Grupo de WhatsApp do PT tem troca de acusações após Motta cortar relação com líder do partido na Câmara

 

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Integrantes do diretório nacional PT tiveram um entrevero após o presidente da Câmara, Hugo Motta, ter anunciado nesta segunda-feira que cortou relações com o líder do partido na Casa, o deputado Lindbergh Farias (PT-RJ). No grupo de WhatsApp do diretório, o atual prefeito de Maricá, Washington Quaquá, alfinetou o líder petista na Câmara, Lindbergh Farias; ambos são adversários dentro do partido no Rio. Em seguida, Lindbergh colheu algumas manifestações de apoio.

Em uma publicação no grupo, Quaquá acusou o colega de partido de querer "ganhar votos do aquário da classe média" ao brigar com Motta, em vez de "ajudar o governo".

"Um líder do partido do governo que quer brigar com presidente da Câmara, está de fato ou querendo ajudar o governo... Ou ganhar os votos do aquário da classe média que elege deputados mas não ajuda a disputar o país!", escreveu Quaquá.

O prefeito de Maricá fez menção também a uma entrevista de Lindbergh, nesta segunda-feira, na qual líder do PT chamou a atitude de Motta de "imatura" e criticou a forma como o presidente da Câmara vem conduzindo a pauta de votações. Segundo Quaquá, seu comentário no grupo era um "alerta" ao colega de partido para ter "responsabilidade e compromisso" com o governo.

A mensagem de Quaquá foi rebatida por alguns membros do diretório, que se solidarizaram a Lindbergh. O ex-deputado Geraldo Magela (PT-DF), por exemplo, disse que todos os líderes partidários têm tido dificuldades com Motta, a quem chamou de "pessoa sem a devida qualificação para o cargo".

"Todos os que conhecem o Congresso Nacional sabem das dificuldades que os líderes estão enfrentando com o Hugo Motta. (...) E o Lindbergh precisa cumprir o papel de líder do PT e muitas vezes tem de fazer o enfrentamento! Não tem como ser diferente…", escreveu.

Procurado pela reportagem, Lindbergh disse que "não viu" a mensagem de Quaquá.

Reservadamente, integrantes do diretório nacional do PT avaliam que a briga envolvendo lideranças do partido no Rio vem se estendendo além do desejável. No mês passado, Quaquá e Lindbergh também se desentenderam, nas redes sociais, após o prefeito de Maricá acusar o colega de partido de usar a máquina do governo federal para "fazer política própria". À época, o líder do PT reagiu chamando o prefeito de "figura desprezível".

A disputa mira a definição de candidaturas para as eleições de 2026. O grupo mais próximo a Lindbergh, que inclui ainda o atual secretário do Ministério de Relações Institucionais, André Ceciliano, apoia uma candidatura da deputada Benedita da Silva ao Senado. Quaquá, por outro lado, já defendeu publicamente lançar o sambista Neguinho da Beija-Flor ao cargo.

Ceciliano, que já foi presidente da Assembleia Legislativa, avalia uma candidatura a deputado estadual em 2026. Ele ainda é considerado um nome com influência na Alerj, outro espaço em disputa entre os dois grupos.

Momento delicado

O rompimento entre Motta e Lindbergh foi anunciado pelo próprio presidente da Câmara, na segunda-feira, em declaração ao jornal "Folha de S. Paulo". Segundo interlocutores, Motta considera que o líder do PT atua de forma errática, não entrega votações prometidas e tenta atribuir ao comando da Casa responsabilidades que são da própria articulação do Palácio do Planalto.

O líder do PT reagiu e abordou a rusga em seus perfis nas redes sociais. Lindbergh disse que, se “há uma crise de confiança na relação entre o governo e o presidente da Câmara, isso tem mais a ver com as escolhas que o próprio Hugo Motta tem feito”. Ele criticou a forma como Motta conduziu temas como a PEC da Blindagem, aprovada pela Câmara e depois enterrada pelo Senado após forte pressão popular; e a escolha do bolsonarista Guilherme Derrite (PP-SP) como relator de um projeto do governo para combater facções criminosas.

A desavença entre Motta e Lindbergh ocorre em momento delicado para o governo Lula. No mesmo dia, o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), sinalizou seu rompimento com o líder do governo na Casa, o senador Jaques Wagner (PT-BA), por discordâncias envolvendo a indicação do ministro da Advocacia-Geral da União, Jorge Messias, para o Supremo Tribunal Federal. Alcolumbre, que defendia a escolha do também senador Rodrigo Pacheco (PSD-MG), se irritou com a atuação de Wagner em prol de Messias.