Infância On/Off #4 | Comunicação: o poder das chamadas de vídeo com crianças
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O vídeo de Viviana, animada para ver a avó, é tão fofo que até viralizou. Com menos de 2 aninhos, ainda sem saber falar direito, a menina que mora na Sérvia balbucia alguma coisa parecida com “vovó”. Quando o pai pergunta se a criança quer ligar para ela, a filha morre de rir, apontando para o computador.
— A chamada de vídeo é uma forma de cultivar o amor — diz Elida Lopes, a avó de 63 anos de Viviana, moradora de Tiradentes (MG).
Se a tela tem um bom motivo para existir, é este: aproximar avós de seus netos que estão longe. E também pais, mães, tios, padrinhos e outros parentes de suas crianças distantes.
Videochamadas com crianças na primeira infância promovem a manutenção de laços familiares à distância, melhoram o aprendizado de palavras e desenvolvem algumas habilidades socioemocionais, como entender que é preciso esperar a vez do outro de falar.
— A gente vai brincando e cantando musiquinhas juntas. Dali a pouco, outra coisa chama a atenção, e ela já começa a dispersar. É assim mesmo — conta a avó, que aguarda a visita de Viviana no fim de novembro.
Enquanto isso, vamos falar das ligações por vídeo.
O que diz a ciência 🔬🧫
Pesquisadores canadenses da McGill University realizaram uma reunião de artigos já publicados sobre o tema e descobriram o seguinte:
As crianças podem reconhecer as pessoas e criar vínculos com indivíduos por meio de chamadas de vídeo.
Relacionamentos familiares podem ser mantidos por meio do uso regular de videochamadas, mesmo durante separações físicas prolongadas.
Interações sociais em grupo por chamadas de vídeo são mais eficazes do que telefonemas.
— A videochamada é um recurso de conexão entre a criança e os adultos da família. Ela não substitui o encontro presencial, mas aproxima as pessoas — explica Giana Bitencourt Frizzo, psicóloga coordenadora do Núcleo de Pesquisa e Intervenção em Famílias com Bebês e Crianças, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
O estudo canadense também encontrou evidências de que as conversas em vídeo podem ser tão eficazes quanto as interações presenciais para o aprendizado de palavras.
Há indícios ainda, segundo uma pesquisa da University of Göttingen (Alemanha), que não há diferenças na atenção e nas respostas das crianças às histórias contadas presencialmente ou por videochamadas.
Além disso, outras experiências já mostraram que ver e ouvir o pai ou a mãe por videochamada é emocionalmente reconfortante para crianças entre 17 meses e 5 anos.
O que você faria? 🤔
Seu filho ainda não completou 1 ano e você sabe que nessa idade a recomendação é zero telas, mas sua mãe, que mora longe, está com saudade do neto. O que você faz?
A) Não coloco meu filho na tela de jeito nenhum.
B) Faço uma ligação só de áudio para meu filho pelo menos ouvir a avó.
C) Faço rápidas chamadas de vídeos com minha mãe e meu filho.
O que o especialista faria? 🧐
“O ótimo é inimigo do bom”.
É assim que Georgene Troseth, professora de Psicologia e Desenvolvimento Humano na Vanderbilt University (EUA), começa seu artigo sobre as chamadas de vídeo com crianças na primeira infância.
Nada, diz ela, substitui o contato humano para o desenvolvimento das crianças. No entanto:
"As pesquisas realizadas até o momento sugerem que as videochamadas aproveitam a forma social pela qual o cérebro das crianças pequenas se envolve no aprendizado. Assim, elas parecem ser uma fonte poderosa de conexão social e de oportunidades para que as crianças desenvolvam atenção compartilhada, brinquem, aprendam palavras e adotem a perspectiva dos outros", diz o texto.
E isso serve para crianças pequenas também? Troseth conversou com a gente:
— Não há evidências de que bebês possam ser prejudicados por participarem de videochamadas, mas eles provavelmente não vão se interessar. Só quando já começam a entender palavras (como o próprio nome) é que eles passam a querer ver as pessoas que estão falando nas telas — conta.
A especialista também dá algumas dicas práticas:
Não crie expectativas irreais, saiba que a criança ficará entediada rapidamente. Então, não passe de dez minutos.
As crianças pequenas gostam de movimento. Então, dê preferência aos celulares e tablets — quem diria? — em vez de computadores.
Os adultos dos dois lados da chamada precisam participar:
1. O cuidador tem que direcionar a atenção da criança e narrar o que está acontecendo.
2. A pessoa do outro lado da chamada precisa usar bastante o nome da criança e preparar objetos, brinquedos ou atividades para interagir com ela.
Então, a resposta para a pergunta lá de cima é a letra C. Troseth explica o motivo de a B não ser a melhor solução:
— Ouvir alguém sem ver a pessoa pode ser confuso para bebês e crianças pequenas.
E uma dica adicional:
Conversar com amigos, vendo o rosto deles, também pode ser algo positivo para as crianças, especialmente em situações em que uma delas está doente, hospitalizada ou mudou de bairro e sente falta dos coleguinhas. Se for possível, promova essa experiência.
Ajuda digital 👩💻
Um documento produzido por pesquisadores da Early Childhood Australia, grupo de defesa da primeira infância, explica que bebês e crianças pequenas geralmente gostam de ver fotografias e vídeos digitais de si mesmos, de familiares e de colegas.
Essas imagens também aplacam as saudades da família que mora longe. Além disso, as redes sociais, com o tempo, acabam sendo um álbum de fotografia de fácil acesso da vida do seu filho.
Mas atenção: qualquer foto postada de crianças pode ser retirada de contexto por predadores sexuais, alerta Sheylli Caleffi, ativista pela proteção de crianças no ambiente virtual. Fotografias inocentes, das crianças sozinhas, são as mais cobiçadas por pedófilos.
Uma solução: crie perfis fechados e convide apenas as pessoas em que você confia. Caleffi recomenda que essa seja uma lista restrita apenas para avós, tios, padrinhos e os amigos mais íntimos mesmo.
Abaixo, uma dica de aplicativo para chamadas de vídeo com crianças:
Just Talk Family - focado na comunicação com crianças, tem recursos para brincadeiras em chamadas de vídeo.
Quer saber mais? 🤷🤷♀️
A série de documentários “Bebês em foco”, da Netflix, aborda o primeiro ano de vida das crianças.
O livro “Como falar para seu filho ouvir e como ouvir para seu filho falar”, de Adele Faber e Elaine Mazlish, aborda a comunicação entre adultos e crianças.
