Flamengo precisa ser camelão para superar três esquemas distintos na busca pelo título do Intercontinental
A ansiedade da estreia na Copa Intercontinental passou e agora o Flamengo precisa reconfigurar seus esforços para enfrentar o Pyramids hoje, às 14h (horário de Brasília), pela semifinal do torneio da Fifa. A busca pelo título envolve um caminho em que o rubro-negro precisará apresentar faces distintas nos três jogos possíveis. Após superar um Cruz Azul espelhado e antes de pensar no imponente Paris Saint-Germain na final, o duelo com os egípcios exigirá criatividade.
O jovem clube formado há sete anos no Cairo faturou sua primeira Liga dos Campeões da África em junho, e vê um projeto emergente começar a colher frutos. Na realidade egípcia, a equipe é uma das protagonistas, rivalizando com o tradicional Al Ahly por títulos e convocados na seleção do país. Ou seja, costuma gostar de ter a bola e se impor.
Mas não vê problema em ser a equipe reativa e das transições quando enfrenta um adversário de nível superior, como é o Flamengo. O elenco do Pyramids conta com jogadores rápidos e letais quando acionados em contra-ataques. O principal é o atacante congolês Fiston Mayele, que fez os três gols da vitória por 3 a 1 sobre o Al Ahli, da Arábia Saudita, na fase anterior da competição, em setembro.
Quando venceu o Cruz Azul na última quarta-feira, o Flamengo teve pela frente um time com a mesma proposta de tocar a bola com paciência e construir as jogadas desde o goleiro e o zagueiro. Foram precisos momentos de ceder a bola ao adversário e trabalhar mais na pressão alta, estratégia que fez Arrascaeta abrir o placar — alternativa necessária pela quantidade de jogos (76) feitos nesta temporada. No segundo tempo, bons ajustes e alterações de Filipe Luís fizeram a equipe prevalecer e encontrar o gol da vitória, novamente com o uruguaio.
Hoje, a tendência muda bastante. É o Flamengo que vai ter a posse de bola e a responsabilidade de furar a defesa adversária. Ao mesmo tempo, é preciso ficar atento com os contragolpes de um adversário menos desgastado fisicamente e muito menos valioso.
Segundo o Transfermarkt, o elenco do Fla vale 186,5 milhões de euros (cerca de R$ 1,18 bilhão), oito vezes mais que o do Pyramids: 23,4 milhões de euros (R$ 148 milhões). O jogador mais caro dos egípcios é o atacante brasileiro Ewerton Silva, comprado do Baník Ostrava (República Tcheca) no fim de julho, por 2,8 milhões de euros (cerca de R$ 18 milhões).
— Depende do jogador, como ele chegará, a confiança, ousadia e criatividade na frente. Não tenho dúvida de que, se acelerarmos o jogo de qualquer maneira, nossa equipe vai sofrer. Não é um jogo que nos convém. Existem vários jogos que foram assim no ano e nos dão o caminho traçado sobre como vai ser no campo — projetou Filipe Luís em entrevista coletiva ontem. — Eles são muito fortes, eles podem correr muito tempo, eles nunca ficam cansados. É por isso que é muito difícil ganhar as partidas.
Há três dias, o treinador falou em “sacrifícios” no torneio de tiro curto, mas o tempo de recuperação não foi o ideal para alguns jogadores como Léo Ortiz, que voltou a jogar após um mês e meio, e deve descansar, dando lugar a Danilo.
É possível haver mais mudanças pontuais no time titular. O ataque tem disputas em aberto, já que Cebolinha, Plata e Luiz Araújo entraram bem no segundo tempo. Até mesmo Pedro voltou a treinar parcialmente com o grupo e está sendo trabalhado para receber minutos nesse torneio. Se não entrar contra o Pyramids, pode ser utilizado em uma eventual final contra o PSG.
Encarar os franceses campeões europeus pela taça na quarta-feira é o grande objetivo de todos os envolvidos no Intercontinental. Em caso de classificação, o rubro-negro pode optar por fazer um jogo mais defensivo e pautado em contra-ataques para competir com uma das melhores equipes do mundo. Esta seria a terceira face de um torneio que obriga o Flamengo a ser um camaleão em campo.
Lições da Copa do Mundo de Clubes
Na Copa do Mundo de Clubes, nos EUA, o rubro-negro teve experiências distintas contra a elite europeia: conseguiu se impor e vencer o Chelsea na fase de grupos, mas não teve o mesmo sucesso quando foi eliminado pelo Bayern de Munique, que se aproxima mais do modelo de jogo do PSG. Em um confronto como esse, uma possibilidade seria se inspirar na vitória do Botafogo contra os próprios franceses, em uma amostra de solidez defensiva e letalidade no ataque.
— A grande dúvida é se o Filipe Luís vai montar o time para jogar contra o PSG da mesma forma que fez contra o Bayern de Munique, de peito aberto ou, desta vez, tomará algumas precauções. Sinceramente, não acredito que será diferente agora, porque o time jogou o ano todo assim, tentando se impor em todas as partidas — ressalta Rodrigo Coutinho, comentarista do Grupo Globo.
