Marina Silva minimiza críticas a hospedagens para a COP30: 'O tempo todo a gente só fala de colchão, de beliche'

 

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A um mês para o início da COP30, a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, minimizou as críticas a infraestrutura de Belém e ressaltou a vontade de discutir substancialmente a pauta climática. Durante a primeira participação dela em um painel da Academia Brasileira de Letras (ABL), a ministra ressaltou nesta terça-feira o “desafio enorme” da conferência diante do contexto de emergência climática e das guerras atuais, sejam conflitos bélicos ou tarifários.

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— Estou ávida para falar de substância, porque o tempo todo a gente só fala de colchão, de beliche, de não sei o que. É necessário, mas tudo isso é para que tenhamos uma COP para tomar decisões (sobre o clima) — disse Marina.

A ministra admite que a questão logística é um “problema”, apesar de reconhecer que os esforços dos governos federal e estadual “estão dando conta da parte de quantidade e qualidade em condições adequadas”. Marina chama atenção para o preço cobrado pela hospedagem — alvo de críticas internacionais —, definindo como um “absurdo” que se aumentem os valores das diárias em até 10 ou 15 vezes.

A ministra entende que o legado da COP30 deve ir além do que já está “mandatado”. Para Marina, o “pulo do gato está nas adicionalidades", que ajudam nas negociações no contexto do multilateralismo climático.

— São 195 países (signatários do Acordo de Paris) que, por consenso, tem que deliberar o que vamos fazer. É de uma complexidade (conseguir isso) conseguir isso nesse contexto político tão difícil.

A ministra espera que a COP30 “seja um novo marco referencial para os próximos 10 anos”:

— Temos que pensar a COP30 fora da caixa, mas também dentro dela. Esse é um processo de 33 anos, iniciado na Rio92. A conferência tem sua arquitetura e dinâmica que foi se estabelecendo. Mas, obviamente, se não rasgarmos a caixa, as coisas ficam sempre onde estão.

Segundo a ministra, o presidente da conferência, o embaixador André Corrêa do Lago, acerta ao tratar a COP30 como um mutirão. Marina entende que o evento tem o desafio de fazer a implementação do que já foi decidido em COPs anteriores. A COP29 foi encerrada, no ano passado, com a conclusão do livro de regras. Com isso, houve uma mudança de fase no Acordo de Paris, que passa da regulamentação para a execução.

Marina também repercutiu o baixo número de revisões das Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs) apresentadas à ONU, cujo prazo foi encerrado na semana passada. Apenas as NDCs encaminhadas até esta data limite delimitada pelo secretariado da Convenção do Clima (UNFCCC) estarão no relatório-síntese da ONU, que tem o objetivo de destacar os principais achados, progressos e recomendações para o evento.

— Até agora, foram 60 países que apresentaram suas NDCs. Se esses 60 países foram os do G20, aí já seria uma maravilha, certo? Porque juntos têm 86% das emissões de CO2 e mais de 80% do dinheiro. Se esse grupo resolver reduzir a emissão e combater desigualdade e pobreza, já é um grande feito. Mas a União Europeia ainda não apresentou sua NDC, os Estados Unidos estão fora do acordo de Paris.