Justiça inicia audiências e ouve testemunhas contra empresário que confessou ter matado gari em BH

 

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A Justiça de Minas Gerais inicia, nesta terça-feira, as audiências de instrução e julgamento do caso da morte do gari Laudemir de Souza Fernandes. O empresário Renê Nogueira Júnior confessou ter atirado no profissional de coleta de lixo, em agosto, no bairro Vista Alegre, em Belo Horizonte, e virou réu por homicídio triplamente qualificado, ameaça e fraude processual.

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Oito testemunhas de acusação serão ouvidas nesta terça no 1º Tribunal do Júri Sumariante, no Fórum Lafayette Criminal e de Família, no Centro de Belo Horizonte. Outra audiência, marcada para esta quarta-feira, deve ter os depoimentos das seis testemunhas de defesa, além do interrogatório de Renê.

Tiago Lenoir, que representa a família da vítima, diz ter "plena convicção que a justiça será feita".

— A família do gari Laudemir recebe o início das oitivas com um sentimento de alívio e esperança, porque este é o momento de reconstruir, em juízo, fatos que já estão bem delineados no inquérito. As testemunhas que serão ouvidas hoje e amanhã se encaixam de forma precisa com todas as provas já produzidas, mostrando um conjunto sólido e coerente. Todos os elementos do crime estão fartamente demonstrados, e a expectativa é de que, ao final da instrução, o acusado seja pronunciado e encaminhado ao Tribunal do Júri — destacou Lenoir.

O GLOBO tenta contato com a defesa de Renê.

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A mulher do empresário, a delegada da Polícia Civil de Minas Gerais Ana Paula Balbino, foi indiciada por prevaricação, por não ter agido embora soubesse que o marido era suspeito do crime, e por posse ilegal de arma, já que a pistola utilizada no caso pertencia a ela. Ela não foi denunciada porque o Ministério Público avaliou ser possível negociar os termos de um Acordo de Não Persecução Penal.

Ao oferecer a denúncia, a promotoria pediu que Renê seja julgado no Tribunal do Júri e pague ao menos R$ 150 mil à família do gari, se for condenado. O empresário alega que a morte foi um "acidente". Ele disse que tentou "atirar para cima" em meio a uma discussão de trânsito, mas os garis negaram ter havido qualquer briga.

O crime ocorreu em 11 de agosto. Laudemir levou um tiro e não resistiu aos ferimentos depois da suposta briga de trânsito. Testemunhas contaram que Renê ficou irritado por não conseguir passar com o carro enquanto o gari e seus coletas faziam a coleta de resíduos no bairro. Ele ameaçou a motorista do caminhão de lixo antes de abrir fogo contra os profissionais e ferir a vítima. O empresário foi preso horas depois, numa academia de alto padrão da capital mineira.

Mensagens obtidas pela polícia mostraram que ele orientou a mulher a entregar a investigadores outra arma, que não a pistola utilizada no disparo contra o gari, de calibre .360. O MP considerou que o crime foi cometido por motivo fútil, em via pública e com uso de arma ilegal. A perícia comprovou que o armamento pertencia a Ana Paula. Segundo a Polícia Civil de Minas Gerais, a delegada sabia que o marido usava as armas dela com frequência.

O empresário se exibia em vídeos com armas e com o distintivo da mulher. Os investigadores que o indiciaram pelo homicídio ressaltaram que o executivo tinha "fascínio" por armamentos e pelo cargo da companheira.

No último dia 12, a juíza sumariante Ana Carolina Rauen Lopes de Souza negou o pedido de Liliane França da Silva, que se apresentou como companheira de Laudemir, para indicar um advogado como assistente da acusação. A magistrada ressaltou que nenhum documento comprobatório da união estável foi anexado.