Lula minimiza índice de desaprovação do seu governo e diz que população desconhece realizações
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou nesta quinta-feira, durante entrevista com jornalistas, minimizou o resultado de pesquisas que mostram um empate técnico entre os que aprovam ou desaprovam o seu governo. Ele afirmou que o governo precisa mostrar seus resultados para que a população saiba o que está sendo realizado.
— Nós talvez não estejamos mostrando o que temos que mostrar. Acho que nós ainda não estamos mostrando o que somos capazes de fazer. Se ontem eu fizesse uma pergunta para os meus ministros que estavam lá, eu tenho certeza que a maioria dos ministros não sabiam de uma grande parte das coisas que foram apresentadas. É muito fácil você julgar um governo que tem só uma política. O José Serra foi julgado como ministro da Saúde por causa do genérico. Era só genérico. O Fernando Henrique Cardoso foi julgado porque era o real, era só o real.
Pesquisa Genial/Quaest divulgada na terça-feira, a última do ano, mostra estabilidade na aprovação ao governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT): 49% o desaprovam e 48% o apoiam. Como a margem de erro é de dois pontos percentuais para mais ou para menos, o resultado configura empate técnico, o que vem acontecendo nos últimos levantamentos. Em comparação com novembro, a aprovação oscilou um ponto para cima, enquanto o rechaço à gestão caiu.
O presidente ainda evitou comentar o anúncio da candidatura de Flávio Bolsonaro (PL-RJ) para disputar a Presidência contra ele em 2026, dizendo não escolher adversário.
— Sobre os possíveis adversários, eu não tenho capacidade de julgá-los. Se achar que pode ganhar, se lance e vamos para a disputa. Eu não vou julgar o filho do Bolsonaro, mas vamos ganhar as eleições — afirmou o presidente.
Flávio à frente de nomes da direita
Indicado há pouco mais dez dias pelo ex-presidente Jair Bolsonaro como seu sucessor nas eleições de 2026, o senador Flávio Bolsonaro (PL) largou à frente dos demais pré-candidatos da direita que disputam o espólio de seu pai na corrida ao Palácio do Planalto, mas tem a alta rejeição como desafio. É o que mostram dados da nova pesquisa Genial/Quaest, divulgada ontem, a primeira a medir o desempenho de Flávio desde o anúncio.
Se o pleito fosse hoje, o parlamentar tiraria do segundo turno Tarcísio de Freitas (Republicanos) — nome que tem a preferência de parte da oposição e do Centrão para representar o campo — e outros governadores de direita cotados para a eleição presidencial. No embate direto contra o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), porém, acabaria derrotado.
Nos seis cenários de primeiro turno testados pelo instituto, Flávio soma entre 21% e 27% das intenções de voto e só fica atrás de Lula, que marca entre 34% e 41% a depender da lista de candidatos. No cenário que inclui o governador de São Paulo, o atual presidente atinge 41%, ante 23% de Flávio e 10% de Tarcísio.
Já no segundo turno, a vantagem de Lula, que venceria todos os rivais, é a mesma — de 10 pontos percentuais — em disputas contra Flávio, Tarcísio e o governador do Paraná, Ratinho Júnior (PSD). Em um confronto entre Lula e os governadores de Goiás, Ronaldo Caiado (União), e de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), a dianteira do atual presidente vai a 11 e 12 pontos, respectivamente.
Na comparação com a pesquisa anterior, de novembro, Lula ampliou a distância para os governadores de direita — contra Tarcísio, a vantagem era de apenas cinco pontos percentuais no segundo turno —, em um cenário em que a expectativa com a economia registrou melhora (veja mais abaixo). O petista, no entanto, viu o senador Flávio Bolsonaro se aproximar após receber o aval do pai. No último levantamento em que o nome do senador foi testado, em agosto, o presidente tinha 16 pontos a mais no confronto direto.
Entraves para as urnas
Apesar de aparecer bem posicionado no levantamento, Flávio enfrenta dificuldade para unificar a oposição e corre o risco de não atrair o apoio de legendas como PP, União Brasil, Republicanos e PSD. O grupo tenta reverter o apoio de Bolsonaro ao filho. O próprio Flávio já deu indicativos de que pode abandonar o projeto político ao afirmar que sua eventual desistência tinha “um preço”, em referência a uma anistia para o ex-presidente. Após a má repercussão, disse que a candidatura é “irreversível”.
Outro desafio para Flávio é superar as resistências junto ao eleitorado. Segundo a Genial/Quaest, somam 60% os que dizem conhecer o senador e que não votariam nele, mesmo patamar de rejeição registrado por Bolsonaro, que está inelegível e preso por tentativa de golpe de Estado.
Esse índice é de 54% para Lula e de 47% para Tarcísio, que tem taxa de desconhecimento maior que a dos rivais (de 28%). A rejeição a Ratinho Júnior (39% o conhecem e não votariam nele), Zema (35%) e Caiado (40%) também é menor que a de Flávio hoje.
Em outra frente, a opção de Bolsonaro de indicar o filho para a disputa presidencial é vista como um erro pela maioria dos entrevistados (54%). O percentual se mantém alto, inclusive, entre os eleitores que se declaram independentes (56%), grupo que não se identifica nem com a direita nem com a esquerda e que será decisivo na escolha do próximo presidente. Entre eleitores da direita não bolsonarista, ainda assim, 38% consideram que Bolsonaro não deveria ter indicado Flávio, ante 16% dos que se declaram bolsonaristas.
Entre os eleitores que veem erro de Bolsonaro na escolha de Flávio, 19% acham que o ex-presidente deveria ter indicado a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro (PL), 16% avaliam que a opção deveria ter sido feita por Tarcísio e 11% citam Ratinho Júnior.
As ressalvas a Flávio se estendem ainda ao mercado, segmento com o qual buscou uma aproximação nos últimos dias, ao se reunir com gestores da Faria Lima, em São Paulo. A leitura de que a pesquisa mostra o senador pouco competitivo para vencer Lula — a reeleição do petista é vista como obstáculo a um ajuste fiscal — contribuiu ontem para o dólar fechar em alta de 0,74%, e o Ibovespa registrar queda de 2,42%.
Entre aliados de Flávio, a reação foi oposta. O grupo recebeu o levantamento com alívio e avalia que o resultado muda o “clima psicológico” da pré-campanha. O desempenho de Flávio, numericamente superior ao de Tarcísio, foi lido como um fator que reorganiza o debate dentro da oposição. O presidente do PL, Valdemar Costa Neto, indicou que pretende usar a pesquisa para convencer o Centrão a apoiar o correligionário.
A pesquisa fez 2.004 entrevistas entre os dias 11 e 14 de dezembro. A margem de erro é de dois pontos percentuais para mais ou menos.
