Mais de 90% dos brasileiros apoia alertas sobre riscos do álcool em rótulos de bebidas, aponta Datafolha

 

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Nove em cada dez brasileiros defendem que as bebidas alcoólicas tragam advertências sobre os riscos à saúde, nos moldes das mensagens de alerta dos maços de cigarro. O dado faz parte de uma pesquisa Datafolha encomendada pela ACT Promoção da Saúde, divulgada pela Folha de S.Paulo. O resultado reforça um consenso crescente de que o consumo de álcool deve ser tratado com a mesma seriedade aplicada ao tabagismo.

O levantamento foi realizado em setembro, com 2.002 pessoas maiores de 18 anos, em todas as regiões do país. A margem de erro é de dois pontos percentuais. Segundo o estudo, 91% dos entrevistados apoiam a inclusão de advertências nos rótulos de bebidas alcoólicas, destacando riscos de doenças crônicas, dependência e acidentes relacionados ao consumo.

Restrições à propaganda e lacunas na regulação

A pesquisa também aponta que 69% dos brasileiros são favoráveis a restrições à propaganda de cerveja em televisão, redes sociais e eventos esportivos e culturais — ambientes de grande visibilidade entre jovens. Outros 73% acreditam que a publicidade de cervejas sem álcool pode estimular o consumo das versões alcoólicas, driblando regras mais rígidas de comunicação comercial.

Para Marília Albiero, coordenadora da área de alimentação da ACT Promoção da Saúde, os resultados revelam que a sociedade já reconhece o potencial nocivo das bebidas alcoólicas e deseja medidas de proteção. Ela ressalta, no entanto, que o tema ainda carece de regulamentação clara. “Não está definido quem deve tratar da rotulagem do álcool. A pauta surge de forma dispersa, em projetos de lei ou debates no Legislativo”, de acordo com a Folha de S.Paulo.

Marília Albiero lembra que a legislação brasileira restringe, desde 1996, a propaganda apenas de bebidas com teor alcoólico superior a 13%. Assim, a maioria das cervejas, com até 5%, ficou isenta da norma e passou a dominar o mercado publicitário. Para ela, é urgente atualizar as regras para refletir o cenário atual de consumo e exposição.

O estudo também revelou amplo apoio a políticas tributárias voltadas à saúde pública: 82% dos entrevistados defendem impostos mais altos sobre cigarros, 79% sobre bebidas alcoólicas e 67% sobre refrigerantes. Apesar disso, a coordenadora critica a manutenção de benefícios fiscais para concentrados de refrigerante na Zona Franca de Manaus. “É uma incoerência enorme: o setor segue protegido, mesmo sendo alvo de políticas de saúde em outros países”, afirmou.

A pesquisa ainda mostra apoio ao controle do tabagismo: 74% são favoráveis ao aumento anual de impostos sobre cigarros e 78% acreditam que as fabricantes deveriam reembolsar o SUS pelos custos de doenças provocadas pelo fumo. Além disso, 79% defendem a proibição dos cigarros eletrônicos, cuja comercialização e propaganda são vetadas pela Anvisa desde 2012.

Para a ACT Promoção da Saúde, os dados evidenciam que a população deseja mais transparência e regulação sobre produtos nocivos à saúde. O desafio, segundo a entidade, é transformar essa percepção social em políticas públicas efetivas e coerentes, capazes de equilibrar o interesse econômico e a proteção da saúde coletiva.