Grupo ligado ao União Brasil migrou do Rioprevidência para fundo de Itaguaí e pagou mais de R$ 1 bilhão ao Banco Master

 

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Dirigentes que passaram por dois institutos de previdência no estado do Rio participaram da aquisição de mais de R$ 1 bilhão em papéis do Banco Master, cujos donos são investigados pela Polícia Federal por gestão fraudulenta. Os aportes, entre novembro de 2023 e julho de 2024, partiram do Rioprevidência, que representa os aposentados e inativos do governo estadual, e do fundo de previdência de Itaguaí (Itaprevi), e ocorreram sob gestões ligadas ao partido União Brasil.

Em Itaguaí, município da Baixada Fluminense, as aquisições ocorreram apenas duas semanas depois de a advogada Fernanda Pereira da Silva Machado assumir a presidência do fundo. Antes, ela havia participado do credenciamento do Banco Master pelo Rioprevidência, o que abriu caminho para que o instituto estadual investisse em papéis do banco. Ela foi nomeada gerente de controle interno do Rioprevidência no início da gestão de Deivis Marcon Antunes, que assumiu o instituto estadual com apoio do partido em julho de 2023.

Documentos do Rioprevidência mostram que advogada pediu demissão do instituto estadual em 12 de junho de 2024, no mesmo dia em que foi nomeada presidente do Itaprevi. Na semana seguinte, Fernanda participou da reunião do comitê de investimentos do fundo de Itaguaí, que aprovou aportes “junto a instituições financeiras cadastradas”. Em seguida, o instituto fez duas compras de letras financeiras do Master, nos dias 28 de junho e 3 de julho, que somaram R$ 60 milhões.

No mesmo período, o Rioprevidência fez os últimos dos seus R$ 970 milhões em aportes no Master, iniciados em outubro de 2023. À época, Fernanda, ainda no Rioprevidência, aprovou parecer que dizia que o Master “cumpre os requisitos estabelecidos” para receber os aportes, que seriam “responsabilidade exclusiva do Diretor de Investimentos”.

O cargo era ocupado por Euchério Lerner Rodrigues, nomeado no Rioprevidência no mesmo dia em que o Master solicitou seu credenciamento. Uma apuração do Tribunal de Contas do Estado (TCE) chamou de “notável coincidência” a proximidade entre as nomeações e os aportes.

‘Prazo apertado’

Em dezembro de 2024, quando já ganhavam força as suspeitas de que o Master poderia quebrar, o conselho de previdência de Itaguaí fez uma reunião que manifestou preocupação com a “situação crítica em desfavor do banco”, que colocava o investimento em risco. Conforme a ata da reunião, a presidente do Itaprevi alegou que as compras de papéis do Master se deram em curto espaço de tempo devido a um prazo apertado “para atingir a meta de investimentos”.

Fernanda pediu ainda que constasse em ata “a resposta do Rioprevidência”, a mesma instituição na qual ela havia trabalhado, e que também era alvo de questionamentos.

Procurada pelo GLOBO, a advogada afirmou que não interveio na decisão do fundo de Itaguaí de comprar papéis do Banco Master, e que o procedimento se iniciou antes de sua gestão. Ela disse ainda que determinou uma investigação interna no Itaprevi contra uma servidora que, entre 2018 e 2021, já havia realizado aportes em fundos ligados ao dono do Master, Daniel Vorcaro.

No mês passado, Fernanda também acionou o Ministério Público junto ao Tribunal de Contas da União (TCU) para pedir investigação contra o Banco Central, por sua atuação no caso do Banco Master. Segundo a advogada, o BC cometeu “falhas sistêmicas de fiscalização” que induziram fundos de previdência a comprar papéis do Master.

— Nada disso ocorreria sem um pacto silencioso de omissão, sem um apagão regulatório. Não admitimos a narrativa absurda segundo a qual pequenos quadros técnicos dos RPPS (regimes de previdência) deveriam ter sido mais criteriosos do que centenas de analistas do BC — alegou.

Cercado de aliados

Além de Euchério e Fernanda, o presidente do Rioprevidência, Deivis Antunes, se cercou de outros aliados no fundo estadual. Ao menos três nomeados por Deivis para cargos de confiança — o diretor Alcione Soares, o gerente de apoio jurídico Carlos Felipe Lima e a chefe de gabinete Camilla dos Santos — já haviam atuado com ele em outro fundo de previdência, o Refer, voltado para o setor ferroviário.

Deivis e o trio foram alvos de uma ação judicial do Refer, após deixarem aquele fundo, acusados de autorizarem pagamentos que deram desfalque no caixa. Outro investigado por sua atuação junto a Deivis no Refer foi o ex-secretário de Transportes do governo do Rio, André Luiz Nahass, também indicado à secretaria pelo União Brasil. Nahass já atuou com Deivis em defesas de clientes no Superior Tribunal de Justiça (STJ); ambos são advogados de formação.