Linha do tempo do caso Zambelli: de hacker de Araraquara à renúncia do mandato
A deputada federal Carla Zambelli (PL-SP) renunciou neste domingo, (14), ao mandato na Câmara dos Deputados, três dias após o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes anular a decisão do plenário que havia preservado seu cargo e determinar a cassação imediata com posse do suplente, Adilson Barroso (PL-SP). Presa na Itália e condenada em dois processos criminais, a parlamentar encerra a trajetória no Congresso após uma sucessão de episódios que começaram na campanha eleitoral de 2022 e culminaram em embates institucionais entre o Legislativo e o Judiciário.
29 de outubro de 2022 — Perseguição armada na véspera da eleição
Às vésperas do segundo turno das eleições presidenciais, Carla Zambelli sacou uma arma e perseguiu um homem pelas ruas do bairro dos Jardins, em São Paulo. Imagens do episódio circularam amplamente nas redes sociais e mostraram a deputada correndo armada atrás do jornalista Luan Araújo, após uma discussão política.
O caso ocorreu apesar de decisão do TSE que proibia o porte de armas no período eleitoral. Especialistas ouvidos à época classificaram a conduta como ilegal e desproporcional, abrindo caminho para investigações criminais que mais tarde resultariam em condenação no STF.
Janeiro de 2023 — Invasão ao sistema do CNJ
Em janeiro de 2023, o sistema do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) foi invadido, e documentos falsos foram inseridos, incluindo um mandado de prisão fraudulento contra o ministro Alexandre de Moraes. A ação foi atribuída ao hacker Walter Delgatti Neto.
Posteriormente, as investigações apontariam que a invasão teria sido articulada para atacar o Judiciário e alimentar uma narrativa de descrédito contra o sistema eleitoral.
3 de agosto de 2023 — PF mira Zambelli e prende hacker
A Polícia Federal deflagrou uma operação contra Carla Zambelli para apurar sua possível participação nos ataques cibernéticos ao Judiciário. Foram cumpridos mandados de busca e apreensão em endereços da deputada e decretada a prisão preventiva de Walter Delgatti.
Na decisão, o ministro Alexandre de Moraes afirmou que o hacker agiu sob ordens de Zambelli para “expandir a narrativa fraudulenta contra o processo eleitoral”. Delgatti chegou a confessar a invasão e indicou a deputada como mandante.
29 de fevereiro de 2024 — PF indicia deputada e hacker
A Polícia Federal concluiu o inquérito e indiciou Carla Zambelli e Walter Delgatti pelos crimes de invasão de dispositivo informático e falsidade ideológica. Segundo a PF, Delgatti acessou o sistema do CNJ a pedido da parlamentar e inseriu dados falsos.
Zambelli negou as acusações e afirmou que jamais solicitou qualquer invasão de sistemas, enquanto a defesa do hacker reforçou que ele confessou os crimes e apontou a deputada como financiadora da ação.
15 de maio de 2025 — Condenação no STF por invasão ao CNJ
A Primeira Turma do STF condenou por unanimidade Carla Zambelli a 10 anos de prisão em regime fechado por orquestrar a invasão ao sistema do CNJ, além de multa milionária e perda do mandato. A decisão também tornou a deputada inelegível por oito anos, com base na Lei da Ficha Limpa.
Embora a perda do mandato dependesse do esgotamento de recursos, a condenação marcou um ponto de virada no caso, associando formalmente a parlamentar a crimes contra o Estado Democrático de Direito.
25 de maio a junho de 2025 — Fuga do país e prisão preventiva
Após a condenação, Zambelli deixou o Brasil pela fronteira com a Argentina e seguiu para os Estados Unidos, seguindo posteriormente para a Itália, país do qual possui cidadania. O ministro Alexandre de Moraes decretou sua prisão preventiva, apontando risco de fuga para evitar o cumprimento da pena.
Com a decisão, o nome da deputada foi incluído na lista vermelha da Interpol, tornando-a procurada internacionalmente.
29 de julho de 2025 — Prisão na Itália
Foragida, Zambelli foi presa na Itália após a inclusão de seu nome na lista da Interpol. Ela passou a aguardar, em território italiano, o desfecho do pedido de extradição feito pelo governo brasileiro.
A prisão no exterior ocorreu no contexto da condenação por invasão ao CNJ, considerada definitiva após a rejeição de recursos no STF.
30 de outubro de 2025 — Condenação definitiva por perseguição armada
O STF confirmou o trânsito em julgado da condenação de Zambelli por porte ilegal de arma e constrangimento ilegal no episódio de 2022. A pena fixada foi de cinco anos e três meses de prisão, autorizando o início da execução.
Com a decisão, o Supremo comunicou a Câmara dos Deputados sobre a possibilidade de iniciar o processo de cassação do mandato, somando essa condenação à já imposta no caso do CNJ.
11 de dezembro de 2025 — Câmara mantém mandato, STF reage
Mesmo após comunicação do STF determinando a perda imediata do mandato como efeito automático da condenação criminal definitiva, a Câmara dos Deputados votou e decidiu preservar o mandato de Zambelli.
No mesmo dia, Alexandre de Moraes declarou nula a decisão da Câmara, considerou a votação inconstitucional e determinou a cassação imediata do mandato, com ordem para que o suplente fosse empossado em até 48 horas.
14 de dezembro de 2025 — Renúncia ao mandato
Diante da decisão do STF que anulou a deliberação da Câmara e decretou a perda imediata do mandato, Carla Zambelli apresentou sua renúncia neste domingo.
A renúncia ocorre enquanto a ex-deputada segue presa na Itália, aguardando a definição sobre sua extradição ao Brasil para o cumprimento das penas impostas pelo Supremo Tribunal Federal.
