Motorista que atropelou e arrastou mulher por 1 km vira réu por tentativas de feminicídio e homicídio
A Justiça de São Paulo recebeu a denúncia e tornou Douglas Alves da Silva réu por tentativas de feminicídio e homicídio em 29 de novembro. Na ocasião, segundo denúncia do Ministério Público, o homem de 26 anos avançou com o carro na direção de duas vítimas: Tainara Souza Santos, que ficou presa sob o veículo e foi arrastada por mais de um quilômetro, até a Marginal Tietê, e um homem, que conseguiu se esquivar.
Caso Tainara: motorista discutiu com a vítima momentos antes de atropelamento, diz testemunha
Quem é Tainara Souza Santos, jovem atropelada e arrastada por mais de 1 km na Zona Norte de SP
Douglas foi preso no dia seguinte por atropelar e arrastar Tainara Souza, com quem tivera uma discussão momentos antes do ato, segundo uma testemunha. O crime causou a amputação de ambas as pernas da vítima, que só sobreviveu, segundo o MP, "devido ao rápido socorro médico".
A denúncia oferecida pelo promotor de Justiça Leonardo Sobreira Spina foi recebida pela 2ª Vara do Tribunal do Júri da Capital. A acusação sustenta que Douglas agiu por motivo torpe (vil, infame), dificultou a defesa das vítimas e empregou "meio cruel no ataque".
"O Ministério Público sustentou que os elementos do inquérito comprovam a existência dos crimes e há indícios suficientes de autoria, destacando ainda risco à ordem pública, à instrução criminal e à aplicação da lei penal caso o réu fosse solto", disse o órgão, em nota.
A Justiça manteve a prisão de Douglas com base na gravidade concreta dos fatos, no comportamento do acusado após o crime e na necessidade de proteger as vítimas e testemunhas, disse o MP.
Testemunha relata crime
Kauan Silva Bezerra, que estava no veículo no momento do atropelamento, prestou depoimento sobre o caso. No dia do atropelamento, no último final de semana, ele e Douglas estavam juntos. Os dois se conhecem há quatro anos e saíram para um bar na Vila Maria, na Zona Norte da cidade, quando Douglas teria encontrado Tainara.
Segundo relatou Kauan, o amigo teria brigado com Tainara e, depois, Douglas chamou Kauan para que fossem embora do local. Eles entraram no veículo em que chegaram ao bar, um Golf.
Douglas teria dado uma volta pela região para voltar para a área do bar e acelerar de forma brusca, até atropelar Tainara e barbaramente puxar o freio de mão quando a mulher ficou presa embaixo do veículo. Ela teve as duas pernas amputadas e está em estado grave de saúde.
Segundo o advogado Matheus Lucena, que representa Kauan, o rapaz não presenciou o exato momento que a briga entre Douglas e Tainara começou no bar.
— É importante esclarecer que o Kauan fez tudo o que podia para impedir que o carro continuasse em movimento. Ele gritava com o Douglas e chegou a bater no painel várias vezes na tentativa de fazê-lo parar. O Douglas só reduziu a velocidade quando o Kauan disse que se jogaria do veículo. Tanto é verdade que, assim que o carro parou, o Kauan desceu imediatamente, e o Douglas voltou a fugir logo em seguida, o que demonstra que o Kauan jamais compactuou com aquela conduta — afirma o advogado Matheus Lucena, que representa Kauan.
Ele afirma que o rapaz está "profundamente abalado" pelo episódio e que o cliente tem "sofrido intensas crises de ansiedade desde então e está sob acompanhamento médico".
Douglas, ao ser encaminhado para o Fórum da Barra Funda para audiência de custódia, disse que não conhecia Tainara.
— Não conhecia, nunca nem vi na minha vida. Não briguei com ela. Não foi querendo (que a atropelei) — disse o homem.
O advogado Marcos Leal, que representa Douglas, afirmou que o cliente está arrependido.
— O Douglas disse categoricamente que nunca teve nada com ela. A motivação que foi passada é que houve uma briga no bar, ele tomou uma garrafada e essa garrafada gerou a revolta que causou essa coisa horrível. Ele está mega arrependido — diz Leal.
Douglas foi preso um dia após o crime em um hotel na Vila Prudente. Segundo a Secretaria de Segurança Pública (SSP), ele resistiu à abordagem e avançou contra um dos agentes, o que exigiu intervenção policial.
“O indiciado foi atingido e contido, sendo encaminhado ao Hospital Estadual Vila Alpina, onde recebeu atendimento médico. Em seguida, ele foi levado à delegacia e permaneceu à disposição da Justiça”, informou a pasta.
Na audiência de custódia, o suspeito informou para o juiz que apanhou dos policiais que o prenderam. A família do homem estaria sofrendo ameaças.
O GLOBO procurou a Secretaria de Segurança Pública, que informou que a abordagem "cumpriu todos os requisitos necessários e foi realizada dentro dos parâmetros de legalidade".
