Justiça determina devolução do Gran Hotel Viena, hotel na Argentina marcado por rumores sobre Hitler e Perón; entenda

 

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O Gran Hotel Viena, em Miramar — cidade litorânea da província de Córdoba — foi inaugurado em 1942 com 84 quartos luxuosos; um spa termal com médico, enfermeira e massagista; um salão de jantar para 200 pessoas, mobiliado com porcelana inglesa, copos de cristal e talheres de prata; além de biblioteca, sistema de aquecimento, quartos com pisos de granito e mármore, lustres de cristal, elevadores, telefone, correios, agência bancária e usina própria de energia. Hoje, após atravessar diferentes fases de abandono e uso público, funciona como museu municipal. Uma decisão judicial recente, no entanto, determinou que o imóvel seja devolvido ao seu proprietário, a empresa Wandorf, reacendendo questionamentos sobre seu destino.

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Em decisão unânime, o Tribunal de Apelações de São Francisco, em Córdoba, anulou a sentença do tribunal inferior e priorizou os direitos de registro imobiliário sobre o uso municipal. Com isso, o Município de Miramar deverá devolver imediatamente o imóvel à Wandorf Company, empresa do setor imobiliário. A medida encerra uma disputa judicial que teve início em 2010.

Origem do empreendimento

A história do hotel começou em 1936, quando Máximo Pahlke, executivo da empresa alemã Mannesmann — fabricante de tubos sem costura —, chegou à região em busca de tratamento para a psoríase do filho e a asma da filha. Com a melhora dos problemas de saúde das crianças, decidiu investir cerca de US$ 25 milhões na construção de um hotel, inicialmente em sociedade com o proprietário de um estabelecimento de hospedagem e, posteriormente, por conta própria.

Assim nasceu o Viena, nome escolhido pela esposa de Pahlke em homenagem à sua cidade natal. Em 1941, ainda em fase de construção, o hotel já recebia hóspedes. Eles chegavam de trem até Balnearia, a 12 quilômetros de Miramar, e eram levados de perua até o local. Como o veículo não possuía janelas traseiras, os passageiros recebiam capas de chuva para proteger as roupas da poeira das estradas.

O hotel contava com uma adega de 10 mil garrafas de vinho, padaria própria e depósito de conservas. As garagens tinham bombas de combustível para uso exclusivo dos hóspedes. Em frente ao edifício, havia uma grande piscina, dividida em áreas de água doce e água salgada.

No café da manhã, cada hóspede recebia um exemplar da edição do dia do jornal La Nación. Para quem desejava ir à lagoa — cuja lama era comparada à do Mar Morto —, o hotel fornecia chapéus e sapatos. A lagoa ficava a cerca de 80 metros do prédio.

Abandono e rumores

Dois anos após a inauguração, a família Pahlke deixou o hotel. O local passou então a ser cuidado pelo chefe de segurança, Martin Krugger, que mais tarde foi encontrado morto em circunstâncias consideradas misteriosas. A partir daí, surgiram diversos rumores: de que o hotel teria sido usado para lavagem de dinheiro nazista, funcionado como hospital para soldados durante a guerra ou servido de refúgio para criminosos. Há ainda relatos de que Adolf Hitler e Juan Domingo Perón teriam se hospedado no local — versões nunca comprovadas e que compõem apenas parte das muitas histórias associadas ao Viena.

Fechado por anos e administrado em dois períodos por famílias argentinas, o hotel sofreu grandes danos em 1977, quando uma enchente destruiu parte significativa de sua estrutura. À época, o imóvel já pertencia havia 13 anos à empresa Wandorf, que realizava inspeções regulares e mantinha o pagamento de impostos e taxas, embora não utilizasse o edifício.

Em 1988, o município firmou um contrato de empréstimo para evitar ocupações ilegais. Em parceria com a Associação Amigos do Gran Hotel Viena, assumiu a manutenção do prédio e passou a organizar visitas guiadas. Em 2005, o hotel foi declarado patrimônio cultural local.

Em 2010, a empresa proprietária, após constatar a existência de uma “operação turística” sem autorização, solicitou à Prefeitura o despejo dos ocupantes. De acordo com a decisão judicial, a administração municipal “nunca deixou de reconhecer a propriedade e a posse do hotel” pela empresa Wandorf.

Os juízes destacaram que “ninguém pode mudar, por si só ou com o passar do tempo, a base de sua posse” e acrescentaram que as benfeitorias realizadas no local “não demonstram posse exclusiva”. Com isso, a sentença determinou que o município desocupe o imóvel “juntamente com tudo o que foi construído, pregado, plantado e fixado ao solo ali”.

O município informou que está analisando a decisão para avaliar se existem alternativas possíveis diante da determinação judicial.