Novo plano de Trump para a guerra na Ucrânia pode incluir cessão de territórios para a Rússia, afirma imprensa dos EUA
Com a guerra na Ucrânia se aproximando de completar quatro anos, o governo dos EUA trabalha em uma nova proposta de paz que inclui algumas das principais demandas da Rússia, como a cessão de territórios no leste e o reconhecimento da Crimeia, anexada em 2014. De acordo com a imprensa dos EUA, o plano está sendo negociado nos bastidores há algumas semanas, e prevê algum tipo de garantias de segurança a Kiev, embora ainda não se saiba de que tipo.
Segundo o portal Axios, citando fontes da Casa Branca, o plano de 28 pontos prevê que a Rússia assumirá o controle de fato das regiões de Donetsk e Luhansk (conhecidas como o Donbass), no leste, incluindo as áreas que ainda estão sob poder da Ucrânia.
Os ucranianos ainda controlam 14,5% da região, posições que, pelo plano, deverão ser abandonadas pelas forças de Kiev, e que passarão a ser consideradas zonas desmilitarizadas, o que significa que os russos não podem posicionar suas forças ali. Em Kherson e Zaporíjia, também reivindicadas por Moscou, os territórios seriam divididos com base nas linhas de combate no momento da assinatura.
Garantir a incorporação das áreas ocupadas — cerca de 20% do território da Ucrânia — é um dos pilares das demandas russas à mesa de negociações. Com o avanço dos combates, o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, chegou a sugerir que aceitaria a concessão, mas o tema é espinhoso dentro do país, uma vez que, na prática, poderia ser encarado como a admissão da derrota.
Pelo plano de Trump, conforme citado pelo Axios, os EUA e outros países concordariam em reconhecer a soberania russa no Donbass e também na Crimeia, anexada em 2014, outra demanda antiga de Moscou e que é, ao menos agora, rejeitada por Kiev e pelos aliados europeus da Ucrânia.
Caso ganhe corpo, a proposta seria mais uma guinada na errática diplomacia trumpista para a guerra na Ucrânia, um conflito que ele prometia encerrar em 24 horas caso fosse eleito para a Casa Branca, no ano passado. Após uma frustrada reunião com o presidente russo, Vladimir Putin, em agosto, Trump chegou a sugerir a Zelensky que os ucranianos poderiam recuperar todos seus territórios e “ir além”. A Casa Branca também prometeu novas armas a Kiev, mas não o míssil de cruzeiro Patriot, e anunciou, no mês passado, pesadas sanções contra o setor energético russo, algo que Trump hesitava em fazer.
Agora, além de garantir aos russos o Donbass e parte de Zaporíjia e Kherson, além do reconhecimento da Crimeia, Trump parece novamente voltar a jogar no campo de Moscou, inclusive ao apresentar uma versão mais enxuta das garantias de segurança a Kiev.
Os ucranianos querem que os países da Otan, a principal aliança militar do Ocidente, liderada pelos EUA, apresentem garantias de que a Rússia não voltará a invadir seu território. Inicialmente, chegou a ser ventilada a criação de uma força de manutenção de paz, composta por tropas internacionais, algo vetado pelos russos.
De acordo com o Axios, Trump exigirá limites ao tamanho das Forças Armadas ucranianas — possivelmente de 400 mil homens — e sobre seu arsenal de armas de longo alcance em troca das garantias. O texto não estabelece de que forma elas seriam oferecidas, tampouco se trariam alguma cláusula ligada a futuras agressões do Kremlin. O Axios afirma que o principal conselheiro de segurança de Zelensky, Rustem Umerov, foi informado sobre a proposta pelo principal negociador americano, Steve Witkoff, e apresentou suas objeções. Uma reunião para discutir o plano em Ancara, na Turquia, com a participação de Zelensky, estava prevista para esta quarta-feira, mas foi cancelada.
