Lula quer ação de Trump para coibir envio de armas americanas ao Brasil
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva quer aprofundar em uma futura conversa presencial com o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, um debate sobre o envio ilegal de armas americanas ao país. O tema foi tratado de forma superficial na ligação de terça-feira, segundo auxiliares do brasileiro.
Integrantes do governo afirmam que os contêineres que saem dos portos brasileiros para os Estados Unidos passam por raio-X. Quando voltam ao Brasil esses contêineres, porém, não são inspecionados e, em muitos casos, trazem armas.
Ainda segundo autoridades brasileiras, as armas provenientes dos Estados Unidos também entram pela fronteira seca com países da América do Sul, entre eles o Paraguai. Esse armamento acaba nas mãos de facções criminosas, que controlam o tráfico de drogas em território nacional.
A abordagem do assunto faz parte da estratégia do governo do Brasil de expor a Trump que o combate ao crime organizado também exige ações dos Estados Unidos. Na ligação de terça-feira, Lula falou sobre o uso do estado americano de Delaware para lavar dinheiro fraudado de impostos no Brasil.
Na véspera da conversa, o secretário da Receita Federal, Robinson Barreirinhas, fez uma apresentação sobre as fraudes a Lula e a ministros em reunião no Palácio do Planalto. De acordo com investigações do órgão, o Grupo Refit teria movimentado R$ 72 bilhões em um ano, para ocultar lucros por meio de offshores em Delaware, que é um paraíso fiscal.
Um auxiliar de Lula diz que o governo brasileiro quer, de uma certa forma, expor a hipocrisia dos americanos, que têm promovido operações contra o tráfico de drogas no mar do Caribe e pressionado os países da região. Pelo raciocínio do Planalto, Trump cobra ações de outras nações enquanto não faz a lição de casa.
Nos últimos meses, os EUA incrementaram a presença militar no Caribe, oficialmente em missão contra os cartéis do tráfico, chegando a 15 mil soldados e oficiais, além de aeronaves de combate e navios de guerra, como o porta-aviões USS Gerald Ford. Em setembro, os militares começaram a atacar barcos que, de acordo com o Pentágono, eram usados pelos traficantes para transportar drogas, sem jamais apresentar provas. Ao todo, 21 barcos foram destruídos, deixando 83 mortos.
As operações na região também servem de pressão contra o regime de Nicolás Maduro na Venezuela. Navios de guerra americanos têm navegado em áreas próximas à costa venezuelana.
Em entrevista à TV Verdes Mares do Ceará nesta quarta-feira, Lula disse que mandou a Trump um documento com informações sobre o combate ao crime organizado no Brasil e defendeu a atuação conjunta para enfrentar as organizações criminosas. O brasileiro também ressaltou que é necessário usar ações de inteligência, não armas de fogo, nessa tarefa.
—Disse a ele (Trump) que era importante que a gente discutisse a questão do crime organizado, porque é preciso combater o crime organizado. E nós temos gente importante que pratica crime aqui no Brasil, que mora em Miami. Eu mandei um documento para ele dizendo o que nós tínhamos que fazer. E disse que nós estamos dispostos a trabalhar juntos para combater o crime organizado na fronteira. O crime organizado é um atraso — afirmou Lula.
