Guga Chacra: Pyramids, adversário do Flamengo na semifinal do Intercontinental, é o novo rico do Egito
O Pyramids que enfrentará o Flamengo na semifinal da Copa Intercontinental da FIFA nunca foi campeão do Egito, sua torcida é minúscula e sua fundação ocorreu poucos anos atrás. Nada tem a ver com a tradição do Al Ahly, que estamos acostumados a ver enfrentando equipes brasileiras em torneios internacionais, como o Palmeiras na Copa de Mundo de Clubes em junho deste ano.
Na verdade, o Pyramids sequer possuía este nome. Quando foi formado, em 2008, tinha o nome de Al Assiouty, em homenagem à cidade que representava. Cerca de uma década mais tarde, foi comprado pelo Fundo de Esportes da Arábia Saudita e transferido para o Novo Cairo (Al Qahera Al Gedida, um árabe), uma cidade artificial construída próxima à capital do Egito. Seria uma versão moderna do Cairo, para onde foi transferido também o Museu do Egito, a tradicional Universidade Americana do Cairo, muitas empresas e parte da elite local, que busca distância do caos da gigantesca metrópole com uma população de milhões de habitantes como o Rio de Janeiro e São Paulo.
O nome Pyramids tem origem no marketing para atrair atenção internacional. Afinal, quando falamos a palavra “Egito” associamos imediatamente a Pirâmides - aliás o próprio país, que tem o nome de Misr em árabe, adota "Egito" internacionalmente por ser uma denominação muito mais conhecida. Fica mais fácil vender. Mesma linha segue o Ceramica Cleópatra, um time de um multimilionário empresário-político egípcio que também fundado duas décadas atrás. Hoje, ambos ocupam as duas primeiras colocações na Liga do Egito, algo quase inédito.
O Pyramids e o Cleópatra, que sequer fica em Alexandria, são completamente diferentes dos gigantescos Al Ahly, que significa “Nacional” em árabe, e do seu n rival Zamalek, que equivalem ao Flamengo e ao Fluminense. Fundado em 1907, o Al Ahly conquistou 45 vezes o campeonato egípcio e 12 vezes a Liga dos Campeões da África, que equivale à Libertadores no continente africano.
O clássico Al Ahly versus Zamalek seria para o Cairo como um Boca-River em Buenos Aires ou Corinthians e Palmeiras em São Paulo. Já o Pyramids seria como o Bragantino ou o Mirassol, com todo o respeito aos dois times paulistas. Montou um time forte graças ao capital saudita e ganhou a Liga da África. Não desperta paixões. Já os torcedores do Al Ahly e do Zamalek são contados às dezenas de milhões e cantam como torcidas na Bombonera ou no Maracanã. Foram também os líderes dos protestos em 2011 na raça Tahrir na Primavera Árabe.
O Zamalek especialmente ainda tem a curiosidade de ser muito parecido com clubes brasileiros por ter uma sede social e equipes dos mais variados esportes, como o polo aquático, natação, vôlei, basquete e squash, modalidade que os egípcios são os melhores do mundo. Aliás, existe no Egito essa tradição de clubes esportivos como no Brasil. Ir ao Zamalek, ou a outros como. O Sporting, Gezira e Maadi, é como visitar o Pinheiros, o Paulistano, o Minas Tênis Clube ou o próprio Flamengo com suas piscinas, quadras, campos e restaurantes. Há alguns mais elitistas como os cariocas Country e Caiçaras, ou Harmonia de São Paulo.
Não está claro se a força do Pyramids será algo que se prolongará por anos ou em pouco tempo retornará para posições intermediárias. Mas dá para cravar que jamais terá uma torcida como a do Al Ahly, assim como o São Caetano nunca teve uma fração dos torcedores do Corinthians.
Como última curiosidade, o futebol egípcio é dominado pelo Cairo. Apesar de gigantesca e com uma história que remonta à sua fundação por Alexandre O Grande, Alexandria não tem clubes competitivos. O Al Itihad, por exemplo, está na zona de rebaixamento e nunca foi campeão do Egito.
