Nomeação de ex-vereador condenado por antissemitismo causa mal-estar entre Nunes e comunidade judaica de SP

 

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A nomeação do ex-vereador Adilson Amadeu (União) como assessor especial da Secretaria Municipal de Relações Institucionais de São Paulo, na semana passada, tem gerado cobranças na gestão Ricardo Nunes (MDB) por parte da comunidade judaica e questionamentos até mesmo dentro da prefeitura. Isso porque Amadeu já foi condenado duas vezes por antissemitismo.

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No último dia 15, Amadeu foi indicado ao cargo pelo secretário Alexandre Leite, deputado federal licenciado do União Brasil e filho de Milton Leite, ex-presidente da Câmara Municipal de São Paulo. Nos bastidores, alguns secretários criticaram a escolha e o prefeito passou a ser cobrado diretamente por empresários judeus de diversos setores econômicos e integrantes de entidades judaicas para rever a escolha nos últimos dias, segundo o GLOBO apurou. Ainda de acordo com fontes próximas, o prefeito já sinalizou a esses empresários que pode rever a nomeação, mas até o momento Amadeu segue no cargo.

Em nota, a Confederação Israelita do Brasil (Conib) e a Federação Israelita do Estado de São Paulo (Fisesp) lamentaram a nomeação de Amadeu para o cargo. “Amadeu foi duas vezes condenado pela Justiça por antissemitismo e injúria racial, por declarações ofensivas e discriminatórias contra a comunidade judaica. Entendemos que não há espaço no serviço público para pessoas condenadas por crimes de ódio, preconceito e intolerância”, afirmam as entidades.

No mundo político, também houve cobranças explícitas e até mesmo o vice-prefeito, Mello Araujo (PL), se manifestou de forma contrária à chegada de Amadeu na prefeitura. Nas redes sociais, Fábio Wajngarten, ex-assessor e ex-secretário de Comunicação do governo Jair Bolsonaro (PL) criticou Nunes pela nomeação dizendo que "não foi para isso que fizemos incansável campanha".

“Não concordo e espero que o Prefeito quando tomar conhecimento tome providências. Não precisamos disso”, respondeu Mello Araújo, que foi alçado ao cargo de vice por Bolsonaro. Ao GLOBO, Mello disse que fez “colocações sobre o tema”, mas que em meio a tantas contratações “nem sempre sabe quem são as pessoas”.

Alguns secretários da administração municipal, segundo fontes ouvidas pela reportagem, também manifestaram desconforto com a situação e ponderaram que isso cria uma “saia-justa” para o prefeito, ainda que a indicação não tenha vindo dele.

Por outro lado, a nomeação de Amadeu encontra respaldo da família Leite, que mantém forte influência na gestão municipal, e seria uma forma de abrigar o ex-vereador, que está sem cargo após não ter conseguido se eleger em 2024 — atualmente, ele é suplente de vereador e só assumirá caso outros parlamentares do União deixem o cargo.

O GLOBO procurou Amadeu para comentar o caso, mas não recebeu resposta até o fechamento desta reportagem. A Prefeitura de São Paulo também não se manifestou.

Amadeu foi condenado em duas ações diferentes. Uma delas foi por conta de um áudio enviado por WhatsApp em abril de 2020, no qual o ex-vereador associou o judaísmo ao que chamou de "sem-vergonhice grande".

— É uma puta duma sem-vergonhice, que eles querem que quebra todo mundo, para todo mundo ficar na mão, do grupo de quem? Infelizmente também os judeus, quando eu até tô respondendo a um processo, porque quando entra Albert Einstein, Grupo Lide é que tem sem-vergonhice grande, sem-vergonhice de grandeza que eu nunca vi na minha vida — declarou na ocasião.

Por este caso, ele foi condenado em primeira e segunda instâncias no Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP). Na ocasião, a defesa do vereador alegou que Amadeu "sempre teve amizade com judeus" e que o áudio em questão foi compartilhado "com amigos de infância e que o seu alvo nunca foram os judeus, e sim a administração pública municipal e estadual, durante a pandemia".

A outra condenação ocorreu em 2022, por Amadeu ter xingado o então vereador Daniel Annenberg de “judeu filho da puta” durante uma votação na Câmara Municipal de São Paulo, em 2019. Neste caso, a condenação foi a um ano e quatro meses de prisão, mas nos dois casos, por ser uma pena menor, ela foi substituída por pagamento de multa e prestação de serviços comunitários.