Nova ‘psicodelia’: EUA veem aumento no uso de substâncias psicodélicas em igrejas

 

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Em 2022, a Universidade de John Hopkins publicou uma pesquisa em que demonstrava que o uso de psilocibina, a substância psicoativa dos cogumelos alucinógenos, era altamente eficaz no tratamento da depressão. Duas doses do composto psicodélico seriam suficientes para, de acordo com pesquisadores da universidade, reduzir os sintomas por até 12 meses.

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Mas o uso de psicodélicos não é novidade nos Estados Unidos. Os anos 1960 são reconhecidos por alguns nomes: The Beatles, o movimento Flower Power e, óbvio, o ácido lisérgico, conhecido como LSD.

Timothy Leary, um psicólogo americano, ficou conhecido, na época, como um dos principais defensores do uso de psicodélicos como ferramenta terapêutica. Escritor de “The psychedelic Experience”, o livro cópia “O livro tibetano dos mortos” — um “guia” para a morte do budismo e um dos favoritos de John Lennon, frontman dos Beatles — guia o leitor durante o uso do LSD e da psilocibina.

Tratada como contracultura à época, agora, o uso de psicodélicos parece chegar às massas. Nos Estados Unidos, neste ano, duas igrejas foram liberadas pela Drug Enforcement Administration (DEA) — a agência federal dos EUA de combate às drogas — a utilizar a a ayahuasca, conhecida no Brasil como Daime, uma droga psicoativa, comumente utilizada em rituais xamânicos.

A Church of Gaia, em Spokane, Washington, foi a primeira igreja psicodelia a conseguir a liberação do DEA por meio de uma petição, sem a necessidade de processar pelo liberação do uso da droga.

O líder cerimonial Maestro Tito Amasifuen Valera diz que a Ayahuasca é uma oportunidade: “Ela tem um significado espiritual profundo nas culturas amazônicas indígenas. Não é só uma planta, mas um portal para entender a si mesmo, a natureza e a interconexão de tudo”.

A outra igreja que conseguiu a liberação este ano foi a Church of the Celestial Heart, que pratica o que eles chamam de Umbandaime, uma fusão entre duas religiões brasileiras: Santo Daime e Umbanda: “A Church of the Celestial Heart é uma religião sincrética que incorpora diversas religiões e tradições espirituais como o Catolicismo Esotérico, o Espiritismo Kardecista, a Umbanda, os ensinamentos de Chico Xavier e o xamanismo indigena brasileiro”.

Kai Karrel criou o Umbaidaime após estudos no Brasil

Reprodução/Youtube

O fundador da igreja, Kai Karrel, estudou no Brasil. Mais especificamente na Fraternidade do Coração, em Nazaré Paulista, no interior de São Paulo, que faz uso da Ayahuasca em conjunto com atividades religiosas, de leitura, expressão corporal, artística e devocional “que permeiam o Autoconhecimento, a Auto-observação e as Vivências Terapêuticas”.

A liberação para o uso da substância veio em maio deste ano. Em um comunicado a sua comunidade, a igreja afirmou que a vitória representa não só perseverança jurídica, “mas também nossa integridade espiritual e compromisso com o crescimento" É reflexo das poderosas mudanças e transformações que testemunhamos uns nos outros dentro e fora de nossas cerimonias”.

Embora ainda não tenha recebido a liberação, o centro de tratamento Singularism, em Provo, no Utah, já apareceu por diversas vezes na mídia americana defendendo o uso dessas substâncias psicoativas no tratamento de doenças como depressão e ansiedade.

Jensen fundou a Singularism após assistir à uma montagem de "O livro de Mormom" na Broadway sobre uso de psicodélicos

Reprodução/Singularism

Focado na psilocibina, o grupo, que faz parte de uma religião do mesmo nome fundada por Bridger Lee Jensen, ainda luta pela legalização de suas práticas.

Jensen fundou a Singularism após experimentar o que se chama de "ego death" durante uma montagem de O Livro de Mormon na Broadway. Ele, que estava sob uso de cogumelo, teria passado por um momento de "revelação" que o teria levado a fundar essa nova religião

Em 2024, eles tiveram parte de seu material confiscado pela polícia local. Mas em setembro deste ano, um juíz federal ordenou que os cogumelos fossem devolvidos ao seus donos e que “a polícia pare de interferir com o grupo e seu sincero uso religioso de psilocibina enquanto o caso estiver pendente”, de acordo com a revista Reason.

“O objetivo é perceber que o nosso ‘eu ordinário’, como normalmente o experimentamos, é uma ilusão”, disse Jensen à revista Rolling Stone: “Nós somos um com todas as pessoas, com nosso inimigo, com nosso amigo, com nossos ancestrais”.