Legisladores de Indiana rejeitam novo mapa político de Trump
Os membros republicanos do Senado de Indiana contrariaram o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, na quinta-feira e se juntaram aos democratas para rejeitar um novo mapa do Congresso que teria posicionado o partido para conquistar todas as cadeiras da Câmara dos Deputados no estado. A votação de 19 a 31 foi uma derrota pública para Trump, que gastou um capital político significativo pressionando pela reformulação dos mapas nos estados liderados pelos seus correligionários e que repetidamente ameaçou com consequências políticas os pares de Indiana que não se alinhassem. A rebeldia contra o chefe do Executivo ocorre em um momento em que ele enfrenta outros sinais de divisões dentro de seu próprio partido.
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Em declarações aos repórteres no Salão Oval após a votação, Trump minimizou o resultado em Indiana, ponderando que “ganhou em todos os outros estados”. Ele também disse que esperava que o presidente interino do Senado de Indiana, que votou contra o mapa, perdesse a próxima primária.
A rejeição do mapa no Senado estadual, onde os republicanos detêm 40 das 50 cadeiras, ocorreu após meses de pressão presidencial que se tornou cada vez mais intensa nas últimas semanas, à medida que ficava claro que alguns resistentes não estavam cedendo. Trump citou alguns deles nominalmente nas redes sociais, questionando abertamente sua lealdade ao partido e prometendo apoiar adversários nas primárias contra eles.
À medida que o debate se tornava mais tenso, vários republicanos, tanto a favor quanto contra o novo mapa, relataram ameaças ou agressões. As divisões ideológicas e estilísticas há muito latentes entre os republicanos em Indiana vieram à tona, com muitas figuras de longa data ou institucionalistas que se opunham ao mapa entrando em conflito com conservadores alinhados a Trump que favoreciam o plano. Esperava-se que os republicanos revertessem as duas únicas cadeiras democratas no Congresso entre os nove distritos do estado se o novo mapa fosse aprovado.
No final, uma pequena maioria do grupo republicano do Senado votou contra o mapa.
O fato de os legisladores de Indiana terem votado mostrou, inicialmente, o poder duradouro que Trump exerce sobre seu partido. Muitos no Senado estadual não queriam debater o mapa, que foi proposto fora do ciclo normal de redistribuição distrital, que ocorre uma vez a cada década, e a liderança da Câmara cedeu e levou o projeto à votação somente depois que o presidente e seus aliados intensificaram sua campanha de pressão. A derrota do mapa, porém, revelou os limites do poder do magnata para subjugar os republicanos à sua vontade.
— Acredito que o projeto de lei é inconstitucional — disse o senador estadual Greg Walker, um republicano que se opõe ao redesenho distrital e que recentemente relatou um incidente de swatting em sua casa, uma forma de assédio no qual a polícia foi chamada para uma falsa emergência.
Outro republicano que se opõe ao novo mapa, o senador estadual Spencer Deery, disse que “não vê nenhuma justificativa que supere os danos que isso causaria à confiança do povo na integridade de nossas eleições e nosso sistema de governo”. Ele acrescentou que “é hora de dizer não à pressão de Washington, D.C.” e que “é hora de dizer não aos forasteiros que estão tentando governar nosso estado”.
Os apoiadores republicanos do plano apresentaram o novo mapa como uma forma de compensar a manipulação eleitoral dos democratas em outros estados e aumentar as chances de uma maioria republicana no Congresso. Alguns deles falaram em termos alarmantes sobre o que isso poderia significar para o país se os democratas assumissem o controle da Câmara dos Deputados dos EUA.
— Não quero acordar na manhã seguinte às eleições de novembro e descobrir que perdemos a Câmara dos Representantes por um voto — confessou o senador estadual R. Michael Young, um republicano que apoia a redistribuição distrital.
O senador estadual Mike Gaskill, outro republicano que apoia a redistribuição distrital, afirmou:
— O presidente Trump não está nos forçando a fazer isso. Ele está nos incentivando a fazer a coisa certa. A nos levantarmos e lutarmos.
A corrida armamentista pela redistribuição distrital que começou neste verão com os republicanos do Texas e que rapidamente se espalhou por todos os estados e partidos mostrou sinais de arrefecimento nas últimas semanas. Os republicanos do Kansas rejeitaram um plano apoiado por Trump para considerar um novo mapa em uma sessão especial, e os democratas de Maryland se dividiram publicamente sobre a redistribuição. O governador democrata de Illinois não buscou imediatamente um novo mapa, mas disse a repórteres locais que seu estado poderia redesenhar seu mapa se Indiana fosse adiante com a redistribuição distrital.
Os senadores de Indiana debateram o mapa na quinta-feira, enquanto manifestantes contra a redistribuição eleitoral se reuniam do lado de fora da câmara, entoando frases como “Mapas justos agora!”. Os democratas criticaram o mapa proposto como cínico e injusto, argumentando que ele dividia áreas com ideias semelhantes para maximizar a influência política republicana.
Indianápolis, reduto democrata do estado, teria sido dividida em quatro distritos de acordo com o mapa proposto. Esses distritos teriam combinado bairros urbanos com condados conservadores e rurais. Alguns democratas questionaram se a divisão da cidade, que tem populações significativas de negros e hispânicos, teria constituído uma manipulação racial ilegal.
— Por qualquer padrão de boa governança, este é um exercício de poder político sem precedentes e profundamente cínico — acusou o senador estadual J.D. Ford, um democrata que se opõe ao redesenho distrital, durante uma audiência do comitê no início da semana. — E é o velho ditado: só porque você pode, não significa que você deva.
Após a votação, alguns republicanos pediram para seguir em frente e se concentrar em outras questões, enquanto outros apontaram para as consequências do debate sobre o redesenho dos distritos eleitorais que ainda estava por vir.
O governador Mike Braun, um republicano que apoia o redesenho dos distritos eleitorais, disse em um comunicado que estava “muito decepcionado que um pequeno grupo de senadores estaduais mal orientados tenha se aliado aos democratas para rejeitar esta oportunidade de proteger os habitantes de Indiana com mapas justos e rejeitar a liderança do presidente Trump”.
— Em última análise, decisões como essa trazem consequências políticas — acrescentou Braun. — Trabalharei com o presidente para desafiar essas pessoas que não representam os melhores interesses dos habitantes de Indiana.
