'Não sabemos nada', diz ministro do Interior da Venezuela sobre viagem de María Corina Machado para receber Nobel da Paz em Oslo
O ministro do Interior da Venezuela, Diosdado Cabello, disse nesta segunda-feira não ter conhecimento dos detalhes da viagem a Oslo da líder da oposição María Corina Machado, ganhadora do Prêmio Nobel da Paz, que está na clandestinidade há mais de um ano. O Instituto Nobel confirmou no sábado que Machado participará da cerimônia na quarta-feira, 10 de dezembro. No entanto, até agora, nem seus familiares ou a equipe da ganhadora do prêmio revelaram detalhes sobre seu paradeiro.
Contexto: María Corina Machado receberá Nobel da Paz em Oslo, diz diretor do instituto responsável pela premiação
Entenda: Negociação com os EUA dá projeção inédita a chanceler Mauro Vieira
— Com relação a Oslo, não sei, não sabemos nada sobre isso, não participamos dessa licitação, é uma licitação, quem der o melhor lance leva — ironizou um dos principais expoentes do chavismo ao ser questionado sobre informações que indicam a presença de Machado na cerimônia de entrega do Prêmio Nobel da Paz. — Temos o melhor dos prêmios, este povo, o melhor dos prêmios é deste povo, é a tranquilidade em que vivemos e construímos nosso próprio destino, com nossas próprias mãos, não sabemos.
No mesmo dia da premiação a Machado, o chavismo se manifestará em Caracas.
— O que eu lhe digo é que no dia 10 teremos uma grande marcha. Estaremos marchando e relembrando a última proclamação do Libertador — anunciou Cabello.
O Comitê Norueguês do Nobel anunciou em 10 de outubro que concederia o prêmio de 2025 a Machado “por seu trabalho incansável na promoção dos direitos democráticos para o povo da Venezuela e por sua luta para alcançar uma transição justa e pacífica da ditadura para a democracia”.
A família de María Corina Machado e os primeiros chefes de Estado chegaram a Oslo, nesta segunda-feira. A mãe de Machado declarou na segunda-feira à AFP, no aeroporto de Oslo, que espera que sua filha vá receber o prêmio.
— Todos os dias rezo o rosário a Deus Pai, à Virgem, a ambos juntos, para que tenhamos Maria Corina amanhã — afirmou Corina Parisca ao chegar à capital da Noruega. — E se não a tivermos amanhã, é a vontade de Deus.
A mãe contou que nunca teria imaginado que sua filha receberia o prêmio e que soube muito cedo da notícia por uma de suas filhas. "Me acordaram às sete da manhã. E eu digo, foi a única vez que me acordaram às sete da manhã e não fiquei brava", brincou.
Machado permaneceu na clandestinidade por mais de um ano como resultado da crise pós-eleitoral que se desencadeou após a proclamação do presidente venezuelano Nicolás Maduro para um terceiro mandato consecutivo, que a oposição denunciou como fraude. Ela receberá o prêmio em meio à mobilização militar dos Estados Unidos no Caribe e no Pacífico, que já causou a morte de 87 pessoas.
Milei viaja para Oslo
O presidente da Argentina, Javier Milei, viajará nesta segunda-feira para a Noruega para assistir à entrega do Nobel da Paz à María Corina Machado, informaram fontes oficiais. Milei partirá às 20h locais e retornará a Buenos Aires na quinta-feira. Ele chegará a Oslo na terça-feira e, após participar da cerimônia de premiação na quarta-feira, será recebido pelo rei Harald V da Noruega. Em seguida, ele se reunirá com o primeiro-ministro norueguês, Jonas Gahr Store.
“A Argentina, ao lado da Liberdade e da Democracia, acompanhando @MariaCorinaYA na cerimônia do Prêmio Nobel da Paz em Oslo”, escreveu no X o chanceler argentino, Pablo Quirno, ao confirmar, no domingo, a presença de Milei na premiação.
A viagem de Milei coincide com a posse, na quarta-feira, dia 10, dos novos deputados e senadores no âmbito da renovação legislativa argentina de meio de mandato, na qual o oficialismo fortaleceu sua presença no Congresso.
Além do argentino, outros dirigentes latino-americanos, como o presidente panamenho, José Raúl Mulino; o equatoriano, Daniel Noboa; e o paraguaio, Santiago Peña vão participar da cerimônia na Prefeitura de Oslo, informou Mulino.
Já na Noruega, Mulino disse à AFP que viajou ao país pela mesma razão que outros presidentes "democráticos da região", para "dar uma grande congratulação a esta heroína da democracia, ao povo venezuelano lutador". E, ainda declarou que busca realizar "esforços comuns" entre os povos e os governos "para retornar quanto antes à democracia na Venezuela".
Perguntado se Machado já estaria em Oslo, ele respondeu:
— Deve chegar logo, tenho entendido que sim, mas estou contente por vê-la e lhe dar um abraço amanhã.
Em novembro, o procurador-geral da Venezuela declarou à AFP que Machado seria considerada "foragida" se deixasse o país para receber o prêmio.
Machado dedicou o Nobel ao "sofrido povo" da Venezuela e ao presidente americano, Donald Trump. A líder opositora, de 58 anos, apoia as operações lançadas por Trump em frente à costa da Venezuela contra embarcações supostamente usadas por narcotraficantes. Desde setembro, os Estados Unidos realizaram vários ataques mortais contra embarcações que alegam transportarem drogas no Caribe e no Pacífico, e acusam Maduro de liderar um cartel do narcotráfico.
Caracas nega e argumenta que o objetivo de Washington é derrubar o presidente venezuelano e tomar o controle do petróleo do país.
O diretor do Instituto Nobel, Kristian Berg Harpviken, informou, no sábado, que esteve em contato com Machado e que ela confirmou sua participação, mas que "dada a situação de segurança", não podia dar mais detalhes. Mais tarde, Harpviken disse à emissora de rádio NRK, que "nada é 100% certo no mundo, mas isto é tão certo quanto pode ser".
