ICE transforma Papai Noel em agente e dá recado duro a imigrantes ilegais nos EUA
O Papai Noel trocou o saco de presentes por um colete à prova de balas e armas na cintura. Em nova campanha publicitária do Serviço de Imigração e Alfândega dos Estados Unidos (ICE), gerou controvérsia ao retratar o personagem natalino como um agente de imigração, transmitindo uma mensagem severa direcionada a imigrantes indocumentados no país. Com uma estética natalina e um tom ameaçador, o vídeo promove a autodeportação imediata, oferecendo dinheiro, passagem aérea gratuita e um ultimato claro: partir voluntariamente ou ser preso e deportado.
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O vídeo mostra um homem sorridente usando o clássico casaco vermelho, gorro e longa barba branca do Papai Noel. A cena muda: ele coloca um colete à prova de balas, arma-se e exibe o logotipo do ICE no peito, enquanto detém imigrantes ilegais nas ruas, com o auxílio de outros agentes. Em seguida, o "Papai Noel do ICE" é visto processando um imigrante em uma instalação do governo antes de conduzi-lo até um avião para deportação. A propaganda incentiva imigrantes ilegais que estariam “escondidos” nos Estados Unidos a evitar a “lista” do Papai Noel caso escolham “se autodeportarem hoje”.
“Evite o ar gelado e a lista de crianças malvadas do Papai Noel! Autodeporte-se hoje mesmo com o aplicativo CBP Home, ganhe US$ 3.000 e passe o Natal em casa com seus entes queridos. O incentivo de férias é válido até o final de 2025”, diz a legenda do anúncio.
Segundo o Departamento de Segurança Interna (DHS), o valor do auxílio para autodeportação foi triplicado especialmente para o período natalino. O benefício seria concedido a pessoas que estão nos EUA ilegalmente e que se comprometam a deixar o país até o fim do ano, incluindo passagem aérea gratuita para o país de origem.
“Estrangeiros ilegais devem aproveitar esse presente e se autodeportar. Se não fizerem isso, nós os encontraremos, vamos prendê-los, e eles nunca mais retornarão”, afirmou na segunda-feira a secretária do DHS, Kristi Noem.
No mês de março, o governo Trump lançou uma versão atualizada do aplicativo “CBP Home” com o objetivo de simplificar o processo de autodeportação. O aplicativo, anteriormente conhecido como “CBP One”, foi utilizado pela administração Biden para facilitar a entrada legal de imigrantes nos Estados Unidos. Além disso, informações divulgadas pelo DHS em maio indicam que o custo médio para prender, deter e deportar um indivíduo sem status legal gira em torno de US$ 17 mil (cerca de R$ 94 mil) — quantia que o governo busca diminuir ao promover a saída voluntária.
Trump, que assumiu o cargo em janeiro prometendo deportações em níveis recordes, agravou a repressão à imigração mesmo diante da reação negativa, inclusive entre seus próprios apoiadores. Apesar de ter prometido deportar um milhão de imigrantes anualmente, sua gestão já expulsou aproximadamente 622 mil pessoas em 2025, incluindo um número considerável que escolheu a autodeportação.
Ações mais contundentes são prometidas
Ainda assim, membros do governo sugerem que o presidente está se preparando para uma ação ainda mais contundente em 2026, com bilhões de dólares em novos fundos, incluindo operações expandidas em locais de trabalho, em meio à crescente pressão política antes das eleições legislativas de meio de mandato.
Ao longo deste ano, agentes federais realizaram diversas operações de grande repercussão em empresas, mas em geral evitaram fiscalizações em fazendas, fábricas e outros negócios economicamente estratégicos, conhecidos por empregar imigrantes sem status legal.
Com a aprovação, em julho, de um amplo pacote de gastos pelo Congresso controlado pelos republicanos, o ICE e a Patrulha de Fronteira receberão US$ 170 bilhões (cerca de R$ 940 bilhões) em recursos adicionais até setembro de 2029 — um salto expressivo em relação aos orçamentos anuais atuais, de cerca de US$ 19 bilhões (aproximadamente R$ 105 bilhões).
Segundo autoridades do governo, o plano inclui a contratação de milhares de novos agentes, a abertura de centros de detenção, o aumento de prisões em cadeias locais e parcerias com empresas privadas para localizar imigrantes sem documentação. Além da ampliação das ações de fiscalização, Trump retirou o status legal temporário de centenas de milhares de imigrantes haitianos, venezuelanos e afegãos, ampliando o número de pessoas sujeitas à deportação.
Tom Homan, o “czar da fronteira” da Casa Branca, declarou que Trump cumpriu seu compromisso de conduzir uma operação de deportações sem precedentes, expulsando criminosos e bloqueando a imigração ilegal na fronteira entre os Estados Unidos e México. De acordo com ele, o número de detenções deve aumentar significativamente com a contratação de novos agentes e expansão da capacidade de detenção.
“Acho que vocês vão ver esses números explodirem no próximo ano”, disse Homan, acrescentando que os planos “absolutamente” incluem mais ações em locais de trabalho.
Reações às deportações preocupam
A escalada das deportações ocorre apesar de sinais claros de reação política. Miami, uma das cidades mais impactadas pela política migratória de Donald Trump devido à grande população imigrante, elegeu na semana passada após três décadas, um prefeito democrata. O resultado foi atribuído, pelo prefeito eleito, à insatisfação da população com o governo federal. Outras eleições locais e pesquisas indicam um crescimento da preocupação entre os eleitores em relação às estratégias migratórias cada vez mais hostis.
As pessoas estão começando a ver isso não apenas como uma questão de imigração, mas como uma violação de direitos, do devido processo legal e uma militarização inconstitucional dos bairros. Não há dúvida de que isso é um problema para o presidente e para os republicanos”, afirmou Mike Madrid, um moderado estrategista político do Partido Republicano.
A diminuição do apoio evidencia esse contexto: a aprovação geral de Trump quanto à política de imigração caiu de 50% em março — período anterior ao início das grandes operações — para 41% em meados de dezembro.
