Herói dos títulos das 'vacas magras', Petkovic fala com orgulho do status de ídolo e comenta Flamengo atual: 'Melhorou 1000%'
Neste sábado, um Flamengo poderoso economicamente tem a chance de conquistar a quarta Libertadores de sua história. Mas quando a época era de “vacas magras”, um sérvio bom de bola ajudou — e muito — a manter a auto-estima do rubro-negro lá no alto, com títulos inesquecíveis como do Brasileirão de 2009 e do Carioca de 2001. Não à toa, Petkovic é lembrado com tanto carinho pela torcida, que o pôs em 9º no ranking de maiores ídolos do clube na eleição do EXTRA. Pé quente, esteve em Lima em 2019 e está novamente hoje, junto com a Nação, na torcida pelo time com o qual mais se identificou ao longo da carreira.
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Na eleição do EXTRA para o especial dos 130 anos do Flamengo, você ficou no top-10 do ranking dos maiores ídolos, à frente de nomes de peso como Andrade, Adriano e Dida, e atrás apenas de jogadores das gerações multicampeãs dos anos 1980 e dos últimos anos. Qual é o sentimento de ser reconhecido como um dos grandes jogadores do clube de maior torcida do Brasil?
Esse reconhecimento me enche de orgulho. Porque isso não é pouca coisa. Significa muito, principalmente para um cara que veio de longe, de outro continente, outro país, outra cultura. Não foi fácil vir aqui, em um país tão histórico como o número 1 do futebol mundial, em um clube tão grande. É o reconhecimento do meu trabalho, dos meus feitos. Muito feliz por poder deixar marcas mais positivas do que negativas. É honra demais.
Você passou por sete clubes no Brasil, incluindo dois grandes rivais do Flamengo (Vasco e Fluminense). Por que acha que a identificação com a torcida rubro-negra se tornou maior do que com as outras?
Vários fatores levam a esse reconhecimento. Mais títulos, mais conquistas, mais tempo jogado e os momentos marcantes em que eu tive a sorte de ser o protagonista direto em conquistas tão importantes para o clube.
O que você acredita que pesou mais para essa idolatria: o gol de falta na final do Carioca de 2001 ou o título do Brasileiro de 2009, que encerrou um jejum de 17 anos do clube?
Acho a conexão muito grande entre uma coisa e outra. O de 2001 tem tanta importância que se arrasta pela vida toda. Final contra o time que, naquele momento, era favorito; o tetra tri, o gol nos últimos minutos do jogo… Foi um carimbo para entrar na prateleira dos ídolos. E 2009 foi a coroação da minha idolatria para sempre, pelas circunstâncias que levaram ao título: meu retorno ao clube depois de sete anos, a importância da contribuição junto aos meus amigos de clube... Um foi o carimbo, o outro, o selamento.
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Hipolito Pereira
Além dos títulos, há algum outro momento que você guarda com carinho?
Tiveram muitos momentos… Teve o parabéns do Maracanã inteiro. Outro que guardo com carinho é deixar os meus pezinhos no Hall da Fama do Maracanã; foi na época, em 2009, quando eu estava vestindo a camisa do Flamengo... Tem outro também, que é a minha despedida. Eu sou um felizardo, sobretudo porque tenho muitos momentos marcantes. Espero ter sido merecedor de tudo isso.
Como é o contato com o torcedor do Flamengo nas ruas?
O torcedor até hoje fala comigo, reconhece, tira foto, relembra a história… Falam muito mais do gol de 2001 do que do título de 2009. Lembram onde estavam no dia... As histórias são impressionantes. Deviam ser recolhidas e colocadas em um filme, livro...
Você conquistou títulos pelo Fla em um período em que o clube atravessava grandes dificuldades financeiras e atrasava salários recorrentemente. Como era viver aquele Flamengo das “vacas magras”, ainda desorganizado, e mesmo assim ser campeão?
Acho que não tem sentido comparar épocas. Na época do Zico também era diferente… Mas a nossa era realmente difícil. Tínhamos que trabalhar e pensar como seria o amanhã, se íamos receber ou não. Eu talvez tenha sofrido mais com atrasos — os meus eram de oito meses, outros de três —, mas talvez tivesse mais condições de aguentar economicamente essas turbulências dessas “vacas magras”. Mesmo assim, conseguimos ganhar títulos e cumprir com nossos deveres. Eram bons jogadores. Havia também uma discrepância salarial muito grande. Tinha jogador que dependia do salário para sustentar a família. Hoje em dia está totalmente diferente. A infraestrutura melhorou 1.000%, salário em dia, graças a Deus, valores salariais bem melhores, não há essa discrepância; o que ganha menos hoje recebe muito mais do que o necessário para o sustento familiar, já consegue planejar, garantir futuro. É importante ressaltar isso, mas cada um viveu sua época. Tivemos que nos adaptar, era mais difícil, com certeza, mas nem por isso demos mole. Eram guerreiros junto comigo, e conseguimos deixar marcas positivas.
Ao lado de Adriano Imprador, Petkovic liderou o Flamengo na conquista do Brasileiro de 2009
Jorge William / Acervo O GLOBO
Você tem se preparado para exercer novas funções fora de campo? Seu nome já foi ventilado na política rubro-negra para assumir cargos como gerente ou executivo. Pensa em trabalhar no clube?
Me preparei e exerci. Já fui técnico, diretor, trabalhei nos clubes. O que mais queria fazer era ser diretor esportivo. Depois, a vida me levou para o jornalismo, a televisão, os programas, os comentários. E foi uma experiência fantástica. Respeito o Flamengo, fui ventilado várias vezes, mas nunca se concretizou. Se eu espero trabalhar um dia no Flamengo? Agora não espero mais. Já esperei três vezes e agora não espero mais. A vida segue. Já fui enganado suficientemente. Chega, chega de ser enganado mais.
Como você enxerga essa fase atual, de poderio econômico e títulos em abundância?
O Flamengo sempre teve um ponto muito importante de partida: criou uma Nação. Esse poder das arquibancadas, esse pulmão leva o clube. E era essa potência que ele precisava reorganizar para poder viver aquilo que merece, que conseguiu pela história: ser o maior e ter uma Nação apoiando. Isso leva a títulos, a dinheiro, a poder econômico… Não te deixa o melhor absoluto, porque tem que botar o trabalho em prática. Nunca se vai ganhar tudo, mas a busca tem que ser incessante. O Flamengo, organizado, bem liderado e com uma boa gestão, vai sempre levar mais alegria ao torcedor do que tristeza.
Quais jogadores desta geração vitoriosa recente, de 2019 para cá, você mais admira?
Acho que os mais importantes agora são Bruno Henrique e Arrascaeta, porque eles são remanescentes de 2019 e responsáveis pelo Flamengo ter ganhado todos esses títulos nesses últimos seis anos.
Quem você gostaria que fizesse um possível gol do título da Libertadores hoje?
O torcedor é quem tem que fazer um golaço. Em final, é muito importante esse apoio das arquibancadas. O importante é que essa história com Lima se repita depois de seis anos. Quem fizer o gol é o que menos importa. Vamos comemorar e ficar felizes com todos os jogadores, independentemente de quem seja o protagonista da final.
