construção do Canal do Panamá.

E então há a questão de saber se Trump está buscando uma mudança de regime na Venezuela, na esperança de instalar um governo mais favorável aos EUA. Quando o secretário de Estado Marco Rubio se reuniu em particular com líderes da Câmara e do Senado na semana passada, ele insistiu que derrubar Maduro não era o objetivo do governo e que qualquer notícia em contrário era uma invenção da imprensa.

O que resta é uma incoerência estratégica, com autoridades explicando uma combinação diferente de queixas, objetivos e resultados aceitáveis. Apenas um dia antes de Hegseth dizer que a “Southern Spear” tinha como objetivo proteger todo o Hemisfério Ocidental, Rubio indicou que havia uma explicação simples.

— Esta é uma operação antidrogas — disse ele a repórteres em viagem ao Canadá. — E se eles pararem de enviar barcos com drogas, não haverá nenhum problema.

Outros sugerem que, logo abaixo da superfície, o conflito está se resumindo a um teste de vontades entre Trump e Maduro, que foi indiciado como chefe do Cartel dos Sóis, agora uma organização terrorista designada.

— A armada não pode ficar lá para sempre — ponderou Elliott Abrams, assessor especial de Trump para a Venezuela no primeiro mandato e agora acadêmico do Conselho de Relações Exteriores, em um painel de discussão em Washington esta semana. — Ou Trump vai vencer, ou Maduro vai vencer. Se ele [Maduro] não sair [do poder], o presidente Trump terá perdido este confronto.

Na Casa Branca, Anna Kelly, porta-voz, disse na sexta-feira que a mensagem de Trump a Maduro era para que ele parasse de enviar drogas e criminosos para os Estados Unidos:

— O presidente deixou claro que continuará a atacar os narcoterroristas que traficam drogas ilícitas. Tudo o mais é especulação e deve ser tratado como tal.

Quando o Ford chegar à estação, ele adicionará cerca de 5 mil soldados às 10 mil forças americanas já presentes na região, divididas aproximadamente em partes iguais entre sete navios de guerra da Marinha e um navio-mãe de Operações Especiais e em bases em Porto Rico. O Ford transporta mais de 75 aeronaves de ataque, vigilância e apoio, incluindo caças F/A-18.

Mas há mais na “Southern Spear”. Nas últimas semanas, o Pentágono enviou bombardeiros B-52 e B-1 de bases na Louisiana e no Texas para voar em missões na costa da Venezuela. Os B-52 podem transportar dezenas de bombas guiadas com precisão, e os B-1 podem transportar até 75 mil libras de munições guiadas e não guiadas, a maior carga útil não nuclear de qualquer aeronave do arsenal da Força Aérea americana.

O 160º Regimento de Aviação de Operações Especiais do Exército, que conduziu extensas operações antiterrorismo com helicópteros no Afeganistão, Iraque e Síria, realizou recentemente o que o Pentágono disse serem exercícios de treinamento na costa venezuelana.

Autoridades militares dos EUA disseram esta semana que provavelmente serão realizados mais voos de bombardeiros, bem como exercícios de treinamento altamente visíveis envolvendo as forças americanas na região — tudo parte de um esforço conjunto para intimidar Maduro.

— É definitivamente uma campanha de pressão — disse a general Laura J. Richardson, oficial aposentada do Exército com quatro estrelas que até o outono passado era chefe do Comando Sul do Pentágono, supervisionando as operações na América Latina.