Flávio Bolsonaro vai dialogar com STF e oposição se for eleito, diz Tarcísio
O discurso de moderação do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) sugere que ele estaria disposto a dialogar com o mercado, com governadores de oposição e até com o Supremo Tribunal Federal (STF), declarou o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), nesta quinta-feira, 18.
— Acho que o Flávio está procurando mostrar aí que é um cara que está aberto ao diálogo. Então, se ele for presidente da República, será um presidente que vai dialogar, por exemplo, com governadores de oposição, não só com a situação, que vai dialogar com o Congresso, que vai dialogar com o Judiciário — afirmou o governador.
Em seguida, incluiu a cúpula da Justiça brasileira na conta:
— Ele está dizendo o seguinte: estou pronto para dialogar, vou conversar com o Supremo, com o mercado, quero ter uma linha na economia como a do Paulo Guedes. Ele está dando as diretrizes e acho que isso tem sido bem recebido, tem sido positivo — concluiu Tarcísio.
Flávio, anunciado como candidato a presidente com apoio do pai, o ex-presidente Jair Bolsonaro, exibe um histórico de declarações contrárias a membros da Corte, em especial o relator do processo da trama golpista, Alexandre de Moraes. Em setembro deste ano, durante ato em Copacabana, no Rio, o senador disse que o julgamento do pai era "uma farsa, um teatro" e que o magistrado estaria aplicando uma "pressão covarde" em líderes do Congresso.
Meses antes, em outra manifestação bolsonarista, Flávio defendeu o fim do "alexandrismo" e que agiria com uma "certa vingança" ao conduzir os inquéritos que levaram à condenação do pai a 27 anos e 3 meses de prisão por liderar uma organização criminosa que tinha como objetivo assassinar o presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), e dar um golpe de estado para continuar no poder.
— Rasgando a nossa Constituição sem processo legal, sem ampla defesa, sem contraditório. É uma pressa para que se concretize uma certa vingança. Isso não tem espaço na nossa democracia, esse alexandrismo tem que acabar — afirmou à época.
Recentemente, o senador também passou a classificar como "sentença de morte" a permanência de Jair Bolsonaro em uma cela na superintendência da Polícia Federal, em Brasília, alegando problemas de saúde e necessidade de cuidados especiais.
Flávio tenta se posicionar como o representante mais moderado da família Bolsonaro depois de o anúncio da candidatura causar um impacto negativo na B3 e elevar imediatamente o dólar ao maior patamar desde agosto. A decisão contrariou ainda lideranças de partidos de centro e direita, que ensaiavam um apoio ao projeto presidencial de Tarcísio, além de figuras do bolsonarismo como o pastor evangélico Silas Malafaia.
Tarcísio declarou apoio à candidatura de Flávio, mas apenas três dias depois de a informação vir à tona. Ele também deixou claro, em entrevista coletiva, que ele não deve ser capaz de unir a direita em direção a uma candidatura única, dizendo que ele se junta a "outros grandes nomes da oposição" como os governadores Romeu Zema (Novo), de Minas Gerais, Ronaldo Caiado (União Brasil), de Goiás, e Ratinho Júnior (PSD), do Paraná.
O meio político ainda observa com desconfiança a ação de Bolsonaro, mas Flávio tem se empenhado em demonstrar que a perspectiva de ir às urnas é para valer. Desde semana passada, tem buscado encontros de relacionamento com empresários e gestores da Faria Lima. Quem tem o auxiliado, porém, não é uma pessoa diretamente ligada a Tarcísio, e sim Filipe Sabará, ex-secretário de João Doria e um dos responsáveis por coordenar a campanha de Pablo Marçal a prefeitura de São Paulo, no ano passado.
Na noite de ontem, Flávio apareceu em um evento de mentoria do influenciador, que é desafeto de Tarcísio e do prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), e foi declarado inelegível pelo Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo (TRE-SP) por uso indevido dos meios de comunicação ao promover "campeonatos de cortes" com seguidores na internet. Ao levar o senador ao palco, Marçal afirmou que passará a atuar em favor do projeto eleitoral e conduziu uma oração coletiva.
— Ele é o Bolsonaro que a gente sempre sonhou — disse o novo aliado.
A fala de Tarcísio ocorreu ao término de um evento de balanço do ano no Palácio dos Bandeirantes, sede do Executivo paulista. O governador falou por mais de uma hora e meia no palco, enfileirando números e projetos. Entre os destaques, a "Tabela SUS Paulista", que remunera as instituições de saúde acima do valor-base repassado em nível federal para atendimentos e cirurgias da rede pública, e o andamento das obras do metrô, do Rodoanel Norte e o monotrilho da Linha 17-Ouro.
O governo do estado passou a adotar um slogan que fala sobre "fazer o impossível" e coloca nessa conta o fim da Cracolândia, referindo-se ao juntamente de usuários no centro da capital paulista. Tarcísio encerrou o evento ressaltando que a política tem sido conduzida com "três anos de superávit fiscal", em mais um aceno liberal que atinge o governo Lula e a condução econômica do ministro da Fazenda, Fernando Haddad.
