Inédito: Tubarão-limão é registrado devorando peixe invasor em Fernando de Noronha; veja vídeo

 

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Um grupo de pesquisadores brasileiros registrou, pela primeira vez, o momento em que tubarões-limão aparecem devorando um peixe-jaguar — uma espécie invasora — nas águas de Fernando de Noronha. As imagens foram capturadas na região da Baía do Sueste, em março de 2024, e fazem parte do estudo feito em parceria com um professor da Universidade Internacional da Florida, publicado na revista Environmental Biology of Fishes (Biologia Ambiental dos Peixes, em português), no mês de setembro.

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Tubarão-limão é flagrado predando peixe invasor em Fernando de Noronha

Originário da América Central, o jaguar é um peixe de água doce que, por seu grande porte, tem certa resistência a diferentes níveis de salinidade. Os cientistas ainda não sabem como a espécie chegou até as águas salgadas de Noronha, mas acreditam que os animais foram introduzidos na região por ação humana.

— Provavelmente, algum morador ou trabalhador temporário da ilha trouxe esses peixes para cá, de navio, para tentar fazer uma criação e depois pescá-los nos açudes de Noronha. No entanto, parece que ele acabou proliferando, não se tornou um recurso alimentar do local e continua por aqui, em alguma proporção — explica a pesquisadora Bianca Rangel, uma das autoras do estudo.

A Baía do Sueste é uma área preservada desde a criação do Parque Nacional de Fernando de Noronha, em 1988, e tornou-se um "mini santuário" de tubarões. Nela, espécies como tubarão-limão, tubarão-tigre e tubarão-lixa aproveitam para caçar sardinhas, tartarugas e polvos, além de utilizar a região como um berçário, responsável por abrigar seus filhotes durante o primeiro ano de vida. Desde 2022, a baía está fechada para qualquer tipo de atividade recreativa, sendo permitida a entrada somente para fins de pesquisa científica.

— Mesmo antes de fechar completamente, a baía sempre foi muito importante para a alimentação dos tubarões. Essa é uma área bem produtiva, que serve tanto para alimentação, quanto para reprodução. Todo ano nascem filhotes de tubarão e podemos ver uma grande abundância de filhotes nessa praia — conta Rangel.


Região de Fernando de Noronha onde tubarão-limão foi flagrado predando peixe invasor

Mariano Correa

Apesar da proibição da entrada de pessoas na água, a pesquisadora pontuou que o tubarão-limão não costuma ter incidentes com humanos, mas podem se envolver em casos de mordidas acidentais.

— Não é um ataque como acontece, por exemplo, com o tubarão-tigre, que mordeu a perna de uma criança, mordeu o braço de um rapaz, uma vez que isso é considerado uma atividade de alimentação, mesmo que errônea. No caso do tubarão-limão, as mordidas resultam de trombadas — conta.

— Registramos nessas áreas mais rasas, ao redor da ilha, volumosos cardumes de sardinha, especialmente nas épocas de grandes ondas. Então, a probabilidade de encontro entre as pessoas praticando algum tipo de esporte e os tubarões acaba sendo maior. Isso pode resultar nas mordidas acidentais.

Aliado do ecossistema

Tubarão-limão é flagrado predando peixe invasor em Fernando de Noronha

Mariano Correa

Segundo Bianca Rangel, tanto os tubarões-limão, quanto os de outras espécies, além de raias e diferentes tipos de animais marinhos, possuem um papel crucial dentro das cadeias alimentares, o que os torna grandes aliados do ecossistema.

— Cada um ocupa um posicionamento e tem a sua importância, mas os tubarões acabam tendo uma importância até um pouco maior, porque eles atuam como predadores de topo. Isso significa que eles têm um papel de regulação de todo o ecossistema onde estão inseridos — detalha.

— Aqui em Noronha, por exemplo, o tubarão-limão se alimenta de cardumes de sardinha, de outros peixes, de polvo, do próprio tubarão-limão filhote... Ou seja, ele acaba regulando as populações das presas, além de autorregular a própria população — elucida a pesquisadora.

Rangel aproveita para pontuar que o tubarão-limão não se alimenta de qualquer sardinha, mas sim daquelas que já estão doentes, não conseguem acompanhar o cardume e acabam se perdendo dos demais peixes.

— Essa ação tem um papel muito importante para a manutenção da população de sardinhas, porque consegue manter o cardume dentro de um bom nível de saúde e genética. Ao deixar que apenas sardinhas saudáveis sobrevivam, os tubarões impedem a transmissão de doenças ou anomalias genéticas para as gerações futuras destes peixes.

*Estagiária sob a supervisão de Daniel Biasetto