Filha de ex-deputado morto a facadas diz que irmão 'não sabe o que fez' e sofre com problemas psiquiátricos
Familiares de Paulo Frateschi, 75 anos, ex-deputado estadual do PT morto a facadas pelo filho, Francisco Frateschi, 34, disseram que o agressor sofre de problemas psiquiátricos e ainda "não sabe o que ele fez". De acordo com testemunhas, ele teria atacado os pais em um episódio de surto na residência deles no Alto da Lapa, em São Paulo.
— O Chico nunca levantou a voz para uma pessoa, nunca bateu numa pessoa. Por onde o Chico passou, ele levou alegria e amor. Ele tinha um carinho imensurável pelo pai. O que o Chico teve foi uma doença, ele está doente. Ele não sabe o que ele fez. É uma doença psíquica e a gente tem que saber lidar com isso — afirmou Yara Frateschi, uma de suas irmãs.
De acordo com ela, Francisco segue internado e ainda não voltou à realidade. A conversa com jornalistas ocorreu rapidamente durante o velório de Paulo Frateschi nesta sexta-feira, 7, na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo (Alesp), que teve a presença de petistas históricos.
— Ele não é um monstro, o que não significa que a gente não esteja, e por isso mesmo, sofrendo uma dor imensa. Ele está sendo cuidado, não está ciente de nada, ele não voltou. Está internado e tem um processo que mesmo a gente não tem acesso inteiro, mas ele está devidamente cuidado, tanto do ponto de vista jurídico quanto médico. A coisa está andando e eu só posso dizer o seguinte: ele não sabe o que ele fez.
Francisco atingiu o pai nos braços e no abdômen e também atacou a mãe, Yolanda Maux Vianna, que quebrou o braço durante a briga. Paulo teve uma parada cardiorrespiratória, foi levado ao Hospital das Clínicas da USP, mas não resistiu aos ferimentos. A Polícia Militar atendeu a ocorrência e prendeu o jovem em flagrante, que agora responde por homicídio e lesão corporal. Ele é oceanógrafo e mora em Paraty, no Rio de Janeiro.
O relato de surto é corroborado por policiais. Em entrevista à TV Record, o tenente-coronel Helder Antonio de Paula disse que a PM foi acionada por vizinhos às 8h30 desta quinta depois de avistarem o rapaz fora da residência com manchas de sangue nas roupas. Ele estaria agitado desde 6h da manhã, quando era possível ouvir gritos, em um episódio descrito como "surto psicótico".
— Na sala, encontraram a irmã caída, em estado de choque, a mãe chorando ao lado do corpo, a vítima ao solo, sangrando de forma abundante, e o agressor de pé, dentro da sala, falando frases desconexas e se portando de forma violenta — declarou ele. Em princípio, foram quatro golpes de faca, e o suspeito foi algemado. A polícia científica realizou ontem uma perícia no local do crime.
Professor de formação, Frateschi foi um dos fundadores do PT e teve a vida dedicada à militância do partido. Foi preso e torturado em 1969, durante a ditadura militar, quando fazia parte da Aliança Libertadora Nacional (ALN), uma organização da luta armada contra o regime. Eleito deputado estadual em 1982, ele foi um dos mais atuantes na campanha "Diretas Já". Ocupou ainda cargos de direção no partido, quando houve a ascensão petista com o presidente Lula, e foi secretário de Relações Governamentais da prefeitura de São Paulo durante o mandato de Fernando Haddad.
O ex-deputado já havia enfrentado antes duas tragédias familiares. Em 2002, perdeu o filho Pedro, de 7 anos, em um acidente na rodovia Carvalho Pinto, em Guararema, interior de São Paulo. Um ano depois, em 2003, o filho Júlio, de 16 anos, também morreu em um acidente de carro na rodovia Rio-Santos, entre Paraty e Angra dos Reis, no Rio de Janeiro. Ele será enterrado às 15h30 no Cemitério Memorial Parque Jaraguá, na zona norte da capital paulista. Deixa esposa, irmãos, filhos e netos.
