Nutricionista relata ambiente hostil no Real Madrid e diz ter vivido 'um inferno' após convite do presidente: 'tentaram me humilhar'
Contratada para ajudar a conter a sequência de lesões musculares no Real Madrid, a especialista em nutrição e esportes Itziar González de Arriba, de 46 anos, afirma ter vivido um ambiente de hostilidade, boicote e perseguição dentro do clube. Em entrevista ao jornal Marca, publicada nesta quarta-feira, ela diz que sua passagem pela equipe principal terminou em desgaste emocional, afastamento forçado e um processo judicial em andamento.
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Com formação multidisciplinar — que inclui fisioterapia, osteopatia, nutrição, nutrigenômica e química — Itziar chegou ao clube após trabalhos anteriores com Dani Carvajal e Rodrygo, jogadores que enfrentavam recorrentes problemas físicos. Segundo ela, o convite partiu diretamente do presidente Florentino Pérez.
— Pelo que sei, foi o presidente quem pediu ao Serviço Médico para me enviar para lá na temporada 2021-22. Depois de experiências ruins com serviços médicos de outros clubes, eu disse não, mas insistiram dizendo que era um pedido do presidente — afirmou.
Naquele primeiro período, apenas Carvajal e Rodrygo aceitaram trabalhar com ela. Outros atletas, segundo Itziar, foram desencorajados pelos médicos.
— Alguns jogadores me disseram que gostariam de começar comigo, mas os médicos disseram para eles nem pensarem nisso.
O vínculo foi retomado em 2023 e, novamente, em outubro de 2024, após uma nova lesão de Carvajal. Itziar aceitou retornar com um modelo híbrido, dividindo a semana entre Valdebebas e o trabalho remoto, após receber garantias de respaldo institucional.
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— Disseram-me que era um pedido pessoal do presidente e que ele garantiria que os médicos me deixassem trabalhar e me respeitassem. Vim com o único propósito de fazer meu trabalho bem feito, para que Florentino pudesse se orgulhar de mim.
Segundo ela, a recepção foi oposta ao prometido. Desde o primeiro dia, afirma ter sido isolada pelos Serviços Médicos.
— Criaram um ambiente hostil desde o primeiro minuto. Disseram que eu estava ali por capricho do presidente, mas que sabiam como manipulá-lo e que iriam convencê-lo de que eu era louca para me demitir.
Itziar relata que não foi apresentada formalmente à equipe, teve pedidos de reunião ignorados e passou a receber ordens contraditórias, sempre “em nome do presidente”.
— Diziam para eu me esconder e não fazer nada. Depois, o próprio presidente vinha e me dizia exatamente o contrário: que eu implementasse meu método, cuidasse do buffet, das viagens, dos suplementos e criasse dietas personalizadas.
Ela afirma que enfrentou obstáculos constantes para executar o trabalho.
— Serviam no buffet alimentos que eu desaconselhava, o cozinheiro fazia o que queria, os suplementos não eram os que eu especificava e os médicos diziam aos jogadores para não seguirem minhas orientações. Riam de mim, zombavam em grupos de WhatsApp e diziam aos atletas para fazerem o oposto do que eu recomendava.
Apesar disso, segundo Itziar, os jogadores perceberam melhorias físicas claras.
— Um deixou de sentir dores crônicas, outro não tinha mais cãibras, alguns diziam que não se cansavam e que poderiam jogar mais de 90 minutos. Dois falaram diretamente com o presidente sobre isso.
Ela diz que a reação foi imediata.
— O fato de os jogadores associarem essas melhorias à nutrição gerou uma animosidade insuportável. Treze dias após assinar o contrato, pedi para rescindi-lo.
Mesmo assim, a direção pediu que permanecesse. O clima, porém, piorou. Itziar relata acusações falsas, isolamento progressivo e impacto severo em sua saúde mental.
— Eu tinha medo, ansiedade, não dormia, chorava o tempo todo. Pedi ajuda à diretoria e me diziam para aguentar firme.
Após novos episódios, foi proibida de frequentar Valdebebas e impedida de viajar com a equipe.
— Disseram que era para minha segurança física. Falaram em investigação interna e que eu não deveria me preocupar.
O desligamento ocorreu por telefone, segundo ela, com elogios formais, mas sem retratação pública.
— Disseram que fiz um trabalho excepcional, mas que o Serviço de Nutrição seria cancelado. Só pedi que o presidente e os jogadores soubessem a verdade. Disseram, muito educadamente, que isso não seria possível.
Itziar afirma que decidiu tornar o caso público apesar das advertências.
— Todos me diziam que o Real Madrid tem muito poder e que iriam distorcer tudo contra mim. Mas ainda tenho pesadelos. Quero encerrar esse capítulo e só vou conseguir quando contar minha história.
Ela informa que entrou com uma queixa judicial.
— Não se trata de ganhar ou perder. Quero apenas que a verdade seja conhecida.
